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Religião: Alegado padre “exorcista” acusado de burlar fiéis

Lídia Barata - 30/11/2022 - 8:00

Continuam os dedos acusadores contra César Barata mas o visado diz que tudo o que faz está dentro dos cânones da sua Igreja.

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Informações sobre a Igreja de César Barata não são claras

Nasceu em Alpedrinha, onde recebeu os primeiros sacramentos da Igreja Católica Apostólica Romana, foi acólito, mas desde 2014 que professa a doutrina do que diz ser a Igreja Católica Ortodoxa Hispânica, da qual afirma ser sacerdote.

César Barata assume que celebra eucaristias, casamentos, funerais, ordena diáconos e sacerdotes da sua igreja e até faz rituais de exorcismo, informações que constam da sua biografia no site desse movimento. Desde 2014 que as dioceses de Portalegre-Castelo Branco e da Guarda têm vindo a tomar medidas internas e a alertar as autoridades civis para esta conduta, tendo-o proibido de exercer qualquer função como padre católico, porque não lhe reconheciam essa formação, altura em que fundou a sua própria igreja.

Agora, César Barata, de 32 anos, está a ser também acusado pelos fiéis de burla, pois a vários órgãos de comunicação social, sob anonimato, por medo de represálias, garantem que pagaram missas, azeite e velas a troco de “milagre” que não aconteceram. Já o “padre” diz que se trataram de “donativos” e feitos “voluntariamente”.

apresenta-se como pároco de Santa Filomena, a capela que construiu em Alpedrinha, onde também está a construir um novo templo, com as “doações” com as quais vive, tal como está a construir uma capela em Perais, no concelho de Vila Velha de Ródão, num terreno doado por uma das suas seguidoras. Na Lardosa, comunidade da qual foi reitor, também transformou um espaço de arrumos que lhe foi cedido em capela. E nas Termas de Monfortinho apresentou-se como missionário.

Refuta todas as acusações, incluindo das dioceses, garantindo que a Igreja Católica Ortodoxa Hispânica foi fundada em 2004 e está registada como Vigararia de Santa Filomena – Associação Religiosa e tem estatutos, mas tal registo não consta no Ministério da Justiça.

Recorde-se que em 2014, num encontro distrital de idosos, nas instalações da Associação do Bairro do Valongo, em Castelo Branco, o mesmo chegou a ser retirado pelas autoridades, após denúncia, pois estaria a preparar-se para presidir a uma celebração eucarística.

À data, o bispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, D. Antonino Dias, emitiu um comunicado, que Reconquista publicou, dando conta que César Barata, residente em Alpedrinha, “apresentava-se reiteradamente, em comunidades cristãs da Diocese, como sendo padre católico”, recordando que “por denodos e atrevimentos vários”, também o seu congénere da Guarda, D. Manuel Felício, “sentiu-se na necessidade de alertar os seus diocesanos e de o proibir formalmente de presidir a qualquer celebração de cariz religioso católico em todo o território daquela Diocese”.

Sobre o episódio do Valongo, explicava que “a convite de alguém - de um fiel leigo que, penso, também enganado e de boa-fé -, o senhor César Barata apresentou-se vestido com o traje eclesiástico e tentou ‘celebrar’ para uma assembleia idosos do concelho de Castelo Branco”.

D. Antonino esclarecia que César Barata “não é padre, não é missionário capuchinho, não fez o aspirantado, nem o postulantado na Congregação dos Padres Capuchinhos, como afirma (dado desmentido pelo ministro provincial dos Capuchinhos), não tem qualquer mandato para exercer seja o que for na Diocese. Está, isso sim, proibido de exercer qualquer responsabilidade ou presidir a qualquer ato religioso católico em todo o território da Diocese de Portalegre-Castelo Branco”, acrescentando que a manter-se estas situações “os fiéis podem e devem chamar a autoridade civil (GNR/PSP)”.

Perante as posições tomadas por estas duas dioceses, César Barata reagiu e insiste em contrariar estas afirmações. Por esse facto, e dadas as queixas dos fiéis que se adensam, o bispo da Guarda reiterou o alerta. A Diocese de Guarda que veio a público classificar como “insultuosas e dolosas” as declarações feitas pelo falso padre à comunicação social, garantindo que as mesmas serão “alvo de minucioso escrutínio por parte dos serviços jurídicos diocesanos”.

D. Manuel Felício repete, tal com em 2014, que ao indivíduo “não foi conferido nenhum grau académico por qualquer seminário diocesano”, reiterando que “não bastará por isso usar um qualquer hábito para se ser monge”. César de Barata tinha de ter, no mínimo, uma licenciatura canónica em Teologia e longos anos de preparação em seminários. Lamenta que “usurpando funções, presidiu a celebrações das dioceses da Guarda e na de Portalegre-Castelo Branco, para as quais só um sacerdote católico está mandatado, tendo até sido identificado pelas forças civis da autoridade por usurpação de funções”. O prelado reconhece que César Barata “foi admitido no postulantado em Gondomar, mas permaneceu ali pouco mais de um mês, pois desertou sem se despedir de ninguém e sem dar razões do abandono. Isto levou a que um mestre do postulantado o tenha classificado como pessoa com personalidade desequilibrada”.

Diocese da Guarda suspeita, por imagens que viu, que ele esteja na posse de bens que são propriedade da Paróquia de Alpedrinha. “Confiamos que a justiça não deixará de investigar o que tiver de ser investigado”, remata em comunicado.

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