Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Cata-ventos: Curtos circuitos na cidade

Costa Alves - 17/06/2021 - 10:29

PINTURA MURAL EVOCATIVA DAS INVASÕES FRANCESAS. Estamos em ano celebrativo do 250º aniversário da elevação de Castelo Branco a cidade e a realização desta pintura mural foi apresentada no quadro desta efeméride. Atrasada onze anos, mas, mesmo assim, evoca a primeira das invasões, a única que assentou arraiais na cidade, em novembro de 1807, com os desmandos habituais produzidos por um exército francês extenuado e faminto. Talvez por isso, as colunas que seguiram com a velocidade que puderam não chegaram a tempo de evitar a fuga da corte para o Brasil. Em Castelo Branco não houve combates. Não havia exército português. O quadro mural que Styler pintou no Postiguinho de Valadares não abordou o que se passou aqui. Em terceiro plano, dá-nos uma visão do Jardim do Paço e do Castelo. Nos primeiro e segundo planos sobressaem a garbosidade das cavalarias e infantarias francesa e portuguesa e os seus gestos de combate encarniçado. Nada disto foi visto na cidade ocupada. Não houve dois exércitos em batalhas frontais. Aqui, estávamos completamente indefesos face a esta primeira invasão e vivemos a violência brutal da ocupação e saque. Perante a solicitação temática, o autor terá desenhado e pintado (muito bem) os dois planos de confrontos inspirado em batalhas ocorridas noutras paragens durante as segunda e terceira invasões. 
ANTIGO EDIFÍCIO DO GOVERNO CIVIL. Não há domingo ou feriado que não esteja embandeirado, mas nunca se lhe ouviu uma palavra e muito menos um hino à floresta de que se declarou sede da Secretaria de Estado. Nem um pio a convocar os ânimos de florestar como deve ser. Nem uma palavra com raiz, caule, folha, frutos de florestar, ordenar, prevenir, povoar e repovoar. Disseram que era o Governo a descentralizar-se, a espalhar Terreiros do Paço pelo decrépito e inóspito Interior. Mas, não. O antigo edifício do Governo Civil de Castelo Branco nem um cheiro de Terreiro do Paço possui. Com Bragança e Guarda, recebeu essa graça, mas ninguém a vê aqui nem em lado nenhum. Enfim, perante ter e, afinal, não ter uma Secretaria de Estado, apetece-me dizer que há fantasmas neste solar setecentista dos viscondes de Portalegre.
MUSEU FRANCISCO TAVARES PROENÇA JÚNIOR. Aqui não há fantasmas. O contrato celebrado em 2015 entre o Ministério da Cultura e a Câmara Municipal de Castelo Branco redundou em pior do que estava. O Museu ficou sem direção, sem quadros técnicos, sem orçamento, sem autonomia, sem planos anual e plurianual e sem programação. Francamente! Ter um acervo vastíssimo e não o conservarem, não o restaurarem, não o divulgarem, não o darem a conhecer… francamente! Há anos que andamos e falamos nisto. Quem deve, disfarçou. No dia 29 de maio, realizou-se um encontro de reflexão promovido pelo Conselho Internacional de Museus e pela Sociedade de Amigos do Museu Francisco Tavares Proença. Falei com alguns dos excelentes profissionais que participaram no encontro e posso testemunhar a sua estranheza e reprovação pela situação de abandono a que chegou este Museu com 111 anos de história. A Diretora de um importante museu nacional falou na necessidade de um “sobressalto cívico”. Fico desejando que o sobressalto se manifeste de forma mais vigorosa e eficaz. Se, como é habitual, as campanhas eleitorais (e pré-eleitorais) não servirem para debater o que causa sobressalto e se resumirem a grandiloquentes conversas entre cartazes, então teremos de ter mais imaginação para que o sobressalto dê fruto.
mcosta.alves@gmail.com

COMENTÁRIOS