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Leitores: Colégio de São Fiel - Crónica da morte anunciada

Paulo Moradias - 31/08/2017 - 12:09

Escrevo estas linhas umas horas depois de ter conhecimento que desapareceu o Colégio de S. Fiel e o seu património vítima de mais um dos muitos incêndios que este Verão são a principal atracção em Portugal.

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Escrevo estas linhas umas horas depois de ter conhecimento que desapareceu o Colégio de S. Fiel e o seu património vítima de mais um dos muitos incêndios que este Verão são a principal atracção em Portugal. Na falta do europeu de futebol em que no ano passado estivemos em grande, este ano o país assiste a outro espectáculo em que também estamos em grande: os incêndios. A diferença, é que se em 2016 os nossos homens em campo foram exemplarmente orientados, em 2017 os incansáveis homens e mulheres que desde Junho não param, apenas disfarçam a completa falta de saber, de jeito, de competência, de querer (escolham), dos que foram, infelizmente para eles e para todos nós, escolhidos para os orientar neste campeonato em que estamos a ser copiosamente derrotados e em que no fim estaremos todos incomparavelmente mais pobres. O que se passou no Colégio de S. Fiel é o resultado da crónica da morte anunciada. Um património que ano após ano tinha sido votado ao abandono, sem que qualquer dos nossos governantes, todos sem excepção, se tenha preocupado, ou sequer fingido que se preocupava, com a sua conservação e o aproveitamento do seu enorme potencial, para fins turísticos ou culturais, por exemplo. Como é possível ouvir do governante máximo do nosso município, em declarações para a comunicação social, que o Colégio de São Fiel “é um património importante para a freguesia”. Para a freguesia? Ridículo. Não será para o país? Leia-se o texto de Manuel Veloso da passada semana “O Colégio foi uma das mais prestigiosas instituições de ensino portuguesa nas últimas décadas do século XIX. A qualidade do ensino que ministrava fez dele uma referência. Por lá passaram, entre outros, Afonso Costa, Egas Moniz (Prémio Nobel) e Cabral Moncada”. Arderam ruínas? Pasme-se que é agora a nova desculpa. Deixa arder que são só ruínas, disseram os nossos doutos dirigentes. Para aqueles a quem restam dúvidas do estado do imóvel, façam um périplo pelo famigerado facebook, para alguma coisa havia de servir, e vejam algumas compilações fotográficas de visitas dos últimos meses ao Colégio de São Fiel (por exemplo magníficos painéis de azulejos), e consultem um estudo realizado pelo Dr Leonel Azevedo, por acaso publicado pela Câmara Municipal de Castelo Branco recentemente, que atesta exactamente o contrário. Ruínas? Agora dá jeito para justificar a incompetência e a ignorância.
E o retábulo da igreja onde pára? Salvou-se porque segundo consta, há apenas meia dúzia de anos este “viajou” até uma paróquia da Guarda. Em boa hora, senão a esta hora já era.
A seguir à leitura deste texto, virão logo os santos, os puros e os arautos da verdade, referir a habitual frase da cassete: que é uma vergonha o aproveitamento politico destas desgraças. Se calhar até têm razão, mas eu prefiro não fazer como os ditos santos, que vão continuando a fazer como a avestruz, a enterrar muito fundo a cabeça na areia, ou a cuspir para o ar bem na vertical e dizer que seja o que Deus quiser.
Eu acho que está na altura de retirar Deus da equação e apontar o dedo aos que por nossa infelicidade têm o poder das decisões e contribuem paulatinamente para o nosso empobrecimento. Porque é disso que se trata, estamos todos muito mais pobres.
As constantes palavras bonitas que ao longo dos anos ouvimos repetidamente, de aposta e investimento na cultura e no turismo, têm neste triste episódio o seu pináculo.
Palavras levam-nas o fogo.


Vereador do PSD - Câmara Municipal de Castelo Branco

COMENTÁRIOS

A. Goulão Reis
à muito tempo atrás
Para os governantes concelhios, `''Patrimonio Cultural e Turistico'' so dentro da sede do concelho. As freguesias não contam, estando aqui a prova provada. Se estas instalações fossem na cidade teriam ha muito sido adquiridas pela Camara, para valorizar a cidade.
Parabens ao Paulo Moradias pela coragem demonstrada no artigo