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A pobreza no país. Uma chaga social

Florentino Beirão - 21/12/2023 - 9:45

Caso inédito no nosso país, um primeiro - ministro demitir-se por ter sido público que está a ser investigado num inquérito que envolve suspeitas de corrupção.
Longas conversas têm preenchido os meios de comunicação social com este assunto. Não é caso para menos. De facto, o Ministério Público considera que António Costa pode estar envolvido em actos criminosos, no âmbito do inquérito “Operação Influencer” que, segundo o comunicado do gabinete da imprensa da Procuradoria – Geral da República,” investiga actos susceptíveis de concluir crimes de prevaricação de corrupção activa e passiva de titular de cargo político e tráfico de influências”.
Essa investigação levou à detenção do ex-chefe do gabinete do primeiro-ministro, Victor Escária que foi antes seu assessor económico e integrou o Gabinete de José Sócrates, enquanto primeiro-ministro. Estas investigações em curso irão decorrer nos próximos dias. Oxalá, a futura direcção do PS não deixe de reflectir sobre a transparência e cultura de práticas anti-corrupção.
Não refeitos destes episódios, eis que surge, lá para os lados de Belém, um novo episódio relacionado com o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. Trata-se do designado caso das crianças gémeas luso - brasileiras que procuraram no nosso país uma resposta adequada à solução de um grave problema de saúde no hospital de Santa Maria em Lisboa.
Como intermediário deste tratamento de quatro milhões de euros, aparece nesta história o filho de Marcelo, supostamente a interceder junto do pai, pelo tratamento destas crianças.
O problema da cunha e da corrupção veio logo para discussão pública, ocupando horas sem fim nas televisões que adoram casos como este.
Entretanto, o país prepara-se para, no próximo dia 10 de Março ir às urnas, após a demissão de António Costa e a dissolução do Governo e da Assembleia da República. Um cenário que ninguém imaginava que viesse acontecer. 
Com eleições à porta, o leilão de promessas, de tudo para todos, está na praça pública com os partidos a reclamarem o primeiro lugar nas generosas ofertas que incluem nos seus programas eleitorais. Só que ainda nada disto foi contabilizado para que tais generosidades sejam cumpridas após as eleições.
Empoladas tais promessas, o projecto do aeroporto pode esperar ainda mais alguns anos...
Acontece que os referidos acontecimentos políticos não têm permitido, até ao presente, colocar em lugar de relevo, como merece, a situação de pobreza com que se debate uma boa parte da população portuguesa.
Sabemos que, depois da diminuição registada em 2021, a taxa de risco de pobreza em Portugal, voltou a subir para os 17% em 2022, segundo o relatório do INE (Instituto Nacional de Estatística).
Ficámos ainda a saber que 81 mil pessoas vivem com rendimentos mensais líquidos, inferiores a 591 euros. Remata o mesmo relatório que pais pobres aumentam a transmissão da pobreza para os seus filhos.
Por sua vez, outro estudo, denominado” Pobreza e Exclusão Social em Portugal 2023” revela que um em cada cinco residentes em Portugal estava em risco de pobreza ou exclusão social, no ano passado.
Por sua vez, o recente Relatório Nacional de Luta Contra a Pobreza - Rede Europeia Anti-Pobreza, refere ainda que devido ao aumento de custo de vida e das taxas de juros, muitas pessoas estão a cair numa situação de pobreza. Recentemente, o mesmo foi constatado pelo Banco Alimentar contra a Fome em Portugal que constata que hoje, uma grande parte de pessoas que recorre a esta instituição provém da classe média. Um grupo que também merece ser destacado é o dos desempregados com uma taxa de 60,1%, em risco de pobreza ou exclusão social. 
Face a esta situação, o Governo de António Costa ainda conseguiu aprovar um Plano de Acção de Estratégias de combate à pobreza, até 2025. 
Por sua vez, o Presidente da República já pediu “novas abordagens contra a pobreza” de uma grande parte da população portuguesa.
  Sabe-se ainda que Portugal é o 7º país da UE com maior vulnerabilidade dos trabalhadores em risco de pobreza.
Face a estes dados, a situação nacional não é optimista para debelar a pobreza de grande parte da população portuguesa. Mesmo as medidas como o aumento do salário mínimo nacional, apesar de relevante, não permite fazer face às despesas básicas das famílias.
Além de outros problemas nacionais, a pobreza devia ser a prioridade dos partidos para as próximas eleições. Uma chaga social a merecer mais atenção.

florentinobeirao@hotmail.com

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