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Viver é perceber se há realmente vida antes da morte

Vitor Tomé - 10/11/2022 - 10:53

A crónica de outubro acaba em novembro e com os pés no chão, apesar de ter referências a Aarhus, Coimbra, Granada, Bruxelas, Manassas, Castelo Branco e Proença-a-Nova.

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A crónica de outubro acaba em novembro e com os pés no chão, apesar de ter referências a Aarhus, Coimbra, Granada, Bruxelas, Manassas, Castelo Branco e Proença-a-Nova.
Reza a letra “Para ti Maria” dos Xutos que de Bragança a Lisboa são nove horas de distância, mas de Lisboa a Coimbra são só duas, de Intercidades. Parti do Oriente a 11 de outubro, às 18h39, e às 21 já estava a encomendar uma bifana ao balcão do Café Borges, junto ao Jardim Botânico. Era dia de jogo, do Benfica em Paris e, com cinco treinadores de bancada frente à televisão do exíguo café, o empregado indicou-me a esplanada, talvez para manter reservada a tertúlia. Sem sucesso, pois percebi que se o Roger Schmidt quer ganhar ao PSG, tem de ir, não a Fátima, mas a Coimbra! Ao Borges!
Sendo eu leigo em futebol, regressei ao hotel, pois o dia 12 começava antes das 8, a apresentar o modelo de cidadania digital do Conselho da Europa numa pré-conferência online da 9ª Conferência Europeia de Comunicação - ECREA2022, que este ano decorreu em Aarhus, na Dinamarca. Às 10 já eu caminhava para a Secundária Quinta das Flores, local do 2º Encontro Nacional Literacia para os Media e Jornalismo, organizado pela Direção-Geral da Educação.
Ali se debateu o futuro do projeto “Literacia para os Media e Jornalismo”, com docentes e alunos de vários pontos do país, que relataram projetos desenvolvidos com apoio de jornalistas, durante e além da pandemia. A fechar, de Los Angeles, o norte-americano Antonio Lopez explicou como pode a Literacia dos Media ajudar a combater as alterações climáticas.
A minha boleia de regresso a Lisboa terminou junto ao Estádio de Alvalade, em dia de jogo, do Sporting em Lisboa, mas não houve tempo para parar num qualquer café Borges. Como os Xutos, fui-me embora, correndo, não “p’ra ti Maria”, mas para a minha Mónica, para casa, onde a mala está sempre feita. Mala que levei, a 18, para Granada, Espanha, onde decorreu o I Seminário Internacional de Inteligência Artificial e Desinformação, antes da conferência anual do Iberifier - Observatório Ibérico dos Media Digitais e da Desinformação (cuja equipa está na foto).
Ali ficou claro que a desinformação vai crescer, por exemplo com narrativas que atribuem à União Europeia e à NATO a culpa de faltarem alimentos em África ou da crise energética. Urge assim preparar os cidadãos para distinguirem factos de mentiras, opiniões ideologicamente diferentes de desinformação, a qual é criada com o expresso objetivo de enganar e provocar dano. Além de verificar factos e desconstruir narrativas falsas, urge usar a inteligência artificial para impedir a disseminação de desinformação.
Ramón Salaverría, catedrático da Universidade de Navarra e coordenador do Iberifier, apontou o dedo às redes sociais digitais, as quais “foram anunciadas como uma Ágora e, afinal, revelaram-se um coliseu. Não devemos considerá-las espaços democráticos porque não são espaços democráticos”. Ideia que citámos a 28 de outubro, numa conferência online, organizada em Bruxelas.
Bruxelas que esteve na agenda de outubro três vezes. A segunda a 19, dia cheio vivido em Granada. Além da conferência na Universidade, houve tempo para participar em dois eventos: numa conferência sobre formação de docentes em Literacia dos Media, organizada pela Media & Learning, em Bruxelas; num debate sobre participação cívica e media, com a Belinha de Abreu, organizado pelo Portuguese American Leadership Council of the United States, com sede em Manassas, a uma hora de Washington DC.
Regressei a casa a 21, não num comboio azarado e atrasado, como sucedeu aos Xutos, mas num carro com vidros embaciados por avaria do ar condicionado. Avaria que persiste, mas que não impediu passagem por Proença-a-Nova em Dia de Finados, com almoço na Tasca do Raposo, em Castelo Branco. Tasca onde, em tempos, conheci o meu amigo Francisco José Batista (Zé Fininho) de cujo falecimento acabo de saber.
E vieram-me à memória os bons momentos na Tasca do Raposo. E que estou na mesma fila do Francisco José. E que, enquanto aí estiver, não quero parar de ir correndo, como os Xutos. Porque, como escreveu Gonçalo M. Tavares, inspirado num verso do poeta irlandês Seamus Heaney: “Viver é um pouco isto: tentar perceber se há realmente vida antes da morte”.


Vitor Tomé
(vtome@autonoma.pt)

COMENTÁRIOS

JMarques
à muito tempo atrás
Lembrança e saudade da Tasca do Raposo.
Encontro VT, HT e JM.