Para a História ficou como “o dia inicial, inteiro e limpo” que Sophia de Mello Breyner imortalizou em poema. Mas para João Arruda, José Barneto, Fernando Reis, Fernando Giesteira, António Lage e Manuel Costa, o dia 25 de abril de 1974 e os que se seguiram foram os últimos das suas vidas. Quase todos morreram na sequência dos disparos feitos das janelas da sede da PIDE-DGS na rua António Maria Cardoso, em Lisboa, ao final da tarde daquela quinta-feira. Mas a História e os discursos políticos das sucessivas cerimónias oficiais cristalizaram a ideia que esta foi uma revolução sem derramamento de sangue. Fábio Monteiro, que nasceu a meio da década de 1980, já trabalhava como jornalista quando se deparou com uma notícia que falava dos mortos daquele dia. “A expressão certa é que eu senti-me enganado”, começa por recordar numa conversa que acontece no ex-quartel de Penamacor, onde há 50 anos funcionava a Companhia Disciplinar.