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Leitores: Castelo Branco: Ainda a biblioteca municipal

Leonel Azevedo - 14/09/2023 - 10:24

Resposta aos artigos saídos em “Reconquista”, n.º4042, 31 de Agosto de 2023, pp. 26 e 27.

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Ainda a biblioteca municipal

Resposta aos artigos saídos em “Reconquista”, n.º4042, 31 de Agosto de 2023, pp. 26 e 27.

1. Em relação ao primeiro, da página 26, em estilo chão e insultuoso, não respondo. Basta ler o intróito para perceber que é dirigido a alguém do quilate intelectual da autora.

2. Em relação ao segundo, assinado por José Dias Pires, com a frontalidade que o assunto merece, respondo assim.

Em primeiro lugar, a minha resposta pretende combater uma atitude muito em voga, não apenas na nossa cidade (que o título do artigo denuncia e ilustra), mas espalhada por toda a parte, como cizânia em seara de trigo: a atitude da intolerância. No caso presente, a intolerância cultural sobre pessoas que não tenham o mesmo conceito, que não façam o mesmo juízo dos admiradores da obra de um autor. Quem ousa, por sinceridade, frontalidade e honestidade de espírito e de análise proferir um juízo — abonado a partir da formação académica que tem e da faculdade de julgar que educou ao longo de anos com leituras de poesia e de ensaio literário — é recebido com insultos ou atestados de ignorância. Pelo contrário, se mostrar uma admiração submissa ou proferir uma epifania laudatória integra logo, como confrade, o reino dos eleitos, dos amigos, no círculo de admiradores do autor. E dá-se este estado de coisas, muito frequentemente, tanto no que toca aos escritores, como aos artistas e outros grupos elitistas da sociedade. Porque, digamo-lo, para uma grande parte dos leitores (e até de alguns escritores), a publicação de um livro de poesia é uma espécie de rito iniciático em uma arte superior, inacessível ao comum dos mortais e, desse ponto de vista, quem atinge esse limiar tem de ser olhado como uma espécie de demiurgo ou génio — e ai daquele que não lhe preste vassalagem. Jorge de Sena diagnosticou há muito (e muito bem) o problema: “Um dos males terríveis da crítica portuguesa, desde que tal coisa se supõe que existe, é o não aceitar-se ninguém senão de génio para cima, não reconhecer como génios possíveis os que o possam ser, e encher-se depois o vácuo do panorama literário com as nossas preferências e aborrências. Há que reconhecer-se que as épocas se fazem da mais variada gente, de muito diversa qualidade, e nem toda sempre conforme com as nossas ideias do que seja excelência da poesia.” (Sena, Jorge de, Líricas Portuguesas, 2.ª edição, Edições 70, Lisboa, 1984, pp. XXI-XXII) Neste país, tão pequenino em tantas coisas, é prodígio os génios acotovelaram-se uns aos outros na rua, não caberem em tão exíguo espaço. Por isso, capelas, capelinhas, círculos mais ou menos herméticos de gente — que se apinha a adorar, a lisonjear e aspergir hossanas de admiração e êxtase — é o que mais há. Quem não o faz é um herético, um ignorante, um má-língua. No caso presente, as expressões de que o meu testemunho é um “arrazoado” de “opinião doentia” e que ao empregar expressões como falange de apoiantes ou admiradores pretendo “amesquinhar” o poeta ou quando afirmo que é um poeta menor, é uma heresia maldosa!, e vai de se recorrer de testemunhos de alguém que aprecia a sua obra e isso, por si só, prova que o meu arrazoado não vale nada, tais juízos ilustram à saciedade essa intolerância.

