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Castelo Branco debate Brasil e os perigos da ditadura

João Carrega - 04/06/2018 - 8:31

O antigo ministro da Saúde da presidente brasileira Dilma Rousseff considera que o Brasil foi alvo de um golpe político, jurídico e mediático. Hoje, diz, corre o perigo de regressar à ditadura.

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Antigo ministro esteve em Castelo Branco a convite do PS

"Os brasileiros também se questionam, após o «golpe» político, jurídico e mediático de 2016 (que levou à destituição de Dilma Rousseff do cargo de presidente do Brasil), o que será do Brasil". Foi deste modo que Arthur Chioro, antigo ministro da Saúde do governo de Dilma Rousseff, começou por abordar a situação atual do seu país, num encontro debate promovido pelo Partido Socialista, em Castelo Branco, na passada segunda-feira.

No entender deste professor universitário, o Brasil ainda vive uma democracia muito recente, a qual pode estar em causa. Depois da destituição de Dilma Rousseff, o candidato que a maioria dos brasileiros parece apoiar, o ex-presidente Lula da Silva, está detido e ainda não se saberá se poderá ir a votos. Artur Chioro diz que, mesmo após a detenção, ele é o preferido dos brasileiros: "É o único capaz de vencer e de dialogar. Na segunda volta as sondagens apontam para uma vitória com 70 por cento".

Arthur Chioro, médico, professor na maior universidade de São Paulo, foi ministro de Dilma Rousseff entre 2014 e 2015. Hoje olha para o seu país com apreensão e critica o modo como foi feita a destituição, elogiando a anterior presidente pelo seu modo intransigente contra a corrupção. "Todos sabiam que ela era honesta, o seu grau de tolerância para a corrupção era zero", assegura.

 

REFORMA Para este docente universitário, que está a desenvolver uma investigação no nosso país, o Brasil cometeu alguns erros que acabaram por dar origem à situação atual. "Não fizemos a reforma política - temos 34 partidos políticos e ter um partido no Brasil passou a ser um negócio; não fizemos a reforma administrativa, nem tributária. Na comunicação social, a rádio, a televisão e a imprensa estão nas mãos de apenas seis famílias. Em 2017 terminaria a concessão do sistema Globo, num acordo que já perdurava desde a ditadura militar. E o que se verificou é que muitas das manifestações foram convocadas pela comunicação", explica.

O desenvolvimento que o Brasil teve no período em que Lula da Silva foi presidente, com milhões de brasileiros a ascenderem à classe média, a ganharem poder de compra, e muitos milhões a saírem da pobreza, para além do forte crescimento económico tornaram o Brasil num alvo. "Este sucesso fez com que o nosso país tivesse um peso na ordem mundial. O protagonismo do Brasil cresceu na relação norte-sul, passou a haver uma relação sul-sul. E isso foi visto como uma afronta", refere Arthur Chioro. Facto que fez com que os próprios Estados Unidos da América perdessem alguma influência.

Arthur Chioro veio a Castelo Branco através de um convite do investigador albicastrense Hélder Henriques, tendo participado num debate, na Biblioteca Municipal. Promovido pelo PS de Castelo Branco, a iniciativa foi sobretudo uma conversa com a sociedade, onde marcaram presença, a deputada Hortense Martins, o presidente da Concelhia, Arnaldo Brás, e Luís Correia, presidente da autarquia albicastrense eleito pelo PS.

A terminar e após um debate bastante participativo, Arthur Chioro lembrou que "o Brasil tem uma jovem democracia que vive «encalacrada» e por isso precisamos de toda a comunidade internacional para nos ajudar".

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