Situada no coração da zona histórica, ao início da rua de Santa Maria, a Casa do Forno é inaugurada esta quinta-feira, às 19H00, e devolvida aos albicastrenses. O imóvel adquirido pela Câmara de Castelo Branco, ainda com o Joaquim Morão como presidente com o objetivo de ser recuperado, acabou por passar para as mãos da Junta de Freguesia que o requalificou (num investimento de 150 mil euros) e o pretende devolver não apenas aos cidadãos, mas também às associações e entidades do concelho.
HISTÓRIA “Este era um forno privado, usado pela comunidade dos bairros do castelo e da Sé partir de finais do século XIX. Durante muito tempo a sua utilização era paga a troco de géneros, como uma parte do pão ou bolos aqui cozidos, por exemplo”, começa por explicar José Pires, presidente da Junta albicastrense, lembrando que a sua avó ainda ali cozeu pão.
Mas o forno original, que se encontra dentro da casa que foi totalmente recuperada, com a assinatura do arquiteto Mário Benjamim, “pode ter as suas origens na época medieval. A ser assim, nessa altura pode ter servido como forno comunitário, diz José Pires, enquanto nos mostra o forno, cuja sua dinamização ficará a cargo da Casa da Infância e Juventude (CIJE), tendo em conta o regulamento que será discutido e votado na Assembleia de Freguesia.
O forno a lenha original, que funcionava na casa com a chamada telha vã, não irá ser utilizado. À sua frente e na sala principal da Casa foi colocado um outro tradicional. E é esse que irá funcionar. Há depois um espaço de apoio, com um balcão de cozinha, e ao nível do primeiro andar surge uma sala e um varandim interior com vista para a sala principal. Cá fora, um painel de João Robalo, alusivo ao tema dá o mote para o que lá está dentro.
SOLIDARIEDADE A sua utilização para cozer o pão e outras iguarias poderá acontecer entre duas a três vezes por semana. A partir de setembro vai ser feita a experiência. “No primeiro mês de funcionamento iremos cozer duas vezes por semana e no segundo mês aumentaremos para três vezes. Depois decidiremos”, esclarece José Pires.
A Casa só abrirá ao público no caso de haver atividades programadas, à semelhança do que acontece com Casa do Arco do Bispo.
Neste processo o autarca diz que terão prioridade as instituições e associações, sendo que aquelas que fazem trabalho solidário usufruirão do espaço de forma gratuita. Os albicastrenses também estão na lista dos utilizadores prioritários, seguindo-se entidades sens fins lucrativos e organizações de fora do concelho. “O valor cobrado será entregue, no final do ano a instituições de solidariedade”, acrescenta. Numa outra perspetiva, mais pedagógica, José Pires considera que a Casa também estará aberta às escolas e aos seus alunos.
DESAFIOS O funcionamento da Casa do Forno dará origem ao projeto “Os vossos pratos nas vossas mesas”, que pretende recuperar e dar a conhecer receitas típicas e tradicionais da região. “Queremos descobrir os verdadeiros pratos albicastrenses. As provas dessas refeições serão feitas aqui e no final, além de prémios, poderemos editar um livro”, sublinha.
A recuperação deste espaço constitui, no entender de José Pires, “um sinal daquilo que queremos fazer do património edificado”, anunciando duas intervenções no Bairro do Castelo: uma na antiga sede dos escuteiros, junto á Igreja de Santo António e outra na rua D’ega.
Valorizar a memória e preservar a tradição
O atual presidente da Câmara, Leopoldo Rodrigues, que iniciou o projeto de requalificação da Casa do Forno enquanto responsável pela Junta de Freguesia albicastrense mostra-se satisfeito com a concretização desse objetivo. “É importante por várias razões. Trata-se de um edifício que estava devoluto e que se recupera na zona histórica dando-lhe a utilização que ele teve”, começar por referir.
Desta forma, diz, "valorizamos a memória, mantendo o forno original de grandes dimensões, e preservamos a tradição de ali se cozer o pão ou os bolos, com a construção de um novo forno”.
O autarca olha para aquele espaço como mais um trunfo a favor da zona histórica da cidade, onde o Município pretende investir. “É também um espaço que permite a realização de ações de formação e de reflexão, que pode acolher exposições e que tem a particularidade de ter uma área de observação do funcionamento do forno”, acrescenta.
A inauguração da Casa será feita esta quinta-feira, com uma encenação teatral a cargo do grupo Váatão, onde serão recordadas algumas figuras típicas do bairro do castelo e da cidade albicastrense de tempos idos, como o Zé Gavetas.
A partir de quinta-feira aquele espaço acolherá também uma exposição de bordado de Castelo Branco (espólio da Junta de Freguesia), cujos trabalhos foram feitos a partir do 25 de abril de 1974.