Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

O Bicho Homem

Paula Custódio Reis - 29/07/2021 - 10:51

No final dos anos noventa, tive a sorte de trabalhar de perto com os investigadores do primeiro estudo sobre alterações climáticas em Portugal.
O Professor Filipe Duarte Santos liderava a equipa deste projeto, chamado SIAM, onde se incluíam geofísicos, sociólogos, biomédicos, juristas especializados na área ambiental, geólogos, engenheiros agrónomos e florestais. 
Pude nessa altura perceber os efeitos e as previsões daquilo que seriam o clima e os fenómenos climáticos extremos e as consequências para a vida no Planeta, e em como essa realidade afetaria a qualidade de vida do ser humano.
Passados mais de vinte anos, ainda muitos se questionam sobre a existência destes fenómenos como consequência das más práticas ambientais. E continuamos a gastar recursos como se não percebêssemos que esse gasto tem consequências para todos.
Temos cada vez mais desperdício de água através do seu uso em práticas de agricultura intensiva, do mau uso doméstico ou do desperdício advindo da produção industrial em larga escala.
Convencemo-nos de que a água potável é um recurso infinito. 
Por outro lado, a população concentra-se em nichos populacionais e deixa-se o território entregue a si próprio, depois de o condicionarmos pela introdução de espécies vegetais invasoras ou potenciadoras do desequilíbrio do ecossistema. Os incêndios florestais têm dimensões cada vez maiores e o número de doentes com alergias (respiratórias, da pele, alimentares) aumenta sem que questionemos as origens possíveis.
O burnout, a ansiedade, as doenças do foro psiquiátrico e emocional são cada vez mais uma constante, em número que não deixa de fora nenhuma família.
Perante este cenário, pergunto-me se não serão estes os dias para que o bicho Homem finalmente repense o paradigma civilizacional que criou, partindo do conceito de que ele próprio é só uma parte do ecossistema e não o seu dono.

 

COMENTÁRIOS