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Leitores: Cantinho da Saudade. Memórias

João Manuel Videira de Amaral - 25/05/2023 - 10:27

Como jovem aluno inscrito no Liceu Nun’Álvares em Castelo Branco, nos anos letivos 1953/54 e 1954/55, já adolescente, vivi uma época inesquecível, com muitas recordações, que se poderão encaixar no “Cantinho” da Saudade.

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1. Como jovem aluno inscrito no Liceu Nun’Álvares em Castelo Branco, nos anos lectivos 1953/54 e 1954/55, já adolescente, vivi uma época inesquecível, com muitas recordações, que se poderão encaixar no “Cantinho” da Saudade.  
Vindo da Cova da Beira (Fundão, entre a Estrela e a Gardunha), e reconhendo-se na época a vantagem de optar pelo ensino oficial, escolhi a antiga “alínea F”, a qual dava acesso à área de que incluía a Medicina. E tive sorte na minha preparação para a Universidade, pois fui colocado numa turma com alunos e professores excelentes, o que muito me estimulou.
O grupo da Cova da Beira incluía o José Filomeno Agapito, meu amigo de infância no Fundão, o António Fazendeiro e o Paulo Nina Oliveira, da Covilhâ. 
Da Gardunha sul (Alpedrinha) faziam parte o Manuel Venâncio e o M. Evangelista. O trajecto matinal diário para o liceu veio a permitir frutuoso e frequente convívio com o Mário Freire (beirão/alentejano), vindo do bairro do Cansado, e apanhando o grupo do Fundão, morando (ao tempo) na Marechal Carmona

2. Gostava de deixar palavras breves sobre alguns dos professores que, segundo o meu critério, me surpreenderam por certas especificidades do foro humano e profissional. 
- O Reitor Sabastião António Morão Correia, humanista e conciliador, diplomata pelo modo empático como lidava com as pessoas. Nunca esquecerei acolhimento a que tive direito pelo facto de ser aluno “estreante” na instituição escolar que liderava; também me disse, nesta circunstância, que iria ser integrado numa turma com alunos excelentes, o que comprovei ao longo do tempo.  
- A Professora Julieta, da área das Ciências Naturais, pela seu espirito metódico de grande rigor, de saber e sabedoria, conduzindo à prática de um ensino demonstrativo de grande competência. 
- Os Professores Arlete e Duque Vieira, que, regendo uma disciplina, para mim nova, a Filosofia, me despertaram a importância da ciência do conhecimento, incutindo-me a ideia da necessidade de pensar em “certas coisas da vida e do nosso cosmos” em que nunca tinha pensado. Ou seja, deram-me enorme contributo em prol da aquisição da maturidade para a vida
- Cabe agora uma referência especial ao Professor José Sena Esteves, o de idade mais avançada, o qual leccionava Físico-Químicas. Era conhecido por Mano Zé, em paralelo com o seu irmão, Mano João, que leccionava Ciências Naturais noutra turma. Sendo a idade directamente proporcional à permissividade e facilitismo, tal circunstância levava muitas a cenários na relação professor-aluno menos próprios e talvez mesmo, caricatos.  Mas, na minha perspectiva, tal aparente disfunção relacional consubstanciava certa dose de afectos à mistura. 

3. Falando do biénio 53/55 do século passado, nunca será esquecido um fenómeno da natureza, com enorme poder de destruição inabitual nas nossas latitudes, e que protagonizei (um tornado) cuja força fez voar e rolar pessoas, pedregulhos e automóveis, tudo o que “apanhava” à frente. Com consequências brutais e trágicas, infelizmente ceifou a vida duma nossa colega – a Gabriela. Num gesto nobre de heroicidade e solidariedade, o colega Manuel Pina de Carvalho, futuro médico, ainda tentou, sem êxito, salvá-la. 
Para terminar, entendo que devo referir-me de modo especial aos amigos do grupo que, infelizmente, já não estão entre nós. E, com emoção, acrescento, são muitos! Sendo o Cantinho da Saudade um curto espaço, e no meu espírito de amizade e admiração havendo lugar para todos aqueles, opto por citar os ausentes com quem tivera mais oportunidade de convivência, ultrapassados os dois anos lectivos: o José Filomeno Agapito, o António Fazendeiro e o António Figueiredo.  Tendo abordado sucintamente um período da vida inesquecível que muito me marcou, é importante referir que a minha lista de amigos cresceu muito.  De modo diverso todos me influenciaram, o que me ajudou a ficar mais preparado para a vida. Obrigado a todos. 
João Manuel Videira de Amaral

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