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Cata-Ventos: 50 Anos de 25 de abril - onde cabem?

Costa Alves - 11/01/2024 - 9:46

Pelos vistos, não cabem. A coisa já estava entaramelada pelas confusões que conhecemos e, agora, enreda-se num emaranhado, outros novelos desenrolam infindáveis novelas eleitoralistas, chovem farpas de dize tu, direi eu, paredes para ricochetes partidários, passagens da mão pelo pêlo a quem se deixa ficar a ouvir tortuosidades, banalidades, soberbas de eu-é-que-faço-e-aconteço. Enfim, nada que nos distancie de um passado que, tudo indica, vai continuar a ser ainda mais futuro.
Esperei que este cinquentenário comovesse a bolha político-mediática. Que fosse digna da (e de) memória do que historicamente representa nas nossas vidas. Esperei e recebi algumas indicações. Vinham da “Comissão Comemorativa 50 anos 25 de abril”, nomeada pelo Governo. Definiu como “objetivo global reforçar a memória e enfatizar a relevância atual destes acontecimentos na construção e afirmação da democracia.” Registei que as comemorações decorreriam entre 2022 e 2026. Coisa em grande e largo. Houve trombetas nos anúncios, mas foram sendo drenados para o quase esquecimento.
Cada ano focava um tema prioritário. “Em 2022, o tema privilegiado é o contributo do movimento associativo estudantil na luta contra a ditadura. (…) Evocam-se também os acontecimentos da Vigília da Capela do Rato.” E, pronto, 2022 passou e quase nada reteve. Pouquíssimo coube no país.
Em 2023, anunciava a Comissão, “as Comemorações evocam o papel do mundo do trabalho e do movimento sindical independente e anticorporativo no combate à ditadura e assinalam momentos significativos na atuação da oposição partidária ao Regime do Estado Novo, bem como a constituição do Movimento dos Capitães.” Passaram por estas intenções como cão por vinha vindimada. Uma ou outra notícia de passagem para não podermos dizer que não se falou e, pronto, está feito. Vários municípios criaram comissões, mas tudo se resumiu em sessões pontuais. Não foram programadas para criar ambientes de reflexão regional e nacional e tudo o tempo levou.
E que fez a Câmara Municipal desta minha cidade natal? Presumo que não criou Comissão; se porventura o fez, não realizou nada que tivesse convocado a comunidade e, muito menos, algo que se visse e ficasse. Na Praça 25 de Abril nem um toque criador o ilustra em torno da Revolução que há 50 anos nos libertou. Pior. Um dos edifícios camarários, há anos designado por “Cybercentro” (com ipsilone, pois claro), foi renomeado. Chamam-lhe, agora, “study work center” - assim, tal qual, com minúsculas e, não, não é para estrangeiros de fala inglesa. Na face voltada para a Praça 25 de Abril foi pintado um mural que não teve como destino as comemorações do cinquentenário.
Não é difícil tentar adivinhar o que se vai seguir até ao ato eleitoral de 10 de março. Nem depois. No feriado de 25 de abril é possível prever qualquer coisa de uma programação a despachar costumeiras solenidades e, pronto, acabaram-se as encomendas. Nada de substancial que analise e reveja a sustentabilidade de um ideário que transformou a sociedade. Com a democracia tão a empobrecer e com os afazeres centrados no mediático imediato, o 25 de Abril vai sendo arrumado nas gavetas das memórias que se vão esfumando. Assim se torna longínquo o que está na sociedade, o que ainda vibra e pode orientar o seu desenvolvimento. Assim se torna efeméride, data, superficialidade, abstração, coisa pela qual se passa com uma distraída menção, um passageiro copo de água para compor a sede de uma saudade. Assim se abatem primaveras.

mcosta.alves@gmal.com

COMENTÁRIOS

jose maria
Este ano
O regimento de cavalaria 8 de castelo branco, teve unm papel importante no 2 5 de abril de 74, é pena que os politicos dessa cidade nao se lembrem do papel que teve o regimento de cavalaria 8m , ja que nesse noite estivemos preparados e em formaçao na parada para se fosse preciso ir a lisboa, e eu que passei todo o tempo no regimento de cavalaria me entristeçe que nao se lembre ja de nada, aparte de outras intervençoes, como no posto da emissora nacional, na estradada taberna seca, pos correio que habia na encosta do castelo, enfin muitos outros coisas, foi bonito, manifestaçoes do povo de castelo branco enfrente ao regimento. etc, etc