Uma pessoa, cuja formação não esteja refém do conceito de cultura geral distribuído em rações diárias nos programas televisivos, encontra, ao longo da história da literatura portuguesa, juízos de valor divergentes e até contraditórios sobre obras e autores, em relação aos quais nos parecia que o juízo geral podia ser consensual. E não vem mal ao mundo por isso, excepto se as pessoas estão obcecadas por fazer passar a imagem que mais lhes convém, agrada, aquela que fazem sob o chapéu da admiração ou da conveniência. Dou-lhe dois exemplos: Mário Cláudio afirma que o poeta António Nobre é maior do que Fernando Pessoa, juízo de que discordo liminarmente; na mesma linha de pensamento, causa-me perplexidade e, mais importante do que isso, dificuldade de compreensão saber que Fernando Pessoa colocava o livro “Pátria”, de Guerra Junqueiro acima de, ocupando o primeiro lugar em relação a, “Os Lusíadas”, de Camões. Discordo de ambos os juízos, mas jamais me passaria pela cabeça insultar ou amesquinhar os autores de tais teses (como a sua intolerância cultural fez em relação ao que escrevi). O que eu gostaria era discutir, debater, ouvir os seus, deles — e fazer-lhes ouvir os meus — argumentos. Estou seguro de que tinha muito a ganhar e eles, caso fosse possível debatermos, pouco a perder.

Sabe sr. José Dias Pires (e Sr. presidente da junta de freguesia e membro da assembleia municipal de Castelo Branco), debata, confronte, polemize unicamente sobre ideias ou palavras impressas no meu artigo. Não entre nesse jogo de cintura de dizer que eu suponho, que eu estaria de acordo com, aquilo que supõe (ou imagina) acerca de poetas maiores e menores, críticos reputados, etc. etc. — esses atalhos linguísticos, qualquer pessoa frontal e intelectualmente honesta, despreza. Naquilo que escrevi está em jogo apenas e tão só a obra do poeta António Salvado (que é a questão, para mim, de menor importância) e a escolha do seu nome para substituir o de Jaime Lopes Dias (que é a questão central e polémica).

2.4 A opinião de um crítico literário (e podia juntar outros), que aduz para reforçar os seus intentos, respeito-a. Assim respeite os juízos de aquele que achou ser a sua escala, por enquanto, a de um poeta menor, quando considerado no plano nacional e que a história da literatura, no juízo que os tempos esculpem há-de colocar no lugar certo. Para acrescentar aos livros da poesia de A. Salvado que li e, a fim de justificar e reforçar o meu juízo sobre o seu papel secundário na poesia portuguesa e avivar a memória sobre estas matérias, compulsei um punhado de antologias da poesia portuguesa do século XX (as mais emblemáticas) e, por fim, três estudos nos quais se traça uma panorâmica da produção poética nacional para o mesmo período. Em nenhuma antologia aparece uma selecção de poemas dele. A de Maria Alberta Menéres e Ernesto Melo e Castro (Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa, Livraria Moraes Editora, Lisboa, 1959), — aqui se lhe faz uma referência bio-bibliográfica (p. 346), como a muitos autores não seleccionados e que publicaram livros até ao ano de 1959 (de resto, com outro arranjo, na 3.ª edição, publicada em 1971, o seu nome é citado, em uma lista de 85 poetas que não foram incluídos, mas cujos nomes, declaram os organizadores, merecem ser impressos); a dos mesmos organizadores, em dois volumes, (Antologia da Poesia Portuguesa 1940-1977, Livraria Moraes Editora, Lisboa, 1979), bastante prolixa para o período em questão, 88 poetas representados; a de António Ramos Rosa (Líricas Portuguesas, 4.