A questão da crise identitária dos professores tem vindo a ser relançada com relativa frequência, por um lado, como matéria de estudo por parte de académicos de renome nacional e internacional, quer pelos media, alimentando a ideia de que a escola tem vindo a perder qualidade nos tempos mais recentes.
Durante o período do Estado Novo o professor gozava de um estatuto social reconhecido, pelo facto de deter em si o saber e o poder para transmitir os seus conhecimentos, quer à minoria dos portugueses pertencentes às classes privilegiadas, quer à maioria da população analfabeta, que no ideário da instrução mínima defendida pelo regime, saber ler, escrever e contar, constituíam o limite das suas aspirações educativas. Como a democratização do país e aumento dos anos de escolaridade obrigatória alargada a todos os cidadãos, a rápida mudança nos papéis, contextos e funções dos professores alteraram profundamente o seu profissionalismo e a própria representação social sobre os professores. Deste modo, a escolha de uma profissão consiste em construir uma imagem de si mesmo, dar um sentido social à vida de cada individuo, ocupar um lugar na sociedade e estabelecer relações interpessoais com os outros que a constituem. É nesta perspetiva que a identidade está diretamente relacionada com a construção de um significado, baseado num atributo cultural, na experiência e na finalidade da ação exercida por um individuo ou pelo grupo a que pertence. A construção da identidade é assim, um processo de significação da própria existência do individuo e a definição de si próprio e do seu lugar no mundo. Este é feito de forma consistente e coerente, no qual ocorrem metamorfoses nem sempre pacíficas, integrando as suas experiências de vida passadas, presentes e perspetivas de futuro. O conhecimento do professor enquanto pessoa e profissional centra em si os conflitos, as razões, a autonomia, os sentimentos, os(des) encantos associados à construção da profissão docente e evidencia aquilo que cada professor é como individuo, através da forma como ensina.
O estudo da identidade dos professores pode ser incluída numa perspetiva cultural, na qual se reforçam os significados, as escolhas e a diferenciação estabelecida pelo professorado e a perspetiva político-institucional, sendo o Estado o principal gestor e produtor da identidade dos professores ao longo dos tempos. A identidade dos professores é entendida numa contextualização específica, dado que esta está intrinsecamente ligada ao conteúdo da sua ação educativa, das alternâncias da atividade docente e das pretensões institucionais, nomeadamente, académicas, políticas e profissionais. Tal como noutras profissões, a construção da identidade dos professores está socialmente contextualizada, possui um história própria, formas de interação entre indivíduos e dinâmicas de poder.
As identidades pessoais e profissionais dos docentes surgem como espaços de lutas e conflitos, de maneiras de ser, de estar na profissão, de adquirir inovações e aceitar mudanças, que implicam fatores de adesão, de ação e de autoconsciência, aos quais os professores não são alheios (Huberman, 2013).
Como refere Nascimento (2007), a construção das identidades docentes é um processo inacabado e interativo, no qual são preponderantes a socialização profissional, as relações que os professores estabelecem nas escolas, a formação profissional e a profissionalidade docente. As identidades dos professores constroem-se numa dinâmica entre a ação e as representações profissionais colocadas em constante confrontação e (re)elaboração.
Ferreira (1994, p.63) refere que não existe, propriamente, uma identidade docente, mas sim “várias identidades profissionais e estratégias identitárias pessoais e grupais diversas”. A identificação com o grupo de ensino ou da disciplina que cada professor leciona, tem levado à fragmentação do corpo docente, entendido como um todo, do seu conhecimento pedagógico e correspondente conhecimento científico e social. A identidade dos professores faz-se a partir de processos de integração e de diferenciação social e profissional, que decorrem no contexto escolar, em espaços de caráter associativo ou de formação contínua.
António José Alves Oliveira