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Andamos a cavar a nossa sepultura

Florentino Beirão - 25/11/2021 - 9:41

Ao longo deste mês, decorreu na Escócia, em Glasgow, a Cimeira do Clima da ONU - a COP 26 - juntando cerca de 200 países. Ao longo das duas semanas em que decorreu, muitos alertas se ouviram, nomeadamente de numerosos jovens que, por todo o mundo, clamaram por medidas eficazes para se reduzirem as emissões de gazes, com efeito de estufa. Tratou-se de mais um grande momento de sensibilização a favor da saúde do nosso Planeta doente. As conclusões desta Cimeira provocaram alguma desilusão e deceção, devido aos fracos compromissos obtidos.
Como sabemos, o modo de vida que fomos capazes de construir, após a revolução industrial do séc. XIX, conduziu-nos a um beco sem saída, relativamente à destruição progressiva do nosso Planeta, devido aos maus tratos a que foi sujeito, devido às alterações climáticas e ao aquecimento global, objetos de estudo de milhares de cientistas. Os estudos efetuados revelam-nos que a temperatura média da Terra se encontra hoje a 1,2 º C, acima do nível pré-industrial. Evidencia-nos ainda que a tendência para subir ainda mais, se deve sobretudo ao aumento de emissões de dióxido de carbono (CO2) de origem humana.
Estas conclusões foram reveladas por dois cientistas que receberam o prémio Nobel da Física e da Climatologia Syukuro e Klaus. Já nos anos 60 e 70, estabeleceram as bases que hoje nos permitem compreender melhor o fenómeno do aquecimento global do Planeta e as devastadoras consequências já conhecidas.
O custo de hoje vivermos melhor do que os nossos antepassados - a vida moderna trouxe-nos modos de vida nunca antes experimentados antes da Revolução Industrial - o certo é que toda esta evolução material provocou um enorme custo nas alterações climáticas do Planeta as quais ainda poderão vir a piorar.
Consciente desta realidade, o antigo Presidente dos Estados - Unidos Barak Obama deslocou-se também a esta Cimeira para juntar a sua voz à dos jovens, apelando para que “continuem zangados, que fiquem frustrados, mas que canalizem essa raiva e usem essa frustração para insistir, por mais e mais, porque é preciso para vencer este desafio”.
Na mesma linha, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, de um modo realista, avisou nesta Cimeira que, a continuarmos por este caminho, estaremos “a abrir a nossa própria sepultura”.
Por sua vez, o Papa Francisco, também já nos havia alertado na sua segunda Carta Encíclica de 24.05.2015 “Laudato Si” - sobre o cuidado da casa comum - para “o crescimento desmedido e descontrolado de muitas cidades que se tornaram pouco saudáveis para viver, devido não só à poluição proveniente de emissões tóxicas mas também ao caos urbano, aos problemas de transporte e poluição visiva e acústica” (n.º 44). 
Perante esta constatação, urge mudar de vida, fazendo opções individuais e políticas rápidas e eficazes, se queremos inverter as causas perniciosas que nos trouxeram até aqui. Um caminho que fomos percorrendo irracionalmente e que nos conduziu, como seres humanos, a um possível apocalipse. O Planeta, certamente continuará, mas sem os humanos, seus assassinos.
O Nobel Husselman, por sua avisa-nos: “ o mais urgente é uma ação que contrarie as mudanças climáticas. Há muitas coisas que podemos fazer para as prevenir. É uma questão de as pessoas perceberem que temos de responder agora a algo que vai acontecer daqui a 20 oun30 anos, sendo este o principal problema”.
É certo que já, anteriormente, houve alguns Acordos sobre a problemática do clima, nomeadamente o de Paris, em2015. Porém, as metas que aí foram acordadas, de se vir a atingir 1,5º C, são hoje praticamente impossíveis de alcançar, uma vez que os medíocres compromissos assumidos nesta Cimeira na Escócia provocarem sentimentos de alguma desilusão. Acresce ainda que os gigantes da poluição do Planeta - a China e a Rússia - nem sequer puseram um pé em Glasgow. O mesmo aconteceu com o nosso primeiro-ministro António Costa que apenas se fez representar.
Sabendo nós, por um recente relatório das Nações Unidas, “que os efeitos das alterações climáticas serão mais rápidos e mais intensos do que o esperado”, não podemos ficar à espera que a tormenta passe, mas urge inverter os nossos hábitos e promover medidas globais, fortes e sustentadas, antes que seja tarde. Um certo pessimismo climático de hoje deve dar origem a uma Esperança responsável que o Planeta e os vindouros merecem. Jamais cavar a nossa sepultura.
florentinobeirao@hotmail.com

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