ª série, Portugália Editora, Lisboa, 1969), a qual continua as de Cabral do Nascimento e de Jorge Sena e cujo critério principal para seleccionar os autores é o cronológico, pela data de nascimento (neste caso, do ano de 1930 ao de 1941); a de Osvaldo Manuel Silvestre e Pedro Serra, Século de Ouro, Antologia Crítica da Poesia Portuguesa do Século XX, Angelus Novus & Cotovia, Braga, Lisboa, 2003; a de Gastão Cruz (Ao Longe os Barcos de Flores, Poesia Portuguesa do Século XX, Assírio & Alvim, Lisboa, 2004). Repito, em nenhuma encontrei poemas seus, a grandeza propalada pelos seus admiradores é aqui ignorada. Agora os estudos: o de Adolfo Casais Monteiro, A Poesia Portuguesa Contemporânea, Sá da Costa, 1977, sem qualquer referência; Fernando Guimarães, em Simbolismo, Modernismo & Vanguardas, Lello & Irmão Editores, Porto, 1992, faz-lhe uma referência, não nos estudos, mas quando apresenta o levantamento das revistas saídas dos prelos entre 1899 até 1980 (200, onde é citada a revista “Folhas de Poesia”, cujos organizadores foram António Salvado e Hélder Macedo, p. 255); o estudo mais importante, dos que li, da autoria de Fernando J. B. Martinho, inserido na colectânea que faz um balanço geral da literatura portuguesa de todo o século XX e procura traçar as linhas gerais das grandes formas de expressão literária: a poesia (súmula dos movimentos e poetas decisivos), a dramaturgia, a narrativa e o ensaio literário (intitulada Literatura Portuguesa do Século XX, Cadernos Camões, Instituto Camões, Lisboa, 2004, pp. 12-53), ignora o poeta A. Salvado, em um universo de 146 poetas, citados ou estudados. Publicaram-se outras antologias muito mais restritivas (ou porque são temáticas e isso condiciona logo a escolha — como a da poesia erótica, de Eugénio de Andrade; ou porque são focadas em um ano de publicações, como a Poesia 71, de Fiama Hasse e de Egito Gonçalves) e, desse modo, restringe a selecção. A. Salvado não figura em nenhuma. Outros, muitos, ensaios literários saíram sobre o século XX. Aquele em que encontrámos referências sobre António Salvado, duas, foi o de Fernando Guimarães, A Poesia Contemporânea Portuguesa, Do Final dos Anos 50 ao ano 2000, 3.ª edição, Quasi Editores, Vila Nova de Famalicão, 2008, pp. 11 e 38. Foi o estudo e a leitura de estes e de outros livros, os quais começam a desenhar o corpus de síntese e arrumação da história da literatura contemporânea, em especial no que ao século XX tange, que me autorizaram a empregar a expressão de que é, por enquanto, poeta menor no panorama nacional. E não preciso de enumerar os títulos académicos, nem carregar nos adjectivos para atestar a idoneidade dos estudiosos que li — porque acho esse procedimento absolutamente ridículo — como o Sr. José Pires faz no seu artigo, puxando o lustro ao sapato das suas conveniências para desferir um pontapé diplomado, a fim de causar impressão em leitores facilmente impressionáveis. Quem conhece um pouco de história da literatura conhece os estudiosos e os organizadores de antologias que mencionei. Finalmente, pergunto: esta ausência da grandeza do poeta albicastrense dos palcos nacionais da poesia não lhe suscita nenhuma revisão de ponto de vista?, nenhum questionar sério e desapaixonado do seu lugar, do seu papel, assim ignorado, na esfera nacional?

