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Leitores: A construção das identidades docentes

António José Alves Oliveira - 26/05/2022 - 9:49

A questão da crise identitária dos professores tem vindo a ser relançada com relativa frequência, por um lado, como matéria de estudo por parte de académicos de renome nacional e internacional, quer pelos media, alimentando a ideia de que a escola tem vindo a perder qualidade nos tempos mais recentes.

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A questão da crise identitária dos professores tem vindo a ser relançada com relativa frequência, por um lado, como matéria de estudo por parte de académicos de renome nacional e internacional, quer pelos media, alimentando a ideia de que a escola tem vindo a perder qualidade nos tempos mais recentes.  
Durante o período do Estado Novo  o professor  gozava de um estatuto social reconhecido, pelo facto de deter em si o saber e o poder para transmitir os seus conhecimentos, quer à minoria dos portugueses  pertencentes às classes privilegiadas,  quer à maioria da população analfabeta, que no ideário da instrução mínima defendida pelo regime, saber ler, escrever e contar, constituíam o limite das suas aspirações educativas. Como a democratização do país e aumento dos anos de escolaridade obrigatória alargada a todos os cidadãos, a rápida  mudança nos papéis, contextos e funções dos professores  alteraram profundamente o seu profissionalismo e a própria representação social sobre os professores. Deste modo, a escolha de uma profissão consiste em  construir uma imagem de si mesmo, dar um  sentido social à vida de cada individuo, ocupar um lugar na sociedade e estabelecer relações interpessoais com os outros  que a constituem. É nesta perspetiva que a identidade está diretamente relacionada com a construção de um  significado, baseado num atributo cultural, na experiência  e na finalidade  da ação exercida por um individuo ou pelo grupo a que pertence. A construção da identidade é assim,  um processo de significação da própria existência do individuo e a definição de si próprio e do seu lugar no mundo. Este é feito de forma consistente e coerente,  no qual ocorrem metamorfoses nem sempre pacíficas,  integrando as suas experiências de vida passadas, presentes e perspetivas de futuro. O conhecimento do professor enquanto pessoa e profissional centra em si os conflitos, as razões, a autonomia, os sentimentos,  os(des) encantos associados à construção da profissão docente e evidencia  aquilo que  cada professor é como individuo,  através da forma como ensina. 
O estudo da identidade dos professores pode ser incluída numa perspetiva cultural, na qual se reforçam os significados, as escolhas e a diferenciação estabelecida pelo professorado e a perspetiva político-institucional, sendo o Estado o principal gestor e produtor da identidade dos professores ao longo dos tempos. A identidade dos professores é entendida numa contextualização específica, dado que esta está intrinsecamente ligada ao conteúdo da sua ação educativa,  das alternâncias da atividade docente  e das pretensões institucionais, nomeadamente, académicas, políticas e  profissionais. Tal como noutras  profissões, a   construção da identidade dos professores  está socialmente contextualizada, possui um história própria, formas de interação entre indivíduos e dinâmicas de poder.
As identidades pessoais e profissionais dos docentes surgem como espaços de lutas e conflitos, de maneiras de ser, de estar na profissão, de adquirir inovações e aceitar mudanças, que implicam  fatores de  adesão, de ação e de autoconsciência, aos quais os professores não são alheios (Huberman, 2013). 
Como refere Nascimento (2007), a construção das identidades docentes  é um processo inacabado e interativo, no qual são preponderantes a socialização profissional,  as relações que os professores estabelecem nas escolas, a formação profissional e a profissionalidade docente. As identidades dos professores constroem-se numa dinâmica entre a ação e as representações profissionais colocadas em constante confrontação e (re)elaboração.
Ferreira (1994, p.63) refere que  não existe, propriamente,  uma identidade  docente, mas sim “várias identidades profissionais e estratégias identitárias pessoais e grupais diversas”.  A identificação com o grupo de ensino ou da disciplina que cada professor leciona, tem  levado à fragmentação do corpo docente,  entendido como um todo, do seu conhecimento pedagógico e correspondente conhecimento científico e social. A identidade dos professores faz-se a partir de processos de integração e de diferenciação social e profissional, que decorrem  no contexto escolar, em espaços de caráter associativo ou de formação contínua.
António José Alves Oliveira

 

COMENTÁRIOS

JMarques
à muito tempo atrás
As agressões impunes a professores por parte de alunos e pais, também têm contribuído para a motivação/vocação em ser professor.
António José Alves Oliveira
à muito tempo atrás
Tem toda a razão. Em 25 anos de docência já vi um pouco de tudo. No único país da Europa Ocidental onde os professores são comparados a lixo, a profissão transformou-se num autêntico Inferno, como disse um dia o Professor Sérgio Niza. Agora é a debandada geral, para quem pode.
Infelizmente, a situação vai ficar muitíssimo pior nos próximos anos...