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As máquinas partidárias: Cilindrados pelas portagens

Paula Custódio Reis - 23/12/2020 - 9:23

A discussão publica/politica dos últimos tempos aqui na Beira Interior anda à volta do sentido de voto na Assembleia da República, sobre a proposta da redução de 50% no valor das portagens na A23.
A verdade é que nenhum dos partidos que já passou pelo Governo esteve bem nesta matéria, em relação às populações servidas por esta via de comunicação, incluindo aqui os partidos em coligação. 
Se não, vejamos: O Governo PS mandou construir em regime de PPP, o Governo PSD/CDS inaugurou e mandou colocar pórticos e instaurou as portagens mais caras do País, o Governo PS seguinte (com o apoio das esquerdas) propôs reduções pouco generosas, uma maioria dos eleitos para a Assembléia da República (excluindo o PS e a Iniciativa Liberal) votaram a favor de uma proposta de redução de 50%, que foi assim aprovada.
Nós por cá continuamos à espera da isenção total, que nos sirva realmente de alavancagem ao turismo e reduza os custos de quem tem que fazer movimentos pendulares diários e frequentes para ir trabalhar, estudar, fazer comércio ou ir buscar matérias primas. 
A verdade é que o eixo Guarda-Portalegre organizou-se informalmente como se tratasse de uma grande área urbana, onde todas as transações se fazem. Para ganhar escala tivemos que incluir mais território. Nenhum dos aglomerados urbanos consegue por si só dar resposta às necessidades de escoamento e captação de tudo o que é necessário produzir e vender. 
Nos grandes aglomerados populacionais do litoral, esta escala consegue-se com pouco território incluído. E com poucos custos de deslocação. Está tudo próximo e acessível.
A verdade é que não conseguimos passar esta mensagem. E a disciplina de voto faz o resto. 
Um Deputado, depois de eleito é Deputado da Nação. A pergunta é então, porquê os círculos eleitorais se não deixa de haver disciplina de voto nas matérias que são fulcrais para as regiões que se representa?
Sabem o que foi mais grave nesta displicente maneira de olhar o interior e os seus representantes? Foi a afirmação categórica de que esta alteração será facilmente acomodada pelo Orçamento. É a descredibilização total do poder dos representantes eleitos. 
No outro lado do Mundo, em Nova York, vai ser cotado em bolsa o valor da água, tal como já são cotados o petróleo e o ouro.
Parece-me, portanto que chegou a altura ideal de colocar em prática a visão de António Palouro que dizia que tínhamos que cortar o acesso àquilo que damos ao resto do País.
Portagemos o uso de água. Troquemos passagens em pórticos da A23 por acesso a banho, panelas de sopa ou baldes para limpar o chão. Uma regra de mercado simples: não têm matéria prima, têm de nos compensar.
Agora a sério, parece-me que está em causa o sistema representativo, a eleição de representantes, o rácio que apenas leva em linha de conta o número de habitantes. Nenhum eleito por si só fará diferença, porque o dia que ultrapassar as regras partidárias ditará o início do seu afastamento.
A máquina partidária cilindra, na maioria das vezes aqueles que levam às últimas consequências a defesa dos territórios pelos quais foram eleitos. Os que assentam na lama, o cilindro apenas os submerge momentaneamente nesse terreno pantanoso, para daqui a uns tempos voltarem à tona, como sempre.

 

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