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Dielmar: Credores têm 30 dias para reclamar créditos

Lídia Barata - 12/08/2021 - 17:13

A caminho do meio século de elevação a vila, na última década perdeu população e assistiu à queda do “império” legado por quatro alfaiates empreendedores.

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Apesar de ténue mantém-se uma esperança ao fundo do túnel

O Juízo de Comércio do Fundão, do Tribunal Judicial da Comarca de Castelo Branco, declarou a insolvência da Sociedade Industrial de Confeções Dielmar, SA, na sequência do pedido apresentado pela própria empresa na sexta-feira, dia 30 de julho, deixando a vida de cerca de 300 trabalhadores em suspenso, tal como Reconquista noticiou amplamente na sua última edição.

Com 56 anos de história, fundada por quatro alfaiates empreendedores, a Dielmar, com sede em Alcains e cerca de uma dezena de lojas espalhadas pelo país, avançou com o pedido de insolvência no último dia do mês, tendo os trabalhadores tido conhecimento da decisão no seu primeiro dia de férias, sendo por isso apanhados de surpresa, apesar da situação alegadamente frágil daquela unidade fabril ser do conhecimento dos seus funcionários, mas também já há muito falada entre os populares.

Recorde-se que a administração justifica a crise com a pandemia de covid-19, mas o Governo esclarece que nos últimos 10 anos foram ali injetados cerca de oito milhões do erário público, dinheiro que poderá não ter retorno.

O edital deste ato judicial refere que a sentença de declaração de insolvência foi firmada na tarde do dia 2 de agosto e publicitada dois dias depois, tendo sido nomeado administrador de insolvência João Maurício. A sentença fica o prazo de 30 dias para reclamação de créditos e agendou para o dia 26 de outubro, às 14H00, a realização da assembleia de credores, para aprovação do plano de insolvência, para pagamento dos créditos, para a liquidação da massa insolvente e para a sua repartição pelos titulares daqueles créditos e pelo devedor. Para já, estão identificados como credores o Banco Santander Totta, Caixa Geral de Depósitos, Grenke Renting, Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, José António da Silva Meireles, Maria Adelaide Alves Correia, Millennium BCP, Novo Banco e Rivagnati Vincenzo Spa.

 

MANIFESTAÇÃO Esta segunda-feira, dia 9 de agosto, os trabalhadores voltaram a concentrar-se, mas desta vez em frente à Câmara Municipal de Castelo Branco, após uma reunião entre o executivo, o Sindicato dos Trabalhadores do Setor Têxtil da Beira Baixa e alguns representantes dos trabalhadores. Após ter dado conta do resultado desse encontro a todos, Marisa Tavares, presidente desta estrutura sindical, colocou à votação dos trabalhadores a resolução para salvaguardar os direitos e postos de trabalho, que foi aprovada por unanimidade.

Voltar a laborar dia 18 de agosto, data em que termina o período de férias e garantir o pagamento de salários no final do mês e seguintes até à assembleia de credores em outubro, é a prioridade quer do Sindicato, quer da autarquia.

À hora de fecho desta edição estava agendada uma reunião em Lisboa, com o ministro da Economia, e para sexta-feira, dia 13, às 15H00, há nova concentração de trabalhadores à porta da empresa, em Alcains, para Marisa Tavares lhes fazer um ponto de situação. Até lá, apela a que “permaneçam unidos e não se desvinculem da empresa”.

A resolução também defende que sejam encontradas medidas “que permitam à empresa continuar a trabalhar até que se finalize todo o processo”. Os trabalhadores “consideram precipitado ser já despedidas e, quando muito, como último recurso, admitem ponderar a suspensão dos contratos, mantendo o vínculo à empresa, até que seja encontrada uma solução para a sua viabilização”.

A importância da empresa e o reconhecimento da marca é inquestionável, pelo que todos os esforços estão a ser feitos no sentido de encontrar uma solução que valorize esta mão-de-obra qualificada.

Não é habitual assistir-se a uma tomada de posição desta natureza, mas além da reunião com o Sindicato e representantes dos trabalhadores, o presidente da Câmara, José Augusto Alves, desceu as escadas e veio de viva voz reforçar o que foi discutido no encontro, manifestar o seu apoio a todos e explicar os passos que estão a ser dados, repetindo o que já tinha declarado ao Reconquista (ver peça ao lado).

 

MAIS REAÇÕES Além das reações que Reconquista já havia noticiado, dos diversos partidos políticos e alguns candidatos aos órgãos autárquicos nas eleições de 26 de setembro, que manifestaram a sua total solidariedade para com os trabalhadores e esperam que seja encontrada uma solução capaz de viabilizar a empresa, mas sobretudo que defenda esta mão-de-obra especializada, também a presidente da Associação Empresarial da Beira Baixa (AEBB) teme que o impacto do fecho da Dielmar tenha consequências graves para o território.“Trata-se de uma empresa com um peso enorme. Fechar significa que há uma consequência no território e esse impacto pode trazer para o desemprego mais de 300 pessoas que têm um capital de conhecimento técnico de muito valor”, afirmou Ana Palmeira de Oliveira, que recorda não ser “uma surpresa para ninguém que a empresa estivesse mal”. Acrescenta que “o Estado tem um valor em crédito na empresa que apoiou, com oito milhões de euros, pelo que terá interesse que seja recuperada”.

O presidente da Junta de Freguesia de Alcains também considerou que a insolvência da Dielmar é mais “uma machadada para o interior”, até porque “há famílias inteiras cujo sustento depende desta fábrica”. Mário Rosa recordou que a Dielmar “é uma marca de Alcains”, além de ser “a maior empregadora da freguesia e uma das maiores do concelho e do distrito”. Confirma ainda que com a pandemia as encomendas reduziram.

Se a empresa fechar são centenas de postos de trabalho que se perdem, uma nota negativa a juntar às 411 pessoas que a vila perdeu nos últimos 10 anos, segundo o resultado preliminar dos Censos 2021. E “as pessoas só se fixam onde têm trabalho”.

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