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Leitores: Educação. Sentidos e propósitos

Hélder Henriques - 11/05/2023 - 10:00

A Educação é um campo científico onde se cruzam teorias, práticas e ações com o propósito maior de potenciar o desenvolvimento humano.

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A Educação é um campo científico onde se cruzam teorias, práticas e ações com o propósito maior de potenciar o desenvolvimento humano através de uma ecologia de saberes capazes de responderem às necessidades comunitárias, à curiosidade das crianças, jovens e adultos e, em meu entender, à promoção do pensamento crítico tão relevante e necessário no contexto em que vivemos. 
Os professores são elementos fundamentais na valorização dos estudantes e dos seus percursos formativos e de cidadania. Recordo António Sérgio (1939), quando afirmava que “a escola deve ser uma fonte de juventa, onde se vai beber para toda a vida o dom constante da renovação. Educar uma criança é não deixar secar a argila (…)”. A afirmação anterior deve ser colocada num contexto social e político diferente do nosso. Ainda assim, aponta para a importância de um triângulo crítico que não pode ser esquecido, no processo de ensino e de aprendizagem, em qualquer instituição escolar: as teorias, as práticas e as ações. Parece óbvio que os processos educativos resultam de uma dialética produzida no interior deste triângulo crítico ao longo da modernidade e colocam, ou devem colocar, ao centro o estudante. 
Além do referido, importa introduzir ainda, dois elementos significativos a ter em conta pelos protagonistas dos processos de ensino e de aprendizagem: o desenvolvimento de competências socio-emocionais e o conhecimento das tendências pedagógicas que se foram produzindo até à atualidade. 
Em primeiro lugar, educar é um ato eminentemente relacional, interativo, envolvente, de afetos, de sensibilidades e emoções que despertam ações, memórias, comportamentos e muita atividade cerebral. A expressão da emoção, e o reconhecimento da mesma, representa um primeiro passo para o desejado desenvolvimento integral do Ser Humano. Como afirma Vale (2019: 185) é fundamental a aprendizagem de uma autoconsciência emocional. Acrescentaria ainda que a importância das emoções se aplica nas relações entre pares, entre alunos e nas diferentes hierarquias educativas e pedagógicas existentes.   
A este propósito tenho defendido em diferentes fóruns a importância do envolvimento e da escuta das crianças e dos jovens estudantes. Muitas vezes, propõem-se atividades, planos e ações que secundarizam o lugar da criança, do jovem e até mesmo da família. Em particular, as crianças e os jovens devem ser o centro da ação educativa e pedagógica e a todos eles deve ser reconhecida agência/competência. Isto é, reconhecer, nas palavras de Oliveira-Formosinho (2007: 27), que têm a capacidade de, considerando os circunstancialismos que os envolvem, ler o mundo e interpretá-lo, construir saberes e cultura, enfim, participar enquanto pessoa e como cidadão na vida familiar, escolar ou comunitária. Praticar e desenvolver a Democracia. É preciso escutar as crianças, é preciso dar espaço às crianças, é preciso proporcionar tempo às crianças para pensarem e, principalmente, para poderem ser felizes. 
Depois, há uma segunda dimensão que é da maior importância: o conhecimento dos caminhos da educação. Por onde andamos, como aqui chegamos e para onde queremos caminhar? Qualquer pessoa que pretenda entrar e compreender a “comunidade educativa” [refiro-me ao ensino não superior] deve antecipadamente estudar as tendências pedagógicas, as experiências educativas, os autores de referência da área e os seus pontos de vista científicos. É preciso conhecer para aprender/apreender e propor soluções e desafios à Escola e/ou à comunidade educativa. Não podemos esquecer de igual modo que em cada instituição escolar há que ter em conta a cultura de escola que não pode, igualmente, ser esquecida ou secundarizada. 
O campo educativo é um campo de ação científico, com metodologias próprias, que dialoga e convoca diferentes saberes e que que embora não tenha fronteiras perfeitamente delimitadas como é o caso das “ciências naturais” tem um campo de estudo e pensamento estabilizados. Há uma enorme plasticidade e capacidade de absorção de outros saberes científicos que se conjugam no interior das “arenas” educativas. Mas é preciso conhecer!  A título de exemplo, e porque estamos em Castelo Branco, é preciso reconhecer a ação pedagógica de António Sena Faria de Vasconcelos enquanto grande impulsionador do movimento da Escola Nova e toda a carga simbólica, científica e de experimentação pedagógica que esse movimento comporta em si mesmo. O movimento da Escola Nova continua a revelar um sentido crítico e contemporâneo e, particularmente, a atualidade dos princípios pedagógicos subjacentes ao movimento desenvolvido por Faria de Vasconcelos, sumariamente: a valorização dos saberes psi, a pedagogia do interesse, a educação integral, a escola ativa, a proposta de um papel de “inconformista” atribuído ao professor e ao aluno, a importância da atividade manual, o respeito pela individualidade do aluno, a atribuição de espaço e tempo para o estudante alcançar maior autonomia e a importância do saber-fazer continuam a representar princípios importantes que devem ser tidos em conta por todos os intervenientes educativos na construção de estratégias e políticas pedagógicas nacionais, regionais ou municipais/locais. 
É urgente conhecer o passado, os nossos teóricos e as nossas tendências pedagógicas. Estudem-se os projetos pedagógicos já desenvolvidos em Portugal com sucesso, compreendam-se os processos de circulação e apropriação de ideias pedagógicas nacionais e internacionais que tanto nos ajudam a interpretar outras realidades e tendências pedagógicas e que, algumas vezes, também podem ser adaptadas localmente. Escutem-se as Escolas, as Crianças, os Jovens, as Famílias, sobre o que entendem ser oportuno à educação dos seus filhos e filtre-se o que se considerar relevante à luz do conhecimento científico na área da Educação. 
Como afirmava John Dewey (1971: 42) “As aprendizagens colaterais [ou assim consideradas], como as da formação das atitudes permanentes de gostos e desgostos podem ser, muitas vezes, mais importantes do que a lição de ortografia ou de geografia, ou história”.
É preciso estudar, é preciso participar, é preciso envolver, é preciso pensar, é preciso libertar as emoções, é preciso crescer, com sentido e propósito!  

 

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