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A crónica do Tomé : Pode dar-me 10 milhões de euros sff?

Vitor Tomé - 29/12/2022 - 10:27

A crónica de novembro acaba a 1 de dezembro, em Proença-a-Nova, mas tem referências a Bruxelas, Nova Iorque, Caneças, Lisboa, Castelo Branco e Addis Abeba, na Etiópia.

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Cheguei à Casa Pia de Lisboa, na Rua dos Jerónimos, perto das 10h50 de 23 de novembro, para cumprir uma promessa feita ao meu amigo João Louro, diretor dos Serviços de Comunicação da instituição e um exemplo ímpar do que é um ser humano. A minha tarefa consistia em falar de como podem ser usadas as redes sociais para promover o ensino profissional, por parte dos jovens que ali o frequentam. Dei o meu melhor, mas o melhor veio depois.
Aproximou-se o Tiago: “Olá Vitor. Viajámos juntos, de Leiria para Lisboa, em 2018. Falaste nos Encontros de Comunicação da ESEC de Leiria e eu estava a assistir. Depois calhámos, um ao lado do outro, no expresso para Lisboa”. E veio-me à memória a batida frase “o mundo é pequeno”. O Tiago era bolseiro em Leiria. Estava a um passo de trabalhar na Casa Pia. Quatro anos depois ainda se lembra da minha intervenção e da viagem graças a um bilhete que o Paulo Agostinho, da Lusa, conseguiu nos últimos minutos. Não merecia eu tanto, nem que uma jovem da idade das minhas filhas me perguntasse, antes de eu sair: “Professor, que universidade me aconselha?”, ao que eu respondi: “Aquela que esteja mais focada no que os alunos aprendem e menos nas notas que os professores lhes atribuem”. Isso levou a mais cinco minutos de conversa que não cabem agora aqui.
Mas o que cabe em cinco minutos? Um mundo, diria eu! A título de exemplo, graças às tecnologias e aos compromissos em Portugal, tive este mês 10 minutos de palcos internacionais: cinco minutos numa reunião de especialistas da Comissão Europeia, em Bruxelas, para explicar o que o projeto Iberifier (que junta 23 entidades da Península Ibérica no combate à desinformação) tem feito na área de Literacia dos Media; e cinco minutos para abordar estratégias de combate à desinformação, em representação do Conselho da Europa, na conferência Internet Governance Forum 2022, em Addis Abeba, na Etiópia.
Foi importante? O trabalho, sim. O facto de ser eu o porta-voz, só se o for para mim. Mas partilhar e aprender com os outros é, afinal o que mais importa nesta vida, que é curta! Estou eu na idade em que meio século pareceu uma semana, em que partem pessoas que fizeram parte da nossa vida, como o ex-presidente da Câmara de Proença-a-Nova, Diamantino André, que partiu aos 82 anos. Nunca privei com o tenente-coronel e tivemos vários desaguisados. Era ele autarca e eu jornalista a tempo inteiro. Mas guardo antes os momentos de paz!
Morava eu em Castelo Branco, onde a vida pula e avança. O meu vizinho de infância, Francisco Gomes, é o novo presidente da Associação do Bairro do Cansado. Devo-lhe uma visita, tal como já devia a Proença-a-Nova e ao meu amigo “Luís do 21”, mais conhecido por “Boss” (na fotografia). E aqui estou, onde escrevi grande parte do livro “Empowering Communities with Media Literacy - The Critical Role of Young Children”, que assino com a Belinha de Abreu, e que foi publicado este mês pela Peter Lang New York. Conta a história de um projeto de investigação em Caneças, norte de Lisboa, entre 2015 e 2022, o qual vai continuar, pelo menos, até final de 2023.
É uma obra daquelas, que deu trabalho e me fez cansado como o bairro onde nasci. Mas que valeu a pena. Uma pena, duas, ou mais, valeram também, primeiro as caminhadas e, depois, as corridas que fiz entre em novembro, interrompidas por uma lesão no joelho esquerdo, a 25, dia de aulas na UAL, até às 22h30, sendo que a recomendação apontava para ficar em casa. Mas fui à Universidade!
Às 17h55 cheguei, cansado, a coxear, ao quiosque do Metro no Marquês, na saída para a Avenida e, uns segundos depois, entre um sorriso e um olhar surpreendido, ouço a seguinte resposta do simpático senhor que ali costuma estar às sextas: “Faz muito bem em pedir. Nós estamos cá é para isso”. Foi quando percebi que, em vez de lhe ter dito: “Pode dar-me 10 euros de Euromilhões, sff?”, tinha acabado de lhe dizer: “Pode dar-me 10 milhões de euros, sff?”.
Vitor Tomé
(vtome@autonoma.pt)

 

COMENTÁRIOS

JMarques
à muito tempo atrás
M. Sousa Refoios.