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Pais em tempos de crises: É possível educar para as situações de fracasso?

Mário Freire - 17/08/2017 - 10:02


Enzo Bianchi é um ensaísta italiano que estudou Economia na Universidade de Turim. Durante os seus anos de universidade fez amigos de diversas confissões religiosas. Eles formaram um grupo que estudava a Bíblia e, à luz do Concílio Vaticano II, tentaram redescobrir uma nova vida cristã, radical, baseada no Evangelho. Estas experiências conduziram Bianchi, simples leigo, a uma vida monástica. Retira-se, então, para Bose, no Piemonte, norte de Itália, em 1965, para viver a solidão e praticar a reflexão. Entretanto esta sua experiência torna-se conhecida e a ela começam a aderir outras pessoas, católicas e protestantes, passando a ter uma vida comunitária. Bianchi dedica o seu trabalho quer à pregação em igrejas católicas, protestantes e ortodoxas, quer à escrita de livros e em jornais italianos e de outras nacionalidades. 
Ora, num texto com data já deste ano, ele refere-se ao fracasso como sendo uma palavra proibida no léxico da sociedade. Os pais, e com razão, pretendem que os seus filhos tenham sucesso. A escola, naturalmente, preocupa-se com o sucesso dos seus alunos. A sociedade cada vez mais privilegia os que têm êxito, qualquer que seja o ramo onde ele se afirme. Mas, pergunta-se, na vida não há fracassos? Ora, as fragilidades são inerentes à existência humana. E estas estão, muito frequentemente, na origem dos nossos fracassos! Diz Bianchi: “Pode por isso fracassar-se na vida (…), pode chegar-se ao pensamento de uma vida perdida, de uma vida que não foi capaz de salvar-se. (…) A única certeza é que o silêncio que envolve o fracasso e a queda os preserva de se dispersarem no nada.” Ele diz ainda que “as grandes palavras como esperança e confiança (…) parecem proibir a possibilidade de ler um acontecimento ou a própria vida como um fracasso”.
Perante estas palavras, pergunta-se se, na família (ou em qualquer outro lugar), é possível educar para as situações de fracasso? Ora, ao contrário deste mestre, penso que o fracasso e a queda não podem envolver-se no silêncio mas é, precisamente, no incutir da confiança em si próprio, naquele que fracassou, na análise dos factos que conduziram à queda, e na esperança de que outros caminhos podem ser encontrados, que o renascer pode ser possível. Só então, depois destes exercícios serem feitos por aquele que fracassou, pode dizer-se com Bianchi: “nasce-se e renasce-se, cai-se e levanta-se, recomeça-se sempre: o protagonista não sou eu.” 
freiremr98@gmail.com

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