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Até à demissão de António Costa: Desde o pântano que Guterres anunciara e o levara à demissão

- 07/12/2023 - 10:03

Eu, que sou militante do partido socialista, por respeito aos cidadãos e por ser defensor indefetível do regime democrático e da importância do papel dos partidos, não irei tomar posição relativamente a nenhum dos candidatos do PS...

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Eu, que sou militante do partido socialista, por respeito aos cidadãos e por ser defensor indefetível do regime democrático e da importância do papel dos partidos, não irei tomar posição relativamente a nenhum dos candidatos do PS, se não se propuserem a reformar internamente o partido e a propor a reforma do sistema eleitoral, de modo a evitar, pelo menos, que os “répteis” continuem a minar a confiança da maioria dos cidadãos nas instituições públicas.
Guterres, dando-se por vencido, abandonara, naquela fatídica noite de 16 de dezembro de 2001, o país. 
Antecipara-se ao pântano que ele presumira, à data, em que o país inevitavelmente iria cair.
Ainda hoje guardo alguma mágoa, enquanto cidadão, mas sobretudo enquanto militante do Partido Socialista, desde sempre, pela atitude de Guterres!
Preferiu abandonar o país e ter deixado que os “répteis” que se alimentam no, e do, pântano, continuassem a “arrastar-se” pelos corredores do poder, influenciando os decisores políticos, almejando metas e objetivos, que muito pouco, ou nada, têm a ver com o interesse público.
Não vou roubar-vos tempo com os casos de Sócrates, Armando Vara e outros do meu partido; nem com submarinos de Portas ou da Tecnoforma e de outros ligados à governação de Passos e até, recuando um pouco mais, a outros do tempo de Cavaco Silva, a quem o Jornal “O Independente”, de Portas, não lhes dava descanso.
Tenho para mim, e até prova em contrário, que, tanto Guterres, como António Costa, Passos Coelho e Cavaco Silva sempre se moveram, no exercício da governação, norteados pelo princípio do interesse público, pelo que a recente demissão de António Costa, tem, julgo eu, embora em situações diferentes, a mesma motivação de Guterres. Perda de confiança naqueles que tinha mais próximos e também pela incapacidade de pôr cobro aos “répteis” do tempo de Guterres e que foram reforçando a sua influência no interior do aparelho partidário, fazendo depender a “legitimação” dos líderes (nacionais, regionais e locais) pela força que lhes advém dos “exercícios de promiscuidade com o poder económico” e dos processos de arregimentação dos indefetíveis e da instrumentalização das instituições. 
Dispenso-me de desmontar esta minha última afirmação, porque aqueles que acompanham a vida dos partidos, entender-me-ão. Esta não é uma práxis apenas do meu partido, mas também dos partidos que têm exercido, e exercem, o poder (local, regional e nacional) porque ela decorre da forma como os partidos funcionam internamente, das lógicas de legitimação dos líderes e da designação dos candidatos a lugares eletivos.
Para que melhor me fazer entender, sobretudo por aqueles que têm acompanhado menos de perto a atividade política, os processos de arregimentação por parte de quem, num determinado momento, exerce algum poder, levam a que, em algumas situações, para atingir os seus fins, sejam eles pessoais, ou não, exerçam “chantagem” sobre quem tem o poder de decidir no sentido da satisfação desses fins. 
A título de exemplo, quando nas últimas eleições autárquicas foi retirada a confiança ao presidente da câmara de Castelo Branco, que perdera o mandato pelas razões que a maioria dos munícipes do concelho conhece, não podendo assim recandidatar-se pelo partido socialista, este imediatamente apresentou a pretensão a um lugar de gestão pública, que  sabiamente lhe foi recusada pelo partido. 
E é esta recusa que o leva a apresentar-se a eleições, como independente, “arrastando” consigo um elevado número de militantes, que foi arregimentando, sobretudo, enquanto foi presidente de câmara.
Este tipo de prática é muito comum em pessoas impreparadas politicamente e de fragilidade ideológica muito acentuada, que, por não serem reconhecidos politicamente pela comunidade, vão tentando afirmar-se à luz de uma estratégia pouco recomendável, que grosso modo, consiste em “arregimentar” indefetíveis e “instrumentalizar” instituições, por meios que considero pouco recomendáveis em sociedades que se dizem plurais e civilizadas.
É por causa deste modus operandi, que é comum aos partidos do arco da governação e que decorre da forma como estão organizados internamente, que é difícil “secar” o pântano.
Eu, que sou militante do partido socialista, por respeito aos cidadãos e por ser defensor indefetível do regime democrático e da importância do papel dos partidos, não irei tomar posição relativamente a nenhum dos candidatos do PS, se não se propuserem a reformar internamente o partido e a propor a reforma do sistema eleitoral, de modo a evitar que os “répteis” continuem a minar a confiança da maioria dos cidadãos nas instituições públicas.
Pelo que já é possível perceber, embora a campanha interna apenas tenha acabado de sair do “adro”, constato que do lado de Pedro Nuno Santos estão alguns dos militantes que se bateram pela reflexão interna do partido, na sequência do “Caso Sócrates”, como, por exemplo, Alexandra Leitão e Pedro Delgado Alves e do lado de José Luís Carneiro vou aguardar para ver.
Fernando Raposo

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