2.5 Não faz qualquer sentido o Sr. invocar as tertúlias e os poetas com quem privou para aquilatar, ajuizar ou defender o valor da sua obra. Em todo o século XX, os grupos de literatos e artistas que se reuniam à volta de 1, 2 ou mais cafés, de 1, 2 ou mais revistas, perduraram até à década de 1970 e desses grupos saíram os expoentes máximos da nossa poesia, como por exemplo, Camilo Pessanha, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, José Régio, Jorge de Sena, Ruy Belo, Sophia, Eugénio de Andrade, entre outros. Só nas últimas duas décadas do século passado se assistiu a um estilhaçamento e até mesmo a um declínio das tertúlias, dos grupos, das revistas — ou, se quisermos ser mais prudentes, a um abrandamento destes comportamentos e meios de divulgação. Na verdade, muitas das revistas serviram de alavanca e foram veículo privilegiado dos mais importantes movimentos literários da centúria (como o modernismo, o saudosismo, o surrealismo, o concretismo, etc.). Em todos esses grupos existiram os mais e os menos bem sucedidos, os poetas que fizeram um percurso notável e são hoje referências de âmbito nacional e os que tiveram menos fulgor, ou aqueles que pura e simplesmente se eclipsaram ou perderam.

2.6 Do mesmo modo, também não faz qualquer sentido invocar o contacto pessoal com um grande poeta ou um grupo deles para discutir ou avaliar as qualidades de uma obra individual e intransmissível, pois o saber não se adquire por proximidade ou contaminação em relação às pessoas que nos rodeiam. Nem os conhecimentos de uma pessoa se vazam para outra, como se despejássemos líquido de um copo para outro copo. (Tudo isto está dito e escrito, infinitamente melhor dito e escrito, na cultura antiga, em especial nos diálogos platónicos.) Que o contacto, o convívio ou o debate de ideias com essas pessoas enriqueceram a sua experiência de vida, a sua formação ou o seu gosto estético, não há dúvidas; que isso pode apresentar-se como argumento para valorizar a sua obra, não, nem por sombras. E o mesmo digo dos prémios e das consagrações públicas. Os prémios significam o reconhecimento de um livro ou de uma obra e devem ser inseridos no complexo de condições sociais, políticas e culturais do meio, nas contingências de gosto e formação, nunca controláveis (e ainda bem) dos membros do júri, etc. etc. Importantes para o autor se afirmar perante os seus pares (mas não esqueça que há autores que desprezavam-nos, como Herberto Hélder ou Th. Bernard). Agora, convocá-los, para juntar ao rol de sinais qualitativos de uma obra literária, como faz, tem um significado análogo a alguém avaliar a beleza de um modelo pelos anéis que traz nas mãos. (Lembre-se aqui, de passagem, que até Vasco Reis ganhou um prémio nacional de poesia, onde estava a concurso uma obra genial de F. Pessoa.)

O problema essencial de tudo isto bate, essencialmente, neste ponto. Em geral, o ser humano reage mal à crítica, prefere um elogio falso a uma crítica sincera. (Quanto a isso, a esmagadora maioria dos espécimes humanos não mudará.) Exactamente o contrário do que preconiza S. Agostinho — e outros grandes pensadores da humanidade na sua peugada (como Nietzsche) — ao dizer que preferia os que o criticavam porque ajudavam a corrigi-lo, aos que o bajulavam porque perpetuavam os seus erros. Ora, ao contrário da intolerância cultural dos admiradores de A. Salvado em relação ao que escrevi, eu não empequeno a opinião alta que têm dele, apenas a questiono e digo que ela não está em conformidade ao que existe de sistematizado sobre a poesia do século XX, nem está confirmada pelo juízo supremo do tempo. E se, porventura, eu estiver enganado, se a história da literatura colocar o seu nome no centro dela — apesar de o desenho que as sínteses literárias começaram a configurar há décadas não o sugira, de todo em todo — eu serei o primeiro a fazer “mea culpa” — se o destino ainda me conceder então a graça de estar vivo. Da mesmíssima maneira como Fernando Pessoa, à última da hora, com o livro na tipografia, alterou, por sugestão do amigo Alberto da Cunha Dias, o título do seu livro “Portugal” (por existir uma mão cheia de hotéis com esse nome e a fábrica de sapatos mais conhecida no país o ter adoptado) para “Mensagem”, alterarei o meu juízo e, nessa altura, seguirei as pisadas que os estudiosos aconselharem para melhor entender a sua poesia. Diz ele: “Concordei e cedi, como concordo e cedo sempre que me falam com argumentos. Tenho prazer em ser vencido quando quem me vence é a Razão, seja quem for o seu procurador.” (José P. Cavalcanti Filho, Fernando Pessoa, uma Quase Auto-Biografia, Porto Editora, Porto, 2012, p. 576).

3. Entremos agora na questão principal: a da mudança de nome da biblioteca municipal. Afirmei no meu artigo anterior o seguinte: discordo que se atribuam nomes de pessoas às instituições públicas; que se a biblioteca tivesse de ter um nome, cujo critério de escolha fosse o histórico, isto é, o da fundação, esse nome seria o do médico José António Morão (pois que a criou antes de ela existir, de facto), que, uma vez atribuído o nome de Jaime Lopes Dias, em 1984, não se devia substituir por outro.

3.1 No seu artigo o Sr. José Pires invoca a questão do baptismo, da falta dele. Qual o baptismo de que fala?, não sei se está a pensar no do sacerdote dentro do templo, se no descerrar da lápide para a fotografia da praxe. Eu contraponho-lhe o do rio Jordão — careceu de todas as autorizações eclesiásticas e administrativas! Foi ilegal! E que se acautelem as autoridades do Vaticano, que se a câmara e a assembleia municipais de C. Branco pegam no caso, se se interessam por ele, ainda vão fazer um baptismo póstumo para legalizar a situação.

