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Leitores: Os idiotas úteis

António Abrunhosa - 10/03/2022 - 10:21

Num dos seus muitos soundbites, Churchill definiu a Rússia como “uma charada embrulhada num mistério dentro dum enigma”.

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Num dos seus muitos soundbites, Churchill definiu a Rússia como “uma charada embrulhada num mistério dentro dum enigma”.
Desde que Pedro o Grande, à imagem de tantos outros, tentou modernizar o país olhando para a Europa, que a Rússia oscila entre a barbárie que herdou dos mongóis e o melhor que a Europa, no meio da sua própria barbárie, conseguiu criar. 
No melhor teve dos melhores, de Mendeleev a Dostoyevski, de Lobachevsky a Tolstoy, de Repin a Tchaikovsky, de Pushkin a Mayakosky, de Malevich a Stravinski, de Kandinski a Pasternak, de Akhmatova a Chagall, de Eisenstein a Tarkovski e tantos, tantos outros e outras. No pior tem séculos de atrocidades, com massacres sistemáticos de populações inteiras, quer dos países que foi conquistando quer dos próprios russos, culminando nos massacres de milhões de russos e ucranianos por stalin, só ultrapassado em crueldade pelos chineses que no princípio do século XX esfolavam criminosos vivos, em público.
Stalin, como muitos outros dirigentes comunistas, explorou a ingenuidade e a ignorância de milhões de almas bem intencionadas, seduzidas pela bondade aparente da defesa dos pobres e desprotegidos, conseguindo mesmo o apoio de figuras centrais da cultura mundial como Picasso, William Auden ou Sartre. À medida que se foi sabendo que Torquemada era um menino de coro ao lado de Stalin, a maior parte afastou-se dele ou do comunismo, mas ficaram para sempre conhecidos como os idiotas úteis, termo carinhoso com que eram tratados pelos camaradas de que se tinham afastado.
A esquerda, e não só, continua a produzir idiotas úteis que por oposição ou ódio à direita, ou aos americanos, ou à NATO ou à social democracia, ou ao que seja, decidem apoiar outros inimigos comuns. Vladimir Putin é o grande herdeiro de Stalin, na capacidade de enganar milhares de distraídos ou bem intencionados como Miguel Sousa Tavares, que julgaram ver nele um mero defensor da dignidade perdida do império Russo, face à aleivosia dos americanos e da NATO. Para isso usou meios mais sofisticados, como o envenenamento dos opositores e, sobretudo, com milhões de dólares investidos nas redes sociais e em inúmeros canais de comunicação, que conseguiram a proeza de atingir objetivos escritos em documentos de estratégia do comando militar russo: a saída do Reino Unido da União Europeia e a eleição dum presidente favorável nos Estados Unidos, que foi Trump. A invasão da Ucrânia, que fica a dever pouco às de hitler em patranhas, alucinação e barbárie veio acordar a maior parte daqueles bem intencionados. Putin sonha com a recriação do império russo e ao estilo czarista, só que com a riqueza imensa da Rússia nas mãos dele e dos 200 ou 300 ladrões que têm 80% da mesma. E não mudou, é o mesmo que arrasou Grosni matando dezenas de milhares de chechenos, muitos deles russos e fez uma guerra de destruição completa de cidades sírias. O que mudou é que agora é à nossa porta e se ele conseguisse de novo a nossa passividade, a liberdade e a democracia na europa teriam os dias contados, como já tiveram na Rússia. Mesmo que consiga esmagar a Ucrânia depois de assassinar bárbaramente milhares de homens, mulheres e crianças desprotegidas, Putin perderá sempre a guerra, dado ter conseguido numa semana criar uma identidade ucraniana que demorava a chegar e uniu europeus que já quase nada unia, na raiva e na decisão comum de atirar putin para o esgoto da história. Os russos passarão décadas a lavar a pele de assassinos neo nazis que lhes ficará colada com as imagens inapagáveis com que temos dificuldade em dormir, que nos chegam a cada dia que passa.
Mas é necessário que, desta vez, não haja impunidade para aqueles que no Partido Comunista Português e no Bloco de  Esquerda tiveram a pouca vergonha de não condenar o maior assassino e ditador que a Europa conhece desde Hitler. Andamos há anos a ouvir falar da necessidade de criar um cordão sanitário à volta do Chega, dadas as supostas atrocidades que Ventura faria se tivesse poder. Um cordão mais urgente deve ser posto à volta dos que quiseram justificar as atrocidades que vemos diariamente nas televisões.
Se a censura fascista de Putin conseguir impedir o povo russo de saber o que se passa na Ucrânia e ele for salvo pelos 400 000 membros da guarda pretoriana que criou e comanda diretamente, para evitar que o exército o corra como correu com outros antes dele, ou se as sanções não conseguirem colapsar a máquina de morte e destruição russa, haverá muitos milhões de refugiados ucranianos na Europa por muito tempo. A União Europeia e o governo português estão já a criar programas de apoio aos que venham para Portugal. Seria útil que a Câmara Municipal de Castelo Branco reunisse com as entidades representativas das atividades económicas, empresariais e sociais da cidade para estudar soluções de alojamento, emprego, assistência social e sanitária que permitam uma vida sustentável aos ucranianos e ucranianas que para cá venham. Muitos refugiados ucranianos têm formação superior, têm uma ética de trabalho sólida e desejam ter a possibilidade de poder construir uma vida razoável para lá do caos que aí vem, enquanto não for possível regressarem. Há muitas ideias de apoio sustentável que podem ser postas em prática desde que pensadas corretamente e que podem ser mutuamente benéficas para quem acolhe e para quem é acolhido. 

António Abrunhosa

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