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Cata-ventos: Semanário O Albicastrense em 1889

Costa Alves - 17/12/2020 - 9:21

Um amigo fez-me chegar a publicação (digitalizada) do primeiro número, de 10 de julho de 1889, deste jornal com sede na Rua de Santa Maria, 54 e dirigido por C. Corrêa de Sampaio. Não sabia da sua existência nem encontrei quem soubesse. Também não encontrei quem pudesse esclarecer sobre se teve vida longa ou efémera.
De qualquer modo, um jornal, mesmo que escondido nas brumas, é sempre um testemunho de vida e terá feito história do tempo que atravessou. Está a 131 anos dos dias de hoje, mas a um ano e meio da revolta de 31 de janeiro de 1891 que há de eclodir contra a humilhante cedência do estado português ao ultimato inglês.
Neste número de apresentação, “O Albicastrense” propõe-se “continuar, sós, a tarefa iniciada no antigo [jornal] “Districto de Castello Branco”, cuja existência também desconhecia e de que também não achei quem soubesse. A citação do ditado “mais vale só que mal acompanhado”, permite deduzir que o semanário “O Albicastrense” se autonomizou daquele periódico afirmando-se com o propósito editorial de “comprehender toda a grandeza e respeitabilidade do sacerdocio da imprensa, mensageira fiel da palavra”.
Definindo o “theatro” como “uma instituição immensamente civilizadora”, este número que leio no ecrã recorda, na primeira página, que a cidade “não possue um theatro” e louva “a iniciativa de alguns cavalheiros que tem posto louvavel empenho no emprehendimento de tão necessaria obra”. Por isso, a “construção de um theatro em Castello Branco deve, pois, attrahir, com justificados motivos, a attenção da camara municipal”. Refere-se a uma iniciativa particular existente para o efeito no Largo da Sé. Assinala, no entanto, que dela apenas restam as paredes e exige: “Limpem de alli aquella nodoa … Concluam o theatro.” A ortografia tem as suas diferenças, mas os anseios desafiam o tempo que percorreram até hoje. Mesmo assim, tenho a impressão de que fomos regredindo na conceção do teatro como “uma instituição immensamente civilizadora”. Idem quanto à 7ª arte que ainda não sabiam que tal magia iria existir, pois só seis anos depois ocorreria a primeira exibição de uma curta metragem em Paris.
“Fechem as escolas!” É o título de um artigo sobre a situação precária dos professores, nomeadamente em “Villa de Rei”. Defende que “esta prestimosa classe de funccionarios (…) peça, reclame, exija o goso de todos os direitos, inherentes ao cargo que desempenha”.
Uma notícia que me interessa particularmente assinala o começo das “obras para a estação de saude na Serra da Estrella. O local (…) offerece à vista um panorama surprehendente de quasi toda a Beira Baixa.” Recordo a preocupação da medicina do tempo em encontrar condições para o tratamento da tuberculose e que 7 anos antes, em 1882, tinha sido instalada, por iniciativa da Sociedade de Geografia de Lisboa, a estação meteorológica das Penhas Douradas, num local chamado de Poio Negro, a 1443 metros de altitude.
A notícia da “inauguração official” do caminho de ferro para o Algarve suscita censuras dos algarvios à ausência de “um só membro da família real ou do ministerio.” No entanto, informa o jornal, festejaram “brilhantemente a inauguração, mostrando assim que o povo, para a expansão da sua alegria, dispensa bem os fulgores que se projectam das fardas agaloadas dos reis. Honra lhes seja”.
Aqui fica, leitor, um cheirinho do que pode ler, se o quiser fazer, deslocando-se à Biblioteca Municipal ou, então, recorrendo a este endereço eletrónico.
mcosta.alves@gmail.com

 

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