Há 50 anos atrás, as rolas bravas nos concelhos de Castelo Branco e ldanha- a- Nova, quando se juntavam para emigrar, os bandos eram de tal ordem grandiosos que faziam sombra quando se interpunham entre nós e o sol. Nesse tempo não havia Quercus, nem Ministério do Ambiente para a sua proteção. Com a criação destas duas estruturas, pensava-se que tudo iria funcionar normalmente. Puro engano, as rolas bravas desapareceram quase até a extinção. Como foi possível matar tanta rola? Muito simplesmente, os caçadores passaram a semear pequenas courelas de terreno, para quando abrisse a caça lá irem esperá-las. Habituadas como estavam a ir ali comer a morte era certa, não falhava.
Tinham ainda outro destino mais cruel, quando se deslocavam para África para passar o inverno, eram esperadas pelos nossos vizinhos espanhóis no Estreito de Gibraltar, onde tinham que passar forçosamente. Aí, a chacina era aterradora porque se deslocavam em bandos. Foi assim que se chegou a esta situação, que ainda não acabou, uma vez que o governo português, inacreditavelmente, continua a abrir a caça à rola brava como acontece agora em setembro. Estranhamente proíbe a caça à rola originária da Turquia, uma dualidade de critérios, com pouco êxito, diga-se, porque esta belíssima e linda ave, gosta de viver nas povoações conjuntamente com as pessoas, até vão a comer com as galinhas, onde acaba por ser morta com armas de pressão. Outra ave também em rota de colisão com os humanos caçadores e quejandos é a perdiz. Foram-na dizimando sem dó nem piedade, em tempos recuados, era protegida pelas Câmaras Municipais que por cada cascarão de ovo de perdiz entregue, pagavam xis dinheiro. Havia de tudo com fartura.
Agora no capítulo das perdizes, dão-se casos caricatos a puxar ao riso pelo ridículo que encerram. Os intitulados caçadores que por aí vagueiam, mediante o primado da lei, apoderaram-se de terrenos alheios para estabelecer as suas reservas, segundo diziam para a preservação e proteção da caça, em especial a miúda, isto é: lebres, coelhos e perdizes. Como a caça tem de se alimentar e não há nada para o efeito, vai desaparecendo, embora seja de lei, os caçadores semearem terrenos para alimentar essa mesma caça, só que isso não acontece. Todavia, eles não desarmam e, perante o insucesso da falta de caça para matar o vício, recorrem aos aviários onde são criadas perdizes e compram às centenas com um fim previamente escolhido de as despejar nas suas reservas. Como nessas reservas as perdizes não têm lá nada para comer e, habituadas que estão a ser alimentadas pelas pessoas entram em transe, isto é, enfraquecidas pela fome. Dois ou três dias depois de abandonadas nas reservas, estão em condições de serem abatidas sem esforço. Assim sucede, as infelizes aves, famintas como se encontram em vez de fugirem dos caçadores, correm para eles, é a altura do tiro fatal e encher de glória os intrépidos caçadores. Era uma vez uma perdiz de aviário. Porém, a natureza é pródiga em nos surpreender. Essas perdizes, não são saborosas como as criadas no campo, as quais, fogem dos caçadores como gato pelas brasas e, são pela sua natureza, exímias em se escapulir dos seus perseguidores, tendo estes, que calcorrear monte e vales para as apanhar e sempre mais que um caçador. Porém, até havia muitos caçadores virados para esse tipo de caça, que lhes dava grande prazer, ao contrário dos de agora, que deviam ter vergonha de abater as infelizes aves de maneira tão cobarde.
Li com apreço o seu texto
Concordo com algumas inferências, mas não todas.
Veja a minha tese de doutoramento sobre a caça em Portugal através do tempo pubicada na Internet.
Cumprimentos
Mário Carmo