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Leitores: Uma reflexão entre o passado e o presente

Hélder Henriques - 29/06/2023 - 11:13

Há precisamente 20 anos discutiam-se os desafios e as oportunidades para o território da Beira Baixa.

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Há precisamente 20 anos discutiam-se os desafios e as oportunidades para o território da Beira Baixa. Foi constituído um grupo de trabalho, com o impulso do então Governador Civil José Pereira Lopes, que tinha como objetivo a reflexão sobre problemáticas de desenvolvimento territorial do distrito de Castelo Branco. Desse grupo de trabalho resultou o livro “Beira Baixa, que futuro?”, publicado em 2003.
No prefácio desta obra, Pereira Lopes afirmava que a participação da sociedade constituía um elemento fundamental e que, naquele momento de reflexão, todos se envolveram “desde as autarquias à Universidade e ao Instituto Politécnico, das associações empresariais às sindicais, do associativismo, em geral, aos vários departamentos públicos da região – todos disseram presentes”.
Do processo reflexivo, surgiram um conjunto de linhas de trabalho que diagnosticaram os problemas, apresentaram sugestões para a sua resolução e apontaram caminho para o futuro. Naquele tempo, as narrativas políticas e discursivas centravam-se na importância de temas que hoje continuam presentes: o emprego (naquela época relacionado principalmente com a crise dos têxteis e das confeções), a importância das Instituições de Ensino Superior onde se afirmava, inequivocamente, que “está provado que a existência territorializada de instituições de ensino superior de qualidade e com capacidade de afirmação regional constitui uma condição absolutamente necessária para o progresso socioeconómico” (p. 26) ou ainda a necessária valorização do mundo rural, através da requalificação dos mercados típicos, da demarcação de polígonos florestais com o objetivo da gestão integrada da floresta, importante recurso do nosso território, ou mesmo através da proposta de criação de Observatórios com o objetivo da monitorização e desenvolvimento das políticas públicas (por exemplo, a criação do Observatório do Mundo Rural). 
Há cerca de 20 anos a constituição deste grupo de trabalho representou a sistematização de um conjunto de propostas e de ideias que permitiram valorizar a região através do diálogo. Como parece evidente, as propostas resultantes da iniciativa que descrevemos enquadram-se num tempo com caraterísticas próprias, com problemas específicos e circunstanciais. Passadas duas décadas, o mundo mudou embora alguns dos problemas diagnosticados em 2002/2003 continuem a ser matéria de discussão e mereçam ser retomados adequando-os à realidade que nos envolve enquanto região. 
Destaco, pela afinidade que tenho a estas áreas, uma proposta então referida intitulada “Da terra e da gente à vertente turística”. Nesta matéria, as sugestões apontadas para o futuro dirigiam-se, particularmente, para a valorização do património (Latus Sensu). Hoje temos a certeza que a valorização do património é um caminho de inegável valor. O mundo globalizado em que vivemos, parecendo um paradoxo, assim o exige. Precisamos, cada vez mais, de âncoras identitárias que ajudem a definir quem somos, onde estamos e para onde pretendemos ir. A publicação que resultou daquele processo de reflexão, enquadrados no território do distrito de Castelo Branco, apontava para a possibilidade de criação de uma rede de Centros de interpretação e Divulgação cultural ou uma Rede de Núcleos Etnográficos com o objetivo de integrarem a oferta turística da região. 
Construindo uma ponte para o presente, no caso de Castelo Branco, todos conhecemos a relevância e a importância da programação cultural que é de excelência. Mas, sabemos também, que o Município dispõe de uma rede de museus de grande valor. Parece óbvio o destaque que merece o Museu Francisco Tavares Proença Júnior pelo património que ali concentra nas instalações físicas, mas também, e sobretudo, pelo simbolismo que representa enquanto farol da cultura albicastrense; temos, depois, o Centro de Interpretação do Bordado de Castelo Branco, que é um lugar onde se cruza a tradição e a inovação através da seda, do linho e do resultado da união destes elementos: o bordado de Castelo Branco. Nunca é demais, uma palavra de apreço às nossas bordadoras (ou bordadeiras) que trabalham por todo o distrito de Castelo Branco e que elevam o nome do nosso concelho ao terem a capacidade para manterem este saber-fazer icónico e identitário. A este propósito não poderíamos deixar de assinalar o esforço de muitas pessoas, instituições públicas e privadas, que colocam na realização de importantes e desejáveis iniciativas (como foi o caso recente, por exemplo, do evento que decorreu no parque de estacionamento do Centro Coordenador de Transportes, a iniciativa anual Castelo Branco Moda 23) que resultam de parcerias, no caso referido, entre a Câmara Municipal de Castelo Branco e o Instituto Politécnico de Castelo Branco. Ambas as instituições através de um diálogo profícuo, e desejável, proporcionaram, mais uma vez, a valorização do nosso icónico bordado. Também nesta matéria da valorização das nossas tradições e do bordado de Castelo Branco submetemos há poucos dias a candidatura da cidade de Castelo Branco à Rede de Cidades Criativas da Unesco. Não é um caminho fácil, mas tem de ser construído. Sabemos que apenas duas candidaturas passam para a fase seguinte. De qualquer dos modos, entendemos que o risco é necessário na medida em que ao longo do processo de preparação da candidatura acrescentamos valor e notoriedade a Castelo Branco e, particularmente, ao Bordado de Castelo Branco. Além disso, foram consolidadas, ainda mais, parcerias com diversas instituições locais e nacionais que permitiram que se trabalhasse em rede e se valorizasse este nosso, de todos, património. Só por isto, já valeu muito o esforço de uma curta equipa dedicada a este projeto.
Em síntese, percebemos que muitas das propostas e sugestões que há cerca de 20 anos foram discutidas realizaram-se e materializaram-se em tempos e momentos próprios. Mas, como referimos antes, o mundo mudou e, por isso, esta é uma tarefa cujo fim não existe, afinal trata-se de um processo dinâmico em permanente e constante construção. Devemos, por isso, acompanhar de perto e estar alerta e prontos para a mudança sem esquecer o passado.  

 

COMENTÁRIOS

JMarques
No ano passado
As ricas tradições culturais da Beira Baixa, usos, costumes, oralidade, folclore, danças, cantares, trabalhos e utensílios agrícolas e domésticos e até a gastronomia mais requintada e localizada e menos conhecida etc.
Acresce ainda os crimes de "lesa pátria", como a destruição de moinhos, noras, picotas e sobretudo a destruição de lagares de azeite, existentes nas quintas dos arredores da da cidade, pertencentes a uma dúzia de famílias abastadas, para espalhar cimento e alcatrão, não havendo a visão o discernimento e o bom senso de deixar, recuperar e preservar pelo menos um, como centro interpretativo ou museu, para as gerações futuras.
Não há volta a dar!
JMarques
No ano passado
Compreende-se que o objetivo dos dos construtores civis fosse espalhar cimento e alcatrão e ganhar dinheiro, muito dinheiro, mas havia pessoas a quem competia defender o interesse público e não o fizeram e têm nomes:
CÉSAR VILAFRANCA, JOAQUIM MOURÃO E LUÍS CORREIA.