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A realidade esmaga sempre a ilusão: A revolta do Interior

Luís Filipe Santos - 05/08/2021 - 9:26

Este fim de semana rebentou a bomba que ninguém queria que rebentasse. Uma das maiores empresas do concelho de Castelo Branco, a Dielmar pediu a insolvência, deixando 300 postos de trabalho em risco de extinção. Infelizmente, uma situação que se adivinhava há algum tempo, numa situação de pandemia difícil de contornar, onde os apoios do Estado eram muita propaganda, mas pouco efetivos na hora da verdade. Tive a oportunidade de me reunir com a administração da fábrica e perceber algumas das razões pelas quais a Dielmar encerrou, nomeadamente a forte concorrência, os fracos apoios governamentais e os custos de contexto existentes para quem tem a coragem de seguir o sonho de ser referência no Distrito como o de Castelo Branco. 
Durante muito tempo, o Distrito de Castelo Branco habituou-se à lengalenga da coesão territorial, bandeira de muitas campanhas eleitorais. Ouviu-se falar da invenção de Unidades de Missão de Valorização do Interior, à criação de Secretarias de Estado para defender as regiões com menos população. Defendeu-se a existência de um Ministério da Coesão Territorial, com uma Ministra especialista na gestão de fundos comunitários e experiência de liderança na CCDR Centro, incapaz de implementar no terreno, o desconto apresentado pelo PSD e aprovado na Assembleia da República de 50%.
Entre o domingo e o dia em que escrevo estas linhas, li as palavras dos responsáveis que agora reagem a uma morte anunciada, sussurrada entredentes nos meios locais, mas que, quando necessário, se esconderam do problema de 300 colaboradores com família que agora irão engrossar as filas do desemprego. 
Espanta-me quando oiço o atual Presidente do Município de Castelo Branco, elogiado na última vez que escrevi neste espaço pela sua postura, mas que, nesta situação, nunca tenha dado a devida atenção à situação económica da empresa, nem tenha aproveitado parte da produção de máscaras ali realizada, durante a fase de reorganização da produção ocorrida em tempos de pandemia, para as adquirir e poder distribuir à população do concelho. Teria sido um enorme sinal de crença na capacidade produtiva de uma das empresas com mais know how da região e, possivelmente, teria contribuído para a sobrevivência da mesma.
Mas, mais grave, foi perceber a inércia do poder político dominante e a forma como não percebeu a sociedade albicastrense. É verdadeiramente inacreditável, numa altura em que a palavra “bazuca” nos entra em casa todos os dias, se deixe morrer uma das empresas com melhor marca de todo o Interior português, motor do desenvolvimento da segunda maior freguesia do concelho de Castelo Branco, Alcains, apenas e só por incapacidade dos atores chegarem ao pé do Governo e darem um murro na mesa de forma decidida. Num distrito, onde o PS elegeu três (3) deputados, nenhum deles teve a capacidade de marcar uma reunião com o Ministro da Economia. Onde elegemos o atual Secretário de Estado da Internacionalização, incapaz de defender uma empresa do Distrito que o elegeu. Num concelho visitado por António Costa, há pouco mais de uma semana para defender a escolha de Leopoldo Rodrigues para liderar a Câmara incapaz de marcar uma reunião com um Ministro da Economia do atual Governo em tempo útil para fazer face a uma situação de calamidade para a freguesia de Alcains.
Para além das questões logísticas de manifesta incapacidade, existem as questões políticas, onde claramente se vê a falência de todo um argumentário de defesa da coesão territorial, gasto nas palavras dos dirigentes locais e distritais do Partido Socialista.
Quando vemos um Primeiro-Ministro em digressão pelo pais em tempos de pré-campanha autárquica a bradar, aos setes ventos, os milhares de milhões vindos da Europa, perguntamos se só chegarão quando as nossas empresas tiverem todas fechado e o nosso território, como indicado pelos Censos 2021, estiver completamente despovoado.
A realidade esmaga sempre a ilusão. Infelizmente, neste caso, esmagou os sonhos de todos aqueles que trabalharam durante décadas para construir uma empresa de referência.

 

Presidente da Comissão Política Distrital do PSD Castelo Branco Luis.santos@psdcastelobranco.pt

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