Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Castelo Branco: Falta de médicos deixa hospital à margem da lei

José Furtado - 13/10/2022 - 9:38

Sindicato aponta falhas em serviços críticos, como o de sangue. ULSCB assegura que há segurança para os doentes.

Partilhar:

Sindicato ficou apreensivo depois da visita ao HAL. Foto arquivo

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) diz que o serviço de Imunohemoterapia do Hospital Amato Lusitano “está com uma direção médica ilegítima, ilegal” que pode colocar em causa a segurança dos doentes. A afirmação é do secretário regional do SIM/Centro, José Carlos Almeida, que fez parte de uma comitiva que foi recebida recentemente naquele hospital. Segundo o dirigente sindical a lei que estabelece as condições de funcionamento deste serviço “afirma que o responsável do serviço de sangue tem de ser obrigatoriamente um médico especialista em Imunohemoterapia com um mínimo de dois anos de experiência” mas no caso de Castelo Branco não estarão a ser cumpridos estes dois critérios, sobretudo depois de o anterior especialista ter sido desviado para Leiria, acusa o dirigente sindical. O facto de não estarem a ser cumpridos estes dois critérios, diz José Carlos Almeida, coloca em causa a qualidade das transfusões de sangue e afeta a atividade hospitalar de uma forma abrangente.

“O serviço está ilegal. Se está ilegal não pode haver transfusões, se não pode haver transfusões não pode haver cirurgias, politraumatizados, urgência cirúrgica ou partos”, explica o dirigente do SIM. O que acontece em Castelo Branco repete-se na Guarda, o que leva o secretário regional a perguntar de quem é a responsabilidade se algo correr mal.

“Eu sou hematologista, tenho prática de transfusão (…) mas já não faço provas de compatibilidade há uma data de anos. Não me passava pela cabeça ir gerir um banco de sangue, apesar de a teoria ainda cá estar”, exemplifica.

Contactada pelo Reconquista, a Unidade Local de Saúde de Castelo Branco (ULSCB) confirma que o serviço de Imunohemoterapia “encontra-se sob a responsabilidade da Direção Clínica, desde há vários anos, nomeadamente desde 2017, período no qual foi auditado pelo IPST (Instituto Português do Sangue e da Transplantação)”. Entre 2020 e 2022 “contou-se com um especialista de Imunohemoterapia, que por motivos familiares decidiu acompanhar a sua esposa, ocupando as duas vagas num hospital do Litoral”. A ULSCB reforça que mesmo com esta situação “assegura-se a atividade transfusional, mantendo-se a segurança do doente que necessita de componentes sanguíneos, com uma equipa multidisciplinar e experiente, que tem como missão cuidados rigorosos e de excelência”, de acordo com o disposto no decreto-lei que o SIM evoca para apontar a ilegalidade.

O sindicato aponta ainda como problema causado pela falta de médicos “os cirurgiões fazerem em média dois turnos de 24 horas por semana, o que não é legal mas é a melhor forma de o hospital conseguir aproveitar a mão-de-obra que tem”, o que lhe deixa dúvidas se a atividade cirúrgica e obstétrica estará a ser exercida de forma legal

“É ilegal ter turnos de 24 horas? É. Mas às vezes tem de ser, se não o hospital fechava mesmo”.

Sobre esta questão, a administração da ULSCB responde que a equipa de profissionais do Serviço de Cirurgia “desde há muito, mesmo antes das funções da ULSCB (2010), que realiza estes turnos de 24 horas, pelo que a escala continua a ser efetuada pela Direção do Serviço de Cirurgia Geral e presentemente com a presença de um terceiro elemento”.

O comunicado do SIM que apontou estes e outros problemas depois da visita ao Amato Lusitano questiona se este é um hospital “em extinção”. São palavras fortes, assume José Carlos Almeida, mas “um serviço de Cardiologia ou de Obstetrícia com um médico do quadro não é um serviço que está em extinção? O risco é real”. E lamenta que assim seja “porque é um hospital importante da região e cujas instalações não são más, tendo até uma ala de ambulatório nova”.

MATERNIDADE A Obstetrícia é outras das preocupações do SIM, numa altura em que um novo relatório de especialistas aponta para o possível encerramento das maternidades de Castelo Branco e da Guarda, o que na prática significa concentrar o serviço na Covilhã. O Amato Lusitano conta com apenas um médico do quadro, que é o diretor, que se encontra à beira da reforma. Os restantes são tarefeiros.

“É inexequível manter um serviço a funcionar assim, porque o serviço não é só fazer partos. É fazer seguimento de grávidas, fazer ecografias e prestar todo um outro nível de assistência à mulher grávida e à criança que exige diferenciação. Não pode ser com uma consulta avulsa em que hoje temos um médico e amanhã outro”. E sem esse quadro “não há um verdadeiro serviço, há consultas avulsas”. O mesmo acontece com a Cardiologia ou a Urologia, que “foi um serviço de excelência” e tem ainda hoje uma unidade de litotrícia em boas condições e que está, na sua opinião, subaproveitado. Para José Carlos Almeida “as pessoas de Castelo Branco merecem ter um hospital que funcione e olhe por elas e não continuar neste caminho de destruição”.

COMENTÁRIOS

Luisa Campos
à muito tempo atrás
Os nossos políticos são ilariantes! O PS está a arrastar o país para o lamaçal e o mesmo faz com o interior!! António Costa não tem respeito por ninguém e muito menos pelo interior, qual bandeira que só ergue em campanhas eleitorais! Tristes governantes que não estimam o interior e só o utilizam para servir de trampolim para outros voos.
A nova Comissão Concelhia do PS já tomou posse?
Aqui tem um assunto deveras importante, o Hospital Amato Lusitano que em breve poderá encerra várias valências por falta de médicos. Atraiam e fixem médicos, enfermeiros e outros técnicos de saúde para o interior. Sem saúde não há prosperidade!
Como é, quem substitui o insubstituível Comandante, no Conselho de Administração da ULS?!