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Leitores: A crónica do Tomé. Estava a ver que não!

Vitor Tomé - 31/03/2022 - 9:10

Desafiou-me o Júlio Cruz para escrever uma crónica mensal no Reconquista. Disse-lhe logo que sim! Esta vossa casa, caros leitores, é também a minha. Desde 1997.

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Desafiou-me o Júlio Cruz para escrever uma crónica mensal no Reconquista. Disse-lhe logo que sim! Esta vossa casa, caros leitores, é também a minha. Desde 1997. Mas o que escrever, com cadência mensal? Segui o instinto: dizer a verdade, mantendo o bom humor. Aqui vai… a crónica de março. Três episódios selecionados, de ponta Delgada, nos Açores, a Pristina, no Kosovo, passando pelo Porto, no Porto.
Cheguei ao Porto, a 23 de março, para moderar uma sessão online com a Juliane von Reppert-Bismarck, a CEO do projeto Lie Detectors, que venceu o European Digital Skills Award, da Comissão Europeia, em 2018. Junta 250 jornalistas europeus que treinam alunos na verificação de informação, compreensão de notícias e na tomada de decisão informada. “Cada cidadão deveria dominar as técnicas jornalísticas de verificação de factos. Isso é que seria o ideal para combater a desinformação”, afirmou a Juliane no debate que moderei, no “Master Media and information literacy and digital citizenship & MeLCi Lab”, da Lusófona do Porto.
Se cada cidadão soubesse analisar criticamente a informação, e as suas fontes, validando-as, teríamos um mundo melhor e menos a andar em rebanho. É certo que, como lembraria Melanie Klein, “quem come do fruto do conhecimento é sempre expulso de algum paraíso”. Mas, que importa isso, quando podemos, através da Educação para os Media, fazer algo que Margaret Mead sabiamente resumiu assim: “As crianças devem ser ensinadas como pensar e não o que pensar”. A frase tem o mesmo valor em relação a muitos adultos, arrisco eu a dizer!
A culpa disto tudo é da Maria José Brites, que é só a melhor investigadora portuguesa na área da Literacia dos Media. E é do Porto que vos levo a Pristina, no Kosovo, para onde dois aviões me levaram, e três me trouxeram, entre 9 e 11 de março. O objetivo era formar finalistas do Secundário, e os seus professores, em Educação para os Media, no âmbito de um projeto do Conselho da Europa, financiado pela Comissão Europeia.
Correu bem o trabalho, mas mal o turismo. Entrei no Hotel Sirius às 18 de quarta-feira e só saí na sexta, no táxi para o Pristina International Airport “Adem Jashari”. Aprendi muito! Não é todos os dias que temos a oportunidade de trabalhar com finalistas de inglês perfeito e ideias fora da caixa. Criámos projetos, debatemos e avaliámos o trabalho desenvolvido. Um vídeo, dos que levava no Power Point, não tinha o som à altura das velhas colunas disponíveis. Um dos jovens disse-me, à boca pequena, no final: “Vitor, correu bem! Mas, para a próxima, testa todos os materiais antes de vires dar a formação”. Ora toma!
Faltavam 12 minutos para o “meu táxi”, que apanhei a tempo e me levou ao destino. Mas nem sempre assim ocorre. No início de março cheguei a Ponta Delgada, São Miguel, Açores, para formar professores em Educação para os Media. O projeto, denominado ‘Literacia para os Media e Jornalismo’, é fantástico! Junta 150 jornalistas e professores de Ciências da Comunicação. Já formou mais de 250 docentes de todo o país. A culpa é da Sofia Branco, da Isabel Nery, do Miguel Crespo e de dezenas de outros camaradas que, em troca de nada, acreditaram na tarefa. Corria o ano de 2017.
Mas voltemos ao táxi. Chegado ao Aeroporto João Paulo II, e já depois de ter encontrado a ‘minha’ Mónica Gomes no avião, entrámos no táxi do Sr. Pavão. Disse o nome do hotel e atira a Mónica, de olhar fixo no telemóvel: 
- “Esse hotel é em Boston”, ao que o Sr. Pavão retorquiu, num açoreano perfeito:
- “Minha senhora, se eu não conhecesse o hotel, não arrancava!”.
E rimos! Ainda mais quando o Marco nos contou a história de um senhor abastado que chegou a São Miguel e lhe pediu para o conduzir a um hotel que… era noutra ilha, a 2000 quilómetros. “Eu disse-lhe que estava na ilha errada, mas ele só perguntou se eu sabia onde era e, quando disse que sim, atirou… “Just drive me there” [“Leva-me lá!”].
O Marco não o levou à ilha, mas levou-nos a nós, a um hotel muitos simples, no centro da cidade. Que sorte! Ou, como se dizia em Castelo Branco, no meu tempo, qual sinónimo da mesma expressão: “Que grande vaca”. Veio então uma tarde livre e lá fomos campos dentro, rumo às lagoas, a das Sete Cidades e a das Furnas. Como a minha filha Margarida adora animais, a Mónica pediu-me para fazer uma fotografia, de uma entre milhares de vacas que pastavam nos campos. Fiz a foto (juro-vos, pela memória da minha mãe, que é minha) e, quando a Mónica olhou para o telemóvel, disse-me que eu só tinha apanhado prado!
- “Não está lá a vaca?”, perguntei eu!
- “Está, mas quase não se vê”, respondeu ela.
Foi então que olhei, com olhos de ver, e percebi que tinha sido, na verdade, a vaca a vir ficar na fotografia. Mas eu, com aquele orgulho próprio da geração do meu ido pai, fechei assim:
- “Estava a ver que não!”

Vitor Tomé
vtome@autonoma.pt

COMENTÁRIOS

Eugénia Pedrosa
à muito tempo atrás
Sempre a considerar-te, Tomé. Precisava de ti aqui, em Sesimbra, para falares sobre "Literacia nos media" a uma universidade sénior!
Abraço,
Eugénia
JMarques
à muito tempo atrás
A foto só revela que a vaca é discreta.