Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Conjuntura de grande incerteza: Os jogos de poder no sistema financeiro europeu

Luís Beato Nunes - 13/10/2016 - 9:43

A atenção da imprensa económica internacional está novamente centrada na fragilidade do sistema financeiro, nomeadamente da banca europeia com as notícias sobre a liquidez periclitante do Deutsche Bank.
As notícias da situação da banca europeia ganharam maior destaque após os resultados do referendo no Reino Unido e a consequente vitória da saída deste país da União Europeia, criando uma conjuntura de grande incerteza no sistema financeiro mundial e nos mercados europeus em particular.
Entre os bancos mais fragilizados pela actual conjuntara destacam-se o HSBC, o Crédit Suisse e o Deutsche Bank, este último o maior banco da Europa, sendo que os três foram identificados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) como as instituições bancárias com maior risco sistémico para o sector financeiro mundial.
A imprensa especializada realça que o maior banco da Europa atravessa um grave litígio com as autoridades dos EUA, devido à venda de instrumentos financeiros de elevado risco, podendo ter de pagar uma multa superior a 14 mil milhões de euros, tendo sido igualmente um dos dois bancos que chumbaram nos testes de stress nos EUA.  
Apesar de o maior banco europeu ter uma posição residual no mercado português, já no passado mês de Junho o FMI considerava o Deutsche Bank como a entidade com maior risco sistémico do mundo, e uma fonte de tensões externas para o resto do sector, incluindo a banca em Portugal.
Os bancos não emprestam dinheiro apenas às famílias e às empresas, eles também disponibilizam recursos financeiros entre eles, no designado mercado interbancário, sendo o Deutsche Bank um dos maiores intervenientes mundiais neste mercado, pelo que a falta de liquidez deste banco pode facilmente afetar as operações de dezenas de outras instituições financeiras.
Só no ano passado, o Deutsche Bank registou prejuízos de mais de 6.700 milhões de euros, tendo este sido o pior resultado da sua história, como consequência dos custos com litígios e da reestruturação em curso e desde o início deste ano que o valor das suas acções desvalorizou quase 50% no mercado de capitais.
No passado fim-de-semana, segundo notícia avançada pelo jornal alemão Bild am Sonntag, John Cryan, presidente do Deutsche Bank, não conseguiu negociar a multa a pagar às autoridades dos EUA, numa reunião que decorreu sexta-feira ao final do dia em Washington, pelo que a tensão no mercado de capitais de acentua.
Apesar de o presidente do maior banco da Europa tentar passar a mensagem de que o banco alemão é sólido e não necessita de ajudas públicas para pagar a multa, a agência Bloomberg deu conta de que o banco tem apenas uma provisão de 5,5 mil milhões de euros para custas judiciais (e o caso nos EUA é apenas um de vários que o banco enfrenta). 
De acordo com esta mesma agência, a família real do Qatar, um dos principais acionistas do banco, está a ponderar reforçar a sua posição através de um aumento de capital para fazer face aos vários litígios do banco, aproveitando para controlar o maior banco da Europa. 
Entretanto, o jornal Handelsblatt avançava no final da semana passada que um grupo de grandes empresas alemãs se preparava para injectar 5 mil milhões de euros no banco de modo a evitar que este fosse controlado pela família real do Qatar permanecendo a maioria do seu capital alemão.  

luis.beato.nunes@gmail.com

COMENTÁRIOS