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Crónica: Debita Nostra CLXV

Luís Costa - 17/06/2021 - 10:28

Pode verdadeiramente esperar-se uma transformação das sociedades em que vivemos, onde a dominar não seja a lei do deus dinheiro, mas o respeito pela pessoa e uma lógica de gratuidade? Imagino a expressão no rosto de tantos, diante destas palavras, a estas ‘ingénuas’ perguntas. Um ligeiro franzir dos lábios, curvados num sorriso de ceticismo, ou, no melhor dos casos, de comiseração que nos conduz a viver na sociedade do desencanto.” (Francisco, 2021, “O Céu sobre a Terra - amar e servir para transformar o mundo”).

O problema do “realismo”, enquanto reflexo “autoritário” que nos leva confundir uma dada visão do mundo e a “realidade” (DEBITA NOSTRA CLXIII e CLXIV), não está na dose de prudência com que hoje, e cada vez mais, nos vemos obrigados a distinguir entre “factos alternativos”.

Está nos mecanismos que, podendo ter inspirado tal ‘perícia’ na recriação da “realidade”, não são mais do que a pensada ou instintiva cautela em prevenir qualquer propósito de transformação social. Admitindo ser “real” que “todo o mundo é composto de mudança”, hipótese que se vem confirmando, uma vez que, mais veloz, ele “não se muda já como soía”.

O que não quer dizer que tal processo não seja condicionado pelas ‘resistências’ em presença e, entre elas, se possa menosprezar o “domínio” da “lei do deus dinheiro”. O que seria inédito, mesmo que não conste da ‘História’ de que mais gostamos de nos gabar, mas redutor daquele pragmatismo materialista, em que, geralmente, tendem a confluir o “realismo” dos que se dão bem com a situação e o dos que a sentem como insuportável.

Resta saber se, de facto, ele esgota todo o ‘aproveitável’ acervo da História humana, desde logo, nos seus sucessivos contextos. Como o das “sociedades tradicionais” que, na sua consistência, se entendiam em “dívida primordial” para com a divindade, a natureza e o grupo social, adaptando-lhe quaisquer outros débitos. Desentendendo-se, assim, de como o dinheiro se poderia autorreproduzir e concentrando-se no que pudesse vir a ser o “pão-de-cada-dia”.

E não pode deixar de nos interrogar sobre o porquê de as ‘subversões’ económicas e sociais a que a corrente pandemia nos obrigou, logo terem suscitado tanto sobressalto, ou pavor, em relação ao renascer das utopias. Tendo, embora, o cuidado de as fazer reconduzir o catálogo das bem (re)conhecidas ou piores experimentadas.

Ora, não me consta que qualquer rasgo significativo em termos da referida “transformação das sociedades” se tenha alguma vez cingido ao cardápio do que já existe. A começar pela devassada utopia dos que, rompendo com resistentes amarras, vislumbraram no Mercado o instrumento suficiente de um inverosímil equilíbrio social.

Preocupam-me, antes, na então projetada democracia, este distópico “desencanto” que dela fez um ‘disco-riscado’ e o ‘conveniente’ culto da individualidade que a vem amputando do elam gregário de tanta gesta humana. 

Recensão Bibliográfica (notas)

Publicado pelo CIPEC, Centro de Investigação, Património e Cultura do Instituto Politécnico de Castelo Branco, e da responsabilidade editorial da Caderno do Século, Lda., acaba de vir a lume o livro “O Colégio de S. Fiel no Louriçal do Campo (1863-1910)” da autoria do Prof. Luís Costa.

Retomando e desenvolvendo investigação anterior, o livro debruça-se, fundamentalmente, sobre o contexto histórico e socio-espacial da criação e funcionamento daquela que, situada entre nós, foi uma das principais instituições de ensino secundário do país, na transição do séc. XIX para o séc. XX.

Distribuído por uma Introdução, seis capítulos (Frei Agostinho da Anunciação: do Seminário dos meninos órfãos ao Colégio de S. Fiel, uma transição pacífica; Pe. Dr. Sebastião Pedro Martins Ribeiro e uma preocupação geral: a da formação do clero; O Pe. José Bento Martins Ribeiro e o conflito ente dois mundos; A “união” que desune os católicos; S. Fiel, Louriçal do Campo; Do legitimismo ao nacionalismo) e um Apontamento Cronológico, na sua análise, o livro procura articular, dentro daquele contexto, as suas componentes internacionais, nacionais e locais, dando particular ênfase a estas últimas (Louriçal do Campo) e aos detalhes do seu quotidiano (Cap. 5).

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