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Cata-ventos: Em Espanha, o Tejo “é uma sombra do que foi”

Manuel Costa Alves - 17/02/2016 - 18:30

Vale a pena obter informações sobre a situação do Tejo em Espanha. Como parte dos problemas do rio no nosso país vêm de lá, conheçamos o que se passa e faz pensar no grande problema futuro do acesso à água. Acesso à água em quantidade e qualidade que se agudizará devido às alterações climáticas geradas pelo aquecimento global. No caso da Península Ibérica, a disponibilidade de água diminuirá significativamente e afetará, também, as dinâmicas dos rios.

            O encontro, na semana passada, de eurodeputados da Comissão de Petições do Parlamento Europeu com representantes de associações de defesa do Tejo e cientistas das universidades Autónoma de Madrid e de Castilla-La Mancha, permitiu a revelação de alguns dos problemas do Tejo.

            Por exemplo, o caudal legal estabelecido para Talavera de la Reina e Toledo deveria ser, pelo menos, o dobro e está comprovada a violação da garantia de caudais ecológicos nestas duas cidades e em Aranjuez que o Tejo atravessa a montante.

O troço Aranjuez - Toledo - Talavera, onde os eurodeputados passaram, é particularmente preocupante. Com condições climáticas de precipitação fraca e de grande variabilidade, a capacidade de recuperação do rio é diminuta, pois o caudal já chega reduzido pelo transvase de 292 km para o rio Segura que, com elevado custo financeiro, vai regar as terras do Levante.

"Como parte dos problemas do rio no nosso país vêm de lá, conheçamos o que se passa e faz pensar no grande problema futuro do acesso à água" 

Em Talavera, esta situação teve como consequência o aparecimento das agora conhecidas como ilhas do Tejo que não existiam há três décadas e “são criadas pelos sedimentos que o rio não é capaz de arrastar”. Teme-se que “o rio possa ficar tamponado”.

Nem em zonas protegidas se cumprem os valores estipulados para o caudal ecológico e os eurodeputados puderam testemunhar como se converte o Tejo “num rio parado com um ecossistema palustre mais próprio de um delta ou de um açude”.

Quando chega a Aranjuez, tem, muitas vezes, caudal inferior a 6 m³/s, mínimo estabelecido pela normativa que regula o discutido transvase do Tejo para o Segura. Antes da inauguração do transvase em 1979, o rio fluía na cidade com um volume médio de 30 m³/s. A normativa prevê que possam retirar, para transvase, até 70,29% da água que o rio recebe nas cabeceiras, valor que os especialistas consideram, na realidade, ser muito maior. E perguntam: “Como podemos ter um rio quando 90% se considera excedente?”

Também entre Aranjuez e Talavera, a água se apresenta em mau estado visível, e com efeitos negativos para os ecossistemas. As afluências de contaminantes provenientes de várias atividades e da comunidade de Madrid, criam novos problemas, além dos efeitos nas espécies piscícolas, com a perda de capacidade de autodepuração e o desaparecimento dos bosques ribeirinhos. Confrontados com estes efeitos, os eurodeputados apenas puderam responder que a resolução das doenças transmitidas ao Tejo pertence às instâncias de poder espanholas e estas, tal como as portuguesas, continuam a desviar o olhar.

            Mas, os eurodeputados não se deslocaram a jusante de Talavera, onde poderiam ter-se apercebido da grande ameaça que a central nuclear de Almaraz representa. Nem, se aproximaram da barragem de Cedillo onde a quantidade e qualidade da água que Espanha entrega a Portugal terão de ser asseguradas. Está claro que, se tivessem passado a fronteira, haveriam de confrontar-se, por exemplo entre Vila Velha de Ródão e Abrantes, com o mesmo tipo de problemas. E também diriam que isso é com as autoridades portuguesas.

mcosta.alves@gmail.com

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