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Leitores: Dos docentes. Reflexões sobre a socialização profissional

António José Alves Oliveira - 22/09/2022 - 9:57

O estudo da socialização dos professores, na opinião de Zeichner e Gore (1990) é relativamente recente e o termo surge quase simultaneamente na Psicologia, na Antropologia e na Sociologia.

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O estudo da socialização dos professores, na opinião de Zeichner e Gore (1990) é relativamente recente e o termo surge quase simultaneamente na Psicologia, na Antropologia e na Sociologia.
Para Junior et al., (2017), a socialização profissional é composta pela aprendizagem dos valores, crenças e formas de conceção do mundo, próprios de uma determinada cultura ocupacional e pode ser identificada como a aquisição de um ethos profissional, não necessariamente expresso em palavras, mas que dá ao agente em socialização o sentido das regras que regulam a sua profissão. 
Dubar (2012) apresenta uma teoria geral de socialização profissional, na qual  contrapõe argumentos ao modelo sociológico interacionista proposto por Hughes (1955). O primeira tese  defendida é que todas as pessoas, indiferentemente do seu género ou condição social, através de um processo de socialização detêm conhecimentos, exercem uma atividade reconhecida como comum e têm direito a pertencer a uma profissão organizada (e não uma ocupação), à respetiva formação certificadora das suas competências e à qualificação como profissionais. A segunda tese é que a socialização e a escolarização não são exclusivas da infância, pois ocorrem durante toda a vida dos indivíduos, se tivermos em conta a mudança acelerada do mercado de trabalho no mundo contemporâneo. Perante a mobilidade da força laboral e as exigências ligadas à evolução das tecnologias, a aprendizagem inicial, contínua ou a autoformação, passou a significar o que é um  profissional, com capacidade de relacionamento com os outros no local de trabalho,  de reflexão sobre si mesmo e  de construir uma carreira. A terceira tese  é que o trabalho deve ser sinónimo de formação, capacitação, experiência e aprendizagem para a vida ativa. O trabalho está sujeito a critérios de rentabilidade, de concorrência, dos sistemas políticos de cada país e das tradições sociais que influenciam as instituições e os agentes responsáveis pela socialização profissional dos trabalhadores.
Lortie (1975) debruçou-se sobre a questão da socialização dos professores e salienta que a aprendizagem de ser professor ocorre durante todo o período  em que foram alunos, na escolaridade básica, secundária e superior. Este processo de socialização acontece devido às interações dos alunos com os professores, por vezes afetivas, ao tempo de contacto entre ambos,  à proximidade física na sala de aula e à observação das suas práticas profissionais.
Segundo Cunha (2008), o processo de  aprendizagem e de desenvolvimento dos professores e apresenta marcas que podem compreender fenómenos de continuidade, descontinuidade e de rotura, quando os docentes questionam as crenças sobre as suas expetativas pessoais e o investimento que fizeram na sua  formação profissional. A socialização dos professores  é um ato de evolução e de transformação, que incorpora  níveis interligados com: a influência da sua formação; o trabalho  na sala de aula com os alunos;  as relações interpessoais com os colegas de profissão; os encarregados de educação; os decisores políticos; o currículo; as condições de trabalho e a cultura escolar em que se inserem.
É nesta linha de pensamento que Young (2008) salienta que a escola, como lugar de socialização dos professores, transmite-lhes os valores, as normas e as rotinas de como devem trabalhar. Estes princípios estão enraizados na cultura escolar e são influenciados por diretrizes institucionais e sociais, fazendo com os professores tentem conciliar as suas perspetivas pessoais sobre o ensino quando iniciam a profissão, de acordo com a força socializadora da cultura escolar. Day (1999) sustenta que a cultura escolar pode fornecer um apoio positivo ou negativo no desenvolvimento profissional dos professores, já que a escola, enquanto local de trabalho, é uma organização formal, um espaço social e psicológico, onde os professores podem dar sentido e eficácia à sua prática, construindo, deste modo, uma comunidade profissional.
Ao falarmos da forma de trabalhar dos professores, os saberes docentes também concorrem no processo de socialização e da construção identitária docente. Segundo Sarmento (1994), invocando Ost (1989), ao ingressarem na profissão, os novos professores  são portadores de saber e de saber fazer resultantes da sua formação académica inicial, que ainda não foi testada no território educativo. Deste modo, as suas conceções pedagógicas  tendem a entrar em conflito, quer com os constrangimentos e as  tradições organizacionais instituídas nas escolas, quer   no contacto com professores já com longos percursos profissionais, por vezes, com formação pouco atualizada ou em estádios de aceitação ou de desilusão perante a escolha da docência como carreira profissional. 
O processo de socialização profissional, no caso dos futuros professores ainda em formação inicial, traz consigo uma história construída pela socialização primária, nomeadamente, a família, os amigos, a escola, e  pela socialização secundária,  ou seja, a formação adquirida na universidade e posteriormente na  escola onde irão realizar o seu trabalho. Portanto, a socialização profissional dos professores é um processo que vai mais além do que a simples aquisição de competências pedagógicas e de conhecimentos científicos, para desempenharem diversos papéis no contexto educativo. É também a compreensão e interiorização dos valores e das normas que estão na essência da profissão docente (Písová, 2013).
 

COMENTÁRIOS

JMarques
à muito tempo atrás
Para além de todas estas teorias líricas e românticas, para se ser um verdadeiro professor de corpo inteiro, tem ainda de acrescentar ao corículo, ser vítima de agressões de alunos, pais e encarregados de educação e assistir à impunidade dos agressores, por parte da justiça e ser-se vítima a dobrar.