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Leitores: Beira Baixa, um território com caraterísticas próprias. Território-Rede ao Território-Desejo

Helder Henriques - 07/09/2023 - 9:55

Não me canso de o repetir: a construção de um território deve alicerçar-se na capacidade de diálogo entre as diferentes entidades e/ou pessoas que nele habitam. Apenas deste modo o território se valoriza, permitindo o seu crescimento.

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Não me canso de o repetir: a construção de um território deve alicerçar-se na capacidade de diálogo entre as diferentes entidades e/ou pessoas que nele habitam. Apenas deste modo o território se valoriza, permitindo o seu crescimento. É preciso caminhar todos os dias para a construção de um “território-rede”, capilar e articulado, entre os diferentes atores com o propósito da sua valorização coletiva. 
O que os territórios como o nosso precisam é algo aparentemente simples que na prática é, por vezes, complexo, e que passa pela construção de uma economia de proximidade com identidade assente em pressupostos orientadores claros e objetivos definidos, articuladamente, pelos diversos intervenientes que “produzem” dinâmicas comunitárias, desenvolvem o tecido empresarial ou acrescentam valor aos recursos do território.
Mas, que pressupostos são esses? Tomando como objeto de análise o território onde habitamos parece-nos que a tentativa de resposta, embora igualmente complexa e discutível, deve apontar para a argumentação – e quase frase feita - que expomos: o nosso território não pode ser aquilo que nunca foi porque é nas singularidades que se definem campos de ação capazes de projetar e acrescentar valor. 
No caso da Beira Baixa, vivemos um território com caraterísticas próprias, com fortes potencialidades naturais, culturais, patrimoniais, de produção agrícola (no sentido lato do conceito) e florestal. 
Humildemente, defendemos que o futuro deste território passa pelo desenvolvimento de uma economia de proximidade identitária, onde as cadeias curtas de produção assumem protagonismo e as infraestruturas físicas e digitais evidenciam-se claramente disponíveis para colocar no mercado o melhor que somos capazes, articuladamente, de produzir. 
Na Beira Baixa temos municípios que sempre se dedicaram (ou se dedicam) à agricultura, à hortifruticultura, à floresta, ao setor agroalimentar, entre outras múltiplas áreas. Acreditamos que devemos incentivar a continuidade deste caminho explorando novas áreas que permitam gerar de modo sustentável mais valias para a comunidade e captar mais pessoas que se dediquem estrategicamente às mesmas.  
A grande mudança passa, primeiro, pela alteração de mentalidade relativamente aos trabalhos (essencialmente manuais) que sempre nos definiram e, em segundo lugar, pelo processo de modernização, através da aposta no conhecimento cientifico e da inovação, das áreas chave permitindo que “a nossa terra” se torne cada vez mais competitiva e também rentável. 
A arte, a tecnologia, a criatividade, a formação e a infraestruturação física e digital adequadas ao desenvolvimento destas áreas e a majoração das mesmas para novos projetos que possam surgir reforçando assim o tecido empresarial regional e local, através dos programas nacionais e comunitários de incentivos à economia, constituem elementos fundamentais para tornar mais produtivos e atrativos estes territórios. 
Uma economia sustentável com identidade apresenta-se como uma visão possível, e a nosso ver desejável, para os territórios de baixa densidade que, por sua vez, permitirá garantir o acesso a mais e melhores serviços, permitirá uma maior capacidade de reivindicação, instigará ao desenvolvimento de um sentido crítico mais apurado e, no fim de contas, impulsionará um investimento nas pessoas, na sua qualidade vida e no bem-estar da comunidade. 
Além desta dimensão produtora da nossa região assente no desenvolvimento do “território-rede”, entendemos que devemos apostar fortemente na valorização da arte e dos recursos naturais e culturais disponíveis. Neste sentido, torna-se urgente promover o território transformando-o num “território-desejado”. É oportuno que os intervenientes territoriais sejam capazes de estimular a necessidade de visitar o território. Este processo de construção do “território-desejado” pode estar ancorado a aspetos materiais ou imateriais, a redes temáticas, ou a temas com história, a memórias e a experiências, entre tantos outros aspetos possíveis. Foi neste sentido que António Covas, a 28 de abril de 2022, escreveu no periódico Sul Informação que “os territórios precisam de ser convertidos em objetos de desejo” potenciando a sua atratividade, sem, contudo, desvirtuar as raízes onde se encontra ancorado.  
Para que tal aconteça, é cada vez mais oportuno definir coletivamente um projeto territorial que coloque ao centro a importância da criatividade e do talento enquanto fatores chave do desenvolvimento e da atratividade destas regiões. Neste campo, o turismo criativo pode ser uma porta de entrada capaz de dar a conhecer as gentes e as terras, enquanto experiência e como elemento diferenciador dos territórios, permitindo a quem pretenda conhecer o mesmo, que essa visita se transforme numa experiência inesquecível e um contacto para a vida. Afinal, de acordo com a Unesco (2006), o turismo criativo corresponde a experiências singulares e autênticas, a aprendizagens de saberes e ofícios locais, em articulação direta com quem vive no território, permitindo a construção de dinâmicas territoriais, envolvimento comunitário e conexão com os lugares criando uma “cultura viva” (Duxbury & Richards, 2019, p.3).
Esta breve reflexão, cuja responsabilidade é apenas de quem a escreve, pretende cruzar dois conceitos chave que podem servir de chapéu ao desenvolvimento sustentável e integrado da nossa região. Por um lado, a necessidade de caminhar para a construção de uma economia de proximidade, no interior de um “território-rede”, valorizando produtos locais e, consequentemente, o território. Por outro lado, embora articulado com o que acabamos de afirmar, a oportunidade de cada vez mais caminhar para a construção de um “território-desejo” onde se apresentam e potenciam as paisagens, a arte, a cultura e as tradições, estimulando o turismo criativo, de experiências e de emoções.       
 

 

COMENTÁRIOS

Maria José De Sousa
No ano passado
Muito bom saber que estamos de acordo. Parabéns pelo artigo.