António Machado abre o libro numa entrevista ao nosso jornal e à RCB
Atleta, enfermeiro e presidente. É um percurso de décadas ligado ao Benfica e Castelo Branco. Nos últimos oito anos esteve ao leme da instituição. Não teve oportunidade de se despedir dos associados no ato público de tomada de posse do seu sucessor, fá-lo agora numa entrevista ao Reconquista e à RCB. António Machado em discurso direto.
Não teve palavra na tomada de posse nos novos órgãos sociais. Como conviveu com isso?
- “Com total surpresa. Estupefação. Foi um ato público, que não foi tido como AG, mas onde era merecedor de me poder despedir de quem pretendia e endereçar votos de que tudo corra bem a quem entrou”.
Terá sido “apenas” um lapso de protocolo?
- “Acredito que sim. Mas foi um grande lapso. A deceção irá passar, mas ficará gravado como um dos momentos mais tristes que vivi na minha relação com o BC Branco. Terá sido mesmo esquecimento. Inexperiência não!”
Já falou com os responsáveis?
- “Sim. Não mandei mensagem. Tive que falar pessoalmente. Com o anterior presidente da AG, Lopes Marcelo, pessoa que muito me ajudou e que prestou um contributo inestimável ao clube durante 23 anos, e com Jorge Neves. Vincaram que não tinha sido premeditado. Acredito. Mas aconteceu”.
Como têm sido estes dias de “desintoxicação” diretiva?
- “Sinto uma leveza extraordinária. Chego a dar comigo a pensar como foi possível tantos anos comprometido com esta causa. Só mesmo por uma grande vontade de servir. Sinto-me bem e com consciência do trabalho realizado. Por mim e por todos os que me rodearam. Também com a convicção de que o clube ficou bem entregue. Ficaria com qualquer um dos candidatos. E disponível para qualquer esclarecimento ou ajuda necessária”.
Deixou 28 mil euros de saldo positivo e tudo em dia…
- “Não vou confirmar valores. Na apresentação de contas foi dado um número, que era em final do ano civil. Ficou lá mais. Sabe: um saldo positivo pode ser de um cêntimo ou de milhões! Dir-lhe-ei que ficou lá 8 ou 10 por cento de um orçamento de época desportiva. Às vezes até pode parecer desleal para todos os que ajudam o clube, estarmos a guardar dinheiro. Pensamos no futuro. Não posso deixar de fazer uma referência aos parceiros da restauração, a quem estarei eternamente grato. Irei reconhecê-los em termos pessoais com a minha presença e reencaminhado amigos”.
Não quis arriscar em ir buscar duas ou três ‘trutas’ com esse dinheiro?
- “Preferi deixar a casa sustentável. É tremendamente difícil subir no Campeonato de Portugal. Sobem 2 de 72. O 1.º classificado de Série pode não subir. Já aconteceu”.
Leva mágoas?
- “Há dois ou três factos que não me realizaram. Um deles foi não ter deixado obra, nada que seja património. O BC Branco tem quatro carrinhas e um carro. A sede está cedida pela autarquia, entidade a quem temos de agradecer toda a colaboração. Nós e os outros clubes e associações. Não consegui adquirir um apartamento, ou renovar o parque automóvel. As obrigações são tantas, que para ter tudo em dia é complicado. Mas ficou tudo pago, inclusivamente o subsídio de férias dos funcionários da sede. E algum suporte para iniciar a nova época. Eu sei bem o que custa pagar inscrições e seguros, numa fase em que a única fonte de rendimento são as quotizações dos sócios. Felizmente nesta altura o clube tem muitos...”.
Mais alguma?
- “Deram-me parabéns pela vitalidade que pauta o clube, tendo como referência o interesse eleitoral. Para mim, é uma das maiores derrotas. Quando em oito anos as minhas equipas não conseguiram fazer um número de sócios tão considerável, em quatro/cinco dias fizeram-se tantos! Concluo que neste aspeto não andámos lá a fazer muita coisa”.
Alguma vez houve manifestação de interesse de investidores pelo BC Branco?
- “Sim, houve. Veja: sete equipas da nossa Série são SAD. Parece que o dinheiro ali não acaba. O trambolhão é que depois é maior. No caso do BC Branco, houve interesse de brasileiros, coreanos e chineses. Tentaram. Mas entendemos que para avaliar um passo desta natureza, o clube tem de se estruturar em primeiro lugar, conquistar solidez patrimonial…”.
O BC Branco teve retorno da saída de jogadores?
- “Teve. João Afonso, Alvarinho, Patas e, mais recentemente, o Kikas. No caso do Alvarinho foi uma dificuldade terrível. A abertura de um processo iria custar mais que o dinheiro que tínhamos a receber. Conseguiu-se outra coisa: que o Marocas regressasse sem que o clube pagasse qualquer salário”.
Poderemos vê-lo noutras funções no futebol?
- “Para já não! Não tenho ambição nem qualquer perspetiva nesse sentido. Só tenho de agradecer ao BC Branco, por me ter deixado ser seu jogador, enfermeiro e presidente”.