3.2 O Sr. não se lembra (ou finge não se lembrar?) que na parede lateral do antigo edifício da Câmara Municipal, à entrada, estava afixado o letreiro “Biblioteca Municipal Jaime Lopes Dias”. Não lhe é suficiente esse baptismo e a palavra prometida — e cumprida — do presidente da edilidade de então?

3.3 O sr. acusa-me de ter uma opinião doentia e maliciosa e eu devolvo-lhe os adjectivos, embrulhados em papel celofane e intactos, por causa da alteração que, entre outros, ajudou a perpetrar. Se lhe faltava o baptismo, como alega e eu discordo, por que razão não propôs formalizar agora aquilo que há 40 anos foi, segundo os parâmetros actuais, deficientemente formalizado? Mostravam respeito por quem fora homenageado e por quem homenageara. Mas não, era necessário tirar do assento quem lá estava, mesmo que seja às custas dessa erro formal e assim sentam no trono quem admiram e desejam que lá esteja. E eu volto a dizer: não é o melhor patrocínio para divulgar e dar a conhecer a obra do autor, mas é um penacho importante que oferecem à sua memória, não o impedindo da imortalidade do esquecimento, que a todos nós há-de consumir. Porque o protagonismo, nesta sociedade fútil e descartável, é o trunfo mais importante que alguém pode ostentar perante a opinião pública.

Se o assunto fosse tratado com competência e isenção, a alterar-se o nome da biblioteca, as pessoas responsáveis pela proposta deviam apresentar a “concurso” um conjunto de figuras locais notáveis (que Castelo Branco representasse, quer enquanto concelho, quer enquanto distrito) nas áreas das letras, das ciências ou das artes. Por conveniência, vamos chamar-lhe “vultos regionais” (alguns deles de envergadura nacional) ou algo no género. Deviam estudar ou mandar estudar (a membros dos institutos de investigação das Universidades) os passos principais da sua actividade profissional, aquilo que estudaram, fizeram, descobriram, inovaram. Por certo, nesta galeria de ilustres encontrariam uma dezena de grandes figuras que se destacaram, muito acima dos seus contemporâneos, nas áreas de estudo a que se dedicaram — na filosofia, na teologia, na literatura (prosa e poesia), nas ciências (médicas, matemáticas, etc.), na pedagogia, na etnografia, na pintura, etc. E então sim, tendo ao dispor uma biografia profissional, sucinta, mas ilustradora da actividade de cada uma das figuras, escolher aquela que, no parecer do hemiciclo, melhor representasse a região nesse vasto e indefinido universo a que chamamos cultura. Até afirmo mais, se quisessem alargar os critérios de selecção a figuras de dimensão nacional, a vultos nacionais do campo da cultura, não achava mal. Um procedimento assim, apesar de, por uma questão de princípio, discordar da atribuição dos nomes às instituições públicas, não me faria vir a terreiro protestar.

Isso dava trabalho, pelo que o estudo apresentado resumiu-se à magreza de um nome, cujo princípio cultural de debate é o de levantarem o dedo, contarem e, aí está, aprovado por esmagadora maioria! Santa pobreza! Uma escolha democraticamente imposta: ou é o nome proposto ou o nome do proposto.

Uma nota final. Mexia com os brios do poder local e dos admiradores da obra do poeta a biblioteca ter o nome de Jaime L. Dias e em operação cosmética, típica da política local, impõem ao público o novo visual. Já não lhes faz problema nem lhes consome as energias, saber que a biblioteca há mais de 20 anos não tem director, não tem um plano de aquisição de obras, vocacionado para os alvos prioritários dela, estudado com vagar e saber (no qual se devia contemplar a aquisição de tesouros bibliográficos nacionais de autores da região), nem tem um protocolo com as outras bibliotecas do distrito para permuta de obras que interessassem mutuamente, nem tem um plano de republicações de livro antigo (daqueles que a justificassem), nem continua a Relação Onomástica, começada na década de 60 e da qual saíram 2 volumes, letras A a G, e que é de capital importância para leitores e investigadores, nem…nem… nem… Como existe e como funciona, a biblioteca municipal é uma simples repartição de serviços da câmara.

 

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