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Leitores: Recordações de uma aluna do liceu Nun Álvares

Alcina Magalhães - 13/04/2023 - 9:29

1 de Outubro de 1948: a minha entrada no Liceu Nun’Álvares! Aquela recepção feita no ginásio (tão grande!) pelo Sr. Reitor, Dr. Sérvulo Correia...

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1 de Outubro de 1948: a minha entrada no Liceu Nun’Álvares! Aquela recepção feita no ginásio (tão grande!) pelo Sr. Reitor, Dr. Sérvulo Correia que eu ouvi religiosamente (“não se corre nos corredores, não se escreve nas carteiras”, etc., etc.) e que percebi que eram “ordens” para cumprir. 
Depois, a saída da aldeia, passar de uma para vários professores que, para mim, eram todos igualmente importantes, dos Lavores à Matemática: eu queria aprender tudo o que me ensinassem, com ou sem classificação.
Recordo muitos desses professores, de um modo geral com saudades, da bondade que manifestavam quando me repreendiam: a Profª Cacilda, no Francês que, perante os erros nos exercícios, dizia aqueles “ai, ai, ai, ai, ai, ai…”; a Profª Júlia Frade e a sua exigência em Português (e a minha frustração pelo ditado semanal); a Profª Maria Alice, de Matemática, com os seus dias de mau feitio, mas muito exigente, o casal Maria Amália e João Furtado e a sua paciência para nós, a Profª Julieta nas Ciências Naturais, o Prof. Almeida Esteves (que me tratava carinhosamente por “colega” quando no 7º ano lhe disse que ia para Matemáticas, enfim, não vou mencionar todos porque sei que o espaço é curto.
Não posso esquecer o Prof. José Sena Esteves (mais conhecido por nós por “Mano Zé), de Físico-Químicas, do 4º ao 7º ano e um episódio, dos muitos que poderia contar, ocorrido no último ano. Eu e a minha colega e saudosa Luísa Goulão estávamos a fazer umas luvas de crochet, por baixo do tampo da carteira. Eis que, entretanto, um colega meu é chamado pelo Mano Zé para ir ao quadro, quando o aluno lhe diz: “senhor doutor, chame as meninas que vêm para aqui fazer coisinhas”. Fui apanhada e, perante um “até tu, menina!”, desculpei-me com a primeira mentira que me ocorreu: “eu estou com atenção e as luvas são para o Senhor Cruz (empregado do laboratório de Físico-Químicas) que tem muitas frieiras!” Claro está que fui absolvida e, com a Luísa, lá fizemos as luvas que, depois, entregámos ao Senhor Cruz.
Não esquecerei, nesse 7º ano, o tufão de 6 de Novembro de 1954 que ceifou a vida da nossa colega Maria Gabriela. Não fizemos, por isso, festa de finalistas e que me fez pensar, pela primeira vez, que se pode morrer bem jovem.
Dos professores e dos empregados, guardo boas lembranças; eles contribuíram para a nossa formação e eram respeitados, o que agora, nem sempre, acontece com muitos professores. Foi nesse período de sete anos que, entre colegas, fizemos amizades sólidas e que perduram até hoje. Um balanço? Gostei muito do “meu liceu” e a palavra que me ocorre é “saudade”.
 

COMENTÁRIOS

JMarques
No ano passado
Eram para cumprir...
Agora são para infringir.