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Cata Ventos: Tempo da Poesia de António Salvado

Costa Alves - 29/09/2016 - 9:34

No dia 19, foram apresentados mais dois livros de António Salvado. Dois livros no mesmo volume: “Um Adeus Solidário de Ternura seguido de Com as Mesmas Palavras”. 
Três dias antes, o Grupo Cívico “As Romãs Também Resistem” tinha promovido a apresentação do tema “A Paz e a Guerra na Poesia de António Salvado”. Com esta iniciativa, abriu-se uma via de conhecimento por temas de uma obra que se abre, fala e entra em todos os cantos da vida e de todos as ideologias e ideários. 
A guerra: “Há gritos no destino e sangue aos gritos: / mulheres rasgam rostos com as mãos / feitos de pó e solidão os filhos.” A paz: “E eis a chave. Ela abre / todas as portas fechadas: / o mundo é redondo / e cabe num abraço apertado.” 
Até ao fim deste ano, haverá mais acontecimentos a registar sobre este vasto território poético que começa a ser povoado em 1955, com a edição de “A Flor e a Noite”. 
Esperamos a publicação de mais um livro com o sugestivo e inspirador título: “De Tão Cansada a Esperança e Outros Poemas”, a edição de um vídeo e uma publicação sobre lugares de Castelo Branco na sua poesia. Está ainda programada a publicação de um volume de poemas escolhidos e de um volume contendo as comunicações apresentadas há quase dois anos no Colóquio “António Salvado …o caminho se faz por entre a vida”. Colóquio que, recordo, recolheu os olhares de muitas pessoas e de muitos ângulos sobre o “extenso continente” poético que António Salvado fundou e distribuiu por, até agora, sensivelmente, 85 títulos de obras de poesia. 85 títulos de obras de poesia. 
Não sei se haverá na Poesia Portuguesa trabalho com esta extensão de um criador de poesia para quem a vida é “a vida: beijo do tempo”. Um poeta que escreve como uma “nómada voz que escala o muro”, que “insubmissa vagueia como o vento” e exprime recorrentemente “a revolta da vida aos pés da morte”. 
É uma obra imensa, inesgotada e inesgotável, de um homem que vive em estado de permanente criação poética (“E porque vou escrevendo vou subindo”) intercalada com ensaio e crítica literária, organização de antologias, reflexão e divulgação de temas museológicos. Como escreve Maria de Lurdes Gouveia Barata (“António Salvado”, A Mar Arte, 1999), a poesia de António Salvado é “um canto, sem ‘pressentir a noite”. Um canto para ‘adormecer na luz”. É um canto sobre a vida toda e, também, uma casa com cantos e recantos nesta nossa Beira onde se alonga “o verde esperança filho da sem esperança”. E sobre Castelo Branco onde se fez “entre granito o amanhecer: o sopro / calmo das velhas ruas   velhos sítios.”
No dia 10 de outubro será consagrado pela Universidade da Beira Interior com o doutoramento honoris causa. Todas as distinções deste cariz e com a justeza desta, sabem (a) bem. Para mais, partindo de uma instituição enraizada neste Interior e que projeta com o seu reconhecimento o autor de uma obra estoicamente construída no (e do) Interior, conhecida e traduzida em várias línguas mas aguardando muito mais conhecimento e reconhecimento literário ao nível nacional. 
Este mês de grande expressão pública da poesia de António Salvado chegará a Salamanca com a sua participação, mais uma vez convidada, no XIX Encuentro de Poetas Iberoamericanos, que terá lugar em 18 e 19 de outubro.
Digamos, como o poeta: com “os olhos de viver jamais fechados”, “o meu olhar afaga todo o mundo, / escreve irmão na mais longínqua estrela / e beija a rocha da mais funda terra”. 
mcosta.alves@gmail.com

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