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Debita Nostra L

Luís Costa - 30/11/2016 - 10:15

Um outro exemplo: algumas feministas contemporâneas afirmam que a maior parte da história foi uma história de conflitos entre sociedades ‘patriarcais’, mas que as sociedades ‘matriarcais’, mais consensuais, generosas e pacíficas, constituem uma alternativa viável. (…) não se pode excluir a possibilidade de virem a existir no futuro, se estiver correto o entendimento feminista das possibilidades de libertação da faceta feminina da personalidade humana. E, se assim for, ainda não teremos atingido o fim da história.” (F. Fukuyama, 1992, “O fim da história e o último homem”, pp. 147).
Devo confessar que sempre me surpreendeu que tivesse sido Margareth Tatcher a formular a célebre máxima: “não há alternativa” e, de algum modo, a anunciar, como outros antes dela, um determinado fim da história. Só que agora, sob a égide de um muito mais presente e muito menos encantatório liberalismo económico.
Não porque o seu monetarismo se não se tenha vindo a oferecer, desde a década de 60 do séc. XX, com múltiplos e reconhecidos encantos. Mas, certamente, por um preconceito feminista, o que me pode ter levado a sobrestimar tudo quanto pudesse vir a ser uma política delineada no feminino.
É certo que Tatcher é provavelmente o produto de uma “libertação da faceta” masculina que também compõe qualquer personalidade humana. Contudo, eu, sem grandes conhecimentos destas coisas, sempre admiti que uma inspiração menos patriarcal poderia arejar muita das nossas rotinas, se é que não facultar-nos bem menos cristalizadas alternativas políticas.
A experiência que tenho, porém, é circunscrita. O que me não impede uma cabal noção das reais limitações da faceta masculina da minha própria personalidade. Entre elas, a da completa incompatibilidade com os mais sofisticados rituais a que uma simples compra de roupa não pode deixar de obedecer.
Para além do cansativo deambular, tolhe-me a incapacidade para a tomada da decisão certa no momento certo. Por vezes, lá vou arriscando algum palpite, mas invariavelmente votado ao fracasso. Uma vez, mais convicto, ainda avancei: - Esta camisa não dá com nenhuma das minhas calças!... Tendo bem escusado de ouvir: - Há de dar com as que ainda vais comprar!
É evidente que, em política, nem sempre existe esta mesma possibilidade de bolar alternativas. Mas, bem diferente, é o interessado conformismo ou a calculada inabilidade para as procurar. E que dizer da atitude oposta, que é a que sugere a total liberdade de escolher camisas, desde que elas joguem com as costumadas calças. Como a dos recorrentes desafios que se respaldam no colete-de-forças do chamado Tratado Orçamental: o molde da já exposta obra-prima do monetarismo europeu?!
Tenho muita pena, mas a democracia não foi concebida para se atolar no pensamento único, nem precisaria de o ser para se chegar à solução de que quem pode é quem manda. Não só as convicções de Margareth Tatcher não esgotam a teoria económica, como também não são as que melhor provam perante esta crise que acabaram por gerar. Para já não falar da anterior, a que, num outro contexto, nem por isso deixou de ser a “grande recessão”.

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