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Crónica: Debita Nostra CLVI

Luís Costa - 11/02/2021 - 9:27

Outra lição importante, pela relevância que tiveram nas negociações entre RU e UE (…) é o papel desproporcionado da Direção Geral da Concorrência (…) da Comissão Europeia nas engrenagens (…) e como estas limitam a capacidade de Portugal algum dia vir a convergir com a Europa desenvolvida, antes parecendo constituir um fator de divergência: em particular, as ajudas de Estado só parecem ser consideradas legais quando concedidas a empresas nacionais em dificuldades, que são posteriormente “doadas” a interesses estrangeiros.” (Ricardo Cabral, Público, 28-12-2020).
Que fique claro que não há aqui qualquer menosprezo pela iniciativa e responsabilidade individuais. Tal desvalorização é muitas vezes uma cedência à ideologia liberal, pela presunção de que apenas existem no uso que delas faz, isolando o ‘indivíduo’ das suas circunstâncias (DEBITA NOSTRA CLIV).
Acontece que, por impraticável, nunca se colocou o ‘conta-quilómetros’ das condições sociais a zero, apurando os mais ‘velozes’ e não os que, de forma cumulativa, puderam ir tirando proveito de um melhor ponto de partida. Nem o Estado (mínimo) alguma vez foi um árbitro-neutro, no seu original desprezo por qualquer equilíbrio competitivo.
Um Estado que ‘esteve bem’, quando ao serviço dos competidores, na 1.ª Guerra Mundial (DEBITA NOSTRA CLV).  Que ‘estaria mal’ como protetor dos direitos políticos, económicos e sociais, porque as não-democracias produzem mais barato. E que voltou a ‘estar bem’ como garante da ‘moderna’ intocabilidade financeira, ao converter a leviandade em dívida publica.
De resto, os padrões são os mesmos para estes ‘agregados de indivíduos’ (ainda contribuintes), que compõem o Estado-nação, que o eram para aquele ‘indivíduo’, em abstrato, navegando num ‘mar de liberdade’, supostamente alheio a qualquer maré de correlação de forças (poder). 
Bastaria seguir a ‘receita’ dos que estão em vantagem, para com eles poder competir. Eventualmente descobrindo, numa economia sem-fronteiras, os ‘nichos’ de mercado de que eles se ‘desinteressam’. Mas de que podem sempre vir a recuperar o interesse, mediante um ‘adequado’ saneamento financeiro.
A “divergência” económica dever-se-ia a naturais incapacidades ou a malformações culturais, em que imperam a prodigalidade, o desleixo e os mais desregrados dos vícios. Geralmente sustentados pela magnanimidade de um Estado perdulário, sempre a fazer-se “subir além da chinela”. ‘Exemplos’ não faltam, a confirmar a tese e a apelar a um severo castigo dos que se armam em ‘bandarras’, esquecendo a condição de sapateiros! 
Porém, nada nos garante que as ideologias, as nossas, sejam eternas, imunes a inesperados cataclismos, resistentes à insistente mudança social. Não se percebe é que nos excluamos dos centros de decisão política, indiferentes à transformação e alérgicos a qualquer assomo de cooperação porque predestinados proprietários da ‘verdadeira’ solidariedade.
E que, por isso, até uma aquisição/distribuição de vacinas tenha de ser avulsa, ou a mais magra, porque fatalmente medida por etéreos e insinuantes cacarejos, vindos do era o quintal da vizinha.

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