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A crónica do Tomé: Acho que a tua mulher não vai acreditar

Vitor Tomé (vtome@autonoma.pt) - 23/02/2023 - 10:09

A primeira crónica de 2023 leva-nos ao muro de Berlim, com passagem por Estocolmo, Lisboa, Paris e Estrasburgo.

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A primeira crónica de 2023 leva-nos ao muro de Berlim, com passagem por Estocolmo, Lisboa, Paris e Estrasburgo.

Do edifício ‘Agora’, do Conselho da Europa, ao outro lado da Allée des Droits de l’Homme, em Estrasburgo vão, pelo menos, 56 passos de distância, cerca do dobro dos anos em que estiveram de pé os 155 quilómetros do muro de Berlim, que dividiu o Bloco Soviético do Ocidental entre 13 de agosto de 1961 e 9 de novembro de 1989.
Quatro fatias desse muro, com os 4,20 metros de altura projetados, jazem no outro lado da Allée des Droits de l’Homme, no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, onde se faz justiça àqueles cujos direitos mirraram em tribunais de países europeus, como é o caso de Portugal, país cuja liberdade se defendeu com cravos, mas que deixou, entretanto, maltratar margaridas.
Talvez, e também por isso, tenha tido, de 24 a 26 de janeiro, a oportunidade de me cruzar quatro vezes com as quatro fatias do muro de Berlim, em Estrasburgo, como a foto documenta, desta vez na companhia do meu camarada Brian O’Neill, que é, apenas, um dos maiores especialistas mundiais na defesa dos direitos de crianças e jovens.
E o frio meus amigos? Um gelo! Valeram as refeições quentes da cantina do Tribunal, pois no ‘Agora’, no outro lado da rua, onde costumamos trabalhar, apenas existe cafetaria. O frio não foi, porém, novidade neste mês de janeiro, que começou em Estocolmo, na Suécia, paredes meias com o Kungliga slotten, o Palácio Real do monarca Carl XVI Gustaf, no Gamla Stan, o bairro mais animado da cidade.
Ali perto, e já no primeiro dia de 2023, tomei, espero eu, a bebida mais fria do ano, no Ice Bar, em Estocolmo. Vodka para mim, em copo de gelo. Vodka para os amigos e para a Mónica, que nos permitiram que os acompanhássemos em tão distinta e significativa viagem. Sabe Deus e dois dos nossos distintos amigos porquê!
E de Estocolmo a Lisboa foram dois passos, ou mais, e cinco horas de distância, para um voo anunciado de quatro horas, que não atrasou no chão, mas no ar. Fica isso, porém, para a TAP explicar. O assistente de bordo ainda disse que estávamos a ler mal o tempo de viagem no bilhete… emitido pela TAP. Mas não!
Na verdade, os voos da TAP mais parecem, agora, autocarros, em cujos percursos se vendem sandes e cafés, mas neste caso a peso de ouro. Pior que isso foi o início de voo, em que uma passageira se recusou a tirar a loiça que tinha em sacos de plástico nos compartimentos superiores, para que os passageiros pudessem colocar as suas malas. E assim ficámos!
Mas como não sou de me ficar, na viagem seguinte, para Estrasburgo, via Paris, troquei, com muita pena minha, a TAP pela Air France. Saí mais cedo, sim. Mas com outro conforto. Chegado a Charles de Gaulle, às 8h30 locais, rumei à Gare do TGV. Comprei uma salada e uma dose de vinho, pelo que o almoço ficou garantido.
Garantido ficou o meu vizinho espanhol, que me precedia na fila: uma salada e quatro garrafinhas de vinho, que consumiu ao pequeno-almoço. Ainda me questionei, mas depois desculpei-o. “Deve ter vindo na TAP”, pensei eu. E, três horas de trabalho depois lá rumei a Estrasburgo, sem saber ainda que iria encontrar fatias do muro de Berlim.
Como é habitual, o trabalho ali foi duro e com pouco espaço para passeios ou visitas. Apenas tive oportunidade de fazer uma foto da Catedral e de a enviar ao meu amigo Simão Diamantino, via Facebook. Mas, já a 25, ao final do dia, mudávamos nós do elétrico E para o F, digo eu ao Brian:
- Olha, envia-me a foto que o nosso camarada Nezyr Akyesilmen nos tirou junto ao muro de Berlim.  Vou dizer à minha mulher que, afinal, não vim para Estrasburgo, mas sim para Berlim. E que te encontrei aqui, por acaso. E que vamos beber uma imperial. Ou duas!
Ao que o Brian respondeu, com o sorriso irlandês que caracteriza o meu amigo:
- “Acho que a tua mulher não vai acreditar nisso”.
Então e não é que tinha razão!

Vitor Tomé
(vtome@autonoma.pt)

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