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E agora, Afeganistão?

Florentino Beirão - 02/09/2021 - 7:59

Por mais insensíveis que sejamos ao que acontece longe de nós, a cruel saga que nos últimos tempos atingiu o longínquo Afeganistão - com 40 milhões de habitantes - não pode deixar-nos indiferentes. As múltiplas violências que ali têm sido cometidas são tão arrepiantes, sobretudo sobre nas mulheres e em todos aqueles que querem sair daquele infernal ambiente, através das fronteiras e do aeroporto de Cabul, que não as podemos olvidar. O medo de se viver neste país é tão arrepiante que numerosas famílias têm deixado tudo, para tentarem encontrar o seu refúgio noutras paragens, seguras e acolhedoras. Espera-se que a UE, como é seu dever humanitário, não lhes feche as portas, como por vezes tem acontecido com alguns refugiados. Quanto a Portugal, em boa hora, já abriu os seus braços, para acolher algumas dezenas.

Como sabemos, esta violenta situação resultou da recente e apressada retirada das tropas dos Estados Unidos e das forças da NATO que ali permaneceram, ao longo de 20 anos. Hoje, todos se interrogam, como foi possível deixar o país numa situação tão complexa e desorganizada.

Como o poder não suporta o vazio, a partir de agora, o território passa a ficar à mercê das vencedoras tropas dos talibãs, praticantes de princípios religiosos, bebidos no radicalismo islâmico, praticado no país. O seu numeroso exército, lentamente, foi-se preparando sorrateiramente, sem pressa, armando-se até aos dentes, com os chorudos dinheiros da droga, ocupando num ápice as cidades do país, incluindo a sua capita Cabul. Pelo que se sabe da recente história deste populoso e extenso país, tanto os ingleses no séc. XIX, como os russos entre 1979 e 1989, acabaram por deixar o país entregue a um sistema tribal- cerca de 40 tribos- que se rege por costumes e leis consuetudinárias que não vão mudar de um momento para o outro. A evolução das mentalidades dos povos, como se sabe, não dá saltos. São fruto de uma lenta e longa mudança, sujeita a avanços e retrocessos.

Note-se que os talibãs preparou-se militarmente durante anos, para poder reaver o poder do seu país. Por incrível que pareça, nos últimos tempos, chegaram a apoderar-se de algum armamento das forças militares da coligação da USA e da NATO, derrotando as tropas afegãs quase sem resistência.

Por isso, o Presidente norte-americano J. Biden justificou a sua opção de sair rapidamente do Afeganistão ao dizer que “os americanos não devem continuar a lutar numa uta que os próprios afegãos não estão dispostos a travar”. Estas palavras foram proferidas, após a fuga do Presidente do país Ashraf Gyhani e as próprias tropas afegãs se renderem às primeiras investidas. O saldo desta guerra mortífera cifrou-se em 3 5000 soldados e 40 mil civis mortos.

Recorde-se que o plano da fuga dos americanos do Afeganistão, já vem do tempo da administração do insensato Donald Trump que chegou a assinar com os talibãs, em março de 2020, um apressado acordo de saída, para maio do ano seguinte. Tenha-se em conta que a opinião pública americana se encontra de acordo com esta opção, farta de guerras em países que a nova geração mal conhece.

Também o elevado custo da guerra afegã, cerca de dois biliões de dólares, se foi tornando inaceitável para os cidadãos americanos cujos governantes quiseram impor a outros países a sua visão política do mundo, balizada numa democracia moderna e livre. Tratou-se de um logro neste e noutros países muçulmanos invadidos.

A partir de agora, com os talibãs a necessitarem de avultadas verbas para reerguerem o seu devastado e pobre país, já se encontram à espreita os gulosos russos, chineses, paquistaneses, iranianos que esfregam as mãos, na mira de poderem vir a apropriar-se das suas riquezas minerais e dos chorudos negócios da droga.

O futuro, para já, não se apresenta risonho para o povo afegão que, recentemente, já assistiu a atentados mortíferos, de opositores ao atual poder.

Desta complexa situação vai resultar uma elevada crise humanitária e social, com cerca de 38 milhões de afegãos deixados à sua sorte, face a um regime em que a crueldade e a opressão são o pão nosso de cada dia. Sobretudo para as mulheres, a quem se negam os mais elementares direitos humanos, entregues às leis opressoras das leis medievais muçulmanas, já impostas pelos talibãs. Podemos perguntar. E agora Afeganistão para onde vais?

florentinobeirao@hotmail.com

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