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Estêvão Cabral: Jesuíta beirão deixou marca em Coimbra

Reconquista - 02/11/2023 - 14:00

No dia em que passavam precisamente 30 anos como editora, Elsa Ligeiro voltou a Coimbra, com a biografia de Estêvão Dias Cabral, um jesuíta que deixou uma marca profunda na cidade dos estudantes.

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João Paulino, Lídia Barata e Francisco Fontes

No dia em que passavam precisamente 30 anos da sua estreia como editora, com o livro “Fernando Alberto Reis de Campos Pessoa”, Elsa Ligeiro voltou a Coimbra, dia 26 de outubro, para a apresentação da biografia de Estêvão Dias Cabral, um jesuíta que deixou uma marca profunda na cidade dos estudantes onde, além do nome de uma rua, desenhou o encanamento do Mondego e esteve na origem da plantação da Mata Nacional do Choupal.

O jornalista Francisco Fontes fez a apresentação desta edição da coleção Em Nome da Beira, da autoria de Lídia Barata, que decorreu no Núcleo da Liga dos Combatentes, onde foram recebidos pelo seu presidente, o tenente-coronel João Paulino. Francisco Fontes referiu também que foi em Coimbra que em 1996 a autora iniciou a profissão de jornalista, com um estágio na Agência Lusa, do qual ele foi o mentor. E, no que chamou de “terceiro acontecimento feliz” deste dia, destacou “a cultura e saber que este livro nos oferece, sobre o cidadão distinto que foi Estêvão Dias Cabral, um cientista produtor de uma ciência aplicada, destinada a melhorar a vida dos seus concidadãos”. À parte de ser nome de rua e da sua intervenção na criação da Mata Nacional do Choupal, “quase tudo o resto que o livro apresenta é uma novidade”. Assim, “é uma dádiva contra o esquecimento e pela afirmação da obra de pessoas que elegeram como causa da sua existência a melhoria da vida dos seus concidadãos. Mais importante é ainda aparecer esta obra num tempo em que tudo é tão volátil”.

 

 

Na análise do livro ressalva que “é como se estivéssemos perante a reportagem jornalística da vida de um cidadão, à qual a autora aplica uns cortes para destacar factos mais marcantes – os inventos. É uma narrativa que nos agarra e nos leva à descoberta da vida de um personagem, um personagem do século XVIII que teve uma longa vida, de 77 anos, aventurosa e muito rica”. Francisco Fontes sublinha a forma como no projeto da fábrica de papel na Gardunha se nota “a ideologia capitalista a iluminar o pensamento do padre – é a acumulação de lucros e a desvalorização remuneratória do trabalho (um século antes)”.

Sente nesta obra “a ausência do presbítero”, que acaba por considerar “uma aparente lacuna”, porque “se na atividade comum a um presbítero, Estêvão Dias Cabral parece ter uma menor relevância, isso se poderá ficar a dever à sua inclinação pessoal para a ciência, e às responsabilidades que as próprias autoridades eclesiásticas lhe reservaram já na fase da juventude em Roma”. Em suma, “se Estêvão Dias Cabral se ocupa a inventar o molinete para estudar a velocidade das águas e o seu efeito na erosão dos campos ribeirinhos, se inventa um sifão para purificar águas das chuvas, se estuda soluções, prepara projetos e dirige trabalhos de execução de empreendimentos públicos, teria a sua disponibilidade reduzida para guiar fiéis, celebrar a eucaristia, praticar a caridade ou ministrar sacramentos”. Tanto assim que, “no momento da sua morte, o escrivão da Câmara Eclesiástica escreve o seguinte: ‘Em o primeiro dia de fevereiro de 1811 faleceu repentinamente este exímio hidráulico na vila de San Vicente da Beira’. Aqui vemos que é a própria Igreja a destacar em Estêvão Dias Cabral a faceta de cientista e a omitir a de apóstolo”.

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