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Monforte da Beira reaviva chama do São João

José Furtado - 01/07/2022 - 22:21

VÍDEO Percurso a cavalo pelas ruas da aldeia voltou a cumprir-se, num ritual que celebra a fé e a união do povo.

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Percurso a cavalo é um dos momentos altos da tradição. Foto Pedro Mendonça

O relógio da torre ainda não marca as 22 horas e já o sino toca repetidamente, a anunciar o que aí vem. Nas ruas de Monforte da Beira os moradores ultimam a preparação das fogueiras e estão de fósforos na mão à espera de ouvir o som do tambor e de ver o laranja das chamas no horizonte. Em alguns casos a impaciência é muita e há falsas partidas. “Calma aí, que ainda é cedo!”, ouve-se numa das ruas quando ali bem perto já há pequenos montes de paus e erva seca em chamas. Não demora muito até que o rapaz do tambor passe a correr e o som que chega do instrumento seja rapidamente substituído pelo bater dos cascos dos cavalos na calçada. A noite de 23 de junho é feita destes e outros pormenores, que juntos constituem o ritual da celebração do São João Batista nesta aldeia do concelho de Castelo Branco. O santo popular está representado no estandarte que passa de mão em mão a cada ano mas que nos últimos três, devido à pandemia, esteve ao cuidado da mesma família.
Vítor Barreiros assumiu o papel de alferes, nome dado ao organizador da festa, como promessa pela intervenção divina num problema de saúde da mulher. “Já tinha feito a promessa e como tudo correu bem dei o São João”, diz em conversa à porta da casa da família, onde o estandarte ficou em exibição. A devoção não é palavra vã nesta tradição e está escrita junto ao coração, nas camisolas que os festeiros levam.
Vítor estreou-se como alferes mas teve a ajuda preciosa da irmã, que por três vezes desempenhou a tarefa. A mãe, que já faleceu, também o tinha feito e foi na casa dos pais que o estandarte ficou colocado à janela, de onde sai para fazer a ronda a cavalo pelas ruas da aldeia, acompanhado de outros cavaleiros. 
“Esta é a festa que tem mais significado para o povo de Monforte”, diz Manuela Nunes. O que as palavras transmitem fica claro nas ruas, onde se percebe que estão os que vivem na terra mas também aqueles que regressam a casa para dar vivas ao São João Batista e ao povo de Monforte. Vítor também foi obrigado a sair para encontrar uma oportunidade em Castelo Branco “mas nunca esquecemos as nossas raízes”. Nas últimas semanas ele e a família desdobraram-se em tarefas para que tudo corresse bem e as responsabilidades são muitas, mesmo parecendo simples. “Estivemos uma semana a fazer broas para o povo”, dá como exemplo. Valeu-lhe a ajuda preciosa da irmã, mais batida na organização, e o apoio que chegou da Junta de Freguesia de Monforte da Beira e da Câmara Municipal de Castelo Branco. Sem essa ajuda corre-se o risco de a tradição se perder, numa terra que também é atingida pelo despovoamento. “Para um festeiro isto é um encargo muito grande e se não houver família e pessoas que ajudem esta festa não se faz”. 
A festa tem ainda a particularidade de o arraial se fazer à porta da casa do alferes e este ano foi junto à igreja matriz. Por esta altura, o estandarte que a família Vítor e Manuela conservaram com devoção passou para as mãos do alferes novo, que lhe irá dar continuidade.


 

 

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