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Leitores: António Salvado, contributos para um estudo da sua poesia

Paulo Samuel - 12/05/2022 - 9:53

No próximo sábado, a partir das 15h, na Biblioteca Municipal de Castelo Branco, será apresentado o mais recente livro sobre a arte (poética) de António Salvado,

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No próximo sábado, a partir das 15h, na Biblioteca Municipal de Castelo Branco, será apresentado o mais recente livro sobre a arte (poética) de António Salvado, Contributos para o estudo da sua poesia, do qual é autora a conhecida Professora do Ensino Superior no IPCB, ora Jubilada, Maria de Lurdes Gouveia da Costa Barata. O volume, de 224 páginas, publicado por rvj Editores (sigla sob a qual se espelha o meritório trabalho do Editor João Carrega) tem na capa uma ilustração figurativa do poeta albicastrense, da autoria de José Pires. Uma nota de abertura, assinada por Leopoldo Rodrigues, Presidente da edilidade, justifica o apoio dado à edição, numa restrita tiragem de 200 exemplares. Na introdução (pp. 7-9), a autora, explicita razões para a compilação destes escritos. Na brancura do papel, em corpo legível – o que nem sempre ocorre, já que se privilegiam conceitos de design em detrimento da leitura fluida que um livro deve proporcionar a quem percorre as suas páginas – alonga-se um conjunto de textos que, na nossa perspectiva, vão além de um simples “contributo” para o estudo da poesia salvadina. 

A recolha das três dezenas de textos (em rigor 30, acrescendo uma carta), que num arco temporal abrangem títulos de livros de António Salvado publicados entre 1995 e 2021, balizados entre Estórias na arte até O Esperado Momento seguido de Como se a Terra (este, com ilustrações de Manuel Cargaleiro), segue uma linha cronológica, ao reunir recensões oportunamente veiculadas pela imprensa local, nomeadamente na Gazeta do Interior, apreciações literárias originadas em apresentações que a estudiosa fez de alguns desses livros em Lisboa e Coimbra, Proença-a-Nova e Castelo Branco, a par de registos palestrantes com que participou em encontros culturais e literários, ou na circunstância de alguma homenagem ao poeta de Interior à Luz (título ora cinquentenário), a que acresce um inédito, denso e problematizador (a propósito do oferecimento de um livro com dedicácia em poema feito por António Salvado a esta autora), e a republicação do texto que inseriu no volume colectivo “…o caminho se faz por entre a vida”, ou seja, nas actas do Colóquio sobre a Obra de António Salvado, iniciativa que promovemos em 2014 e do qual fomos Coordenador executivo, numa organização da Câmara Municipal de Castelo Branco. De realçar que Maria de Lurdes Gouveia Barata alude numa das páginas ao início da sua relação intelectual e pessoal com António Salvado, assente em admiração sustentada pelo entendimento superlativo do que é a vida (não indústria) cultural, em particular a criação poética, no seu plano mais elevado. “Encontraram-se pela primeira vez em casa de um amigo comum”, reencontrando-se depois «na esquina das aulas», na ESE e na clareira de Serões literários”. Desde então, o caminho de apreço e amizade foi-se ornando de florescências literárias, marcos de iniciativas comuns e expressões de afecto na premente via da existência – em reciprocidade. 

Se a componente estrutural do livro cabe nas linhas acima, outra dimensão atinge o perfil deste “contributo”, o que, na singeleza da expressão usada pode deixar o leitor (e principalmente o estudioso da Literatura e, em particular, da poesia salvadina), arredado de uma leitura integral dos textos ou desprevenido para uma exegese que os mesmos requerem. Presumindo conhecermos razoavelmente bem as linhas gerais do que tem sido publicitado, desde meados do século passado, sobre a obra de António Salvado – além, por óbvio, de a conhecermos por leitura e reflexão e não apenas pelo alinhamento dos exemplares em suas 1.ªs edições – entendemos que este contributo supera a horizontalidade de uma simples leitura morfológica, na vertente literária e nas pertinentes observações de análise linguística, para se alçar ao estatuto de uma observação participada (colhendo aqui os liames dos estudos culturais) em que a autora não toma a palavra poética como mero objecto, distanciado, matéria para análise crítica –  conduzindo-a, como tanto vezes se tem visto, ao redutor patamar das correntes literárias, aos contextos e sinalização de influências, campo dos estudos comparatistas – antes desenvolve um exercício de compreensão e simpatia heurística, que torna a nosso ver este conjunto de escritos quase uma dádiva holística. Sim, porque a leitura que a autora faz das várias modulações poéticas de António Salvado, distintas na sua formulação em livros de autónomo título, vão além da mostração de um poeta singular, radicado na sua “estranha condição” existencial, ciente que está de que só a palavra pode resgatar o inexorável curso existencial num tempo finito. Ora, se “a consciência do homem perante a vida é conquista da Memória” (p. 21), “a escrita é LUGAR dentro do lugar de vivência: aí se auto-representa e ao mundo, e aí deixa tecido o seu destino de viver” (p. 55). A poesia (que é mais do que uma expressão de inspirada sensibilidade e muito mais ainda do que o exercício aturado da manipulação da palavra, o que a poesia concretista e experimental persegue) tornou-se, no caso português, um modo de representação identitário, desde o longínquo trovadorismo galaico-duriense, passando por Gil Vicente e Camões, até Nobre, Cesário, Pessoa, Régio, Herberto, Eugénio, Salvado… para se nomear apenas uns tantos de âmbito alargado no reconhecimento público. Nisto se enxerta o holismo atrás mencionado, pois na oficina poética que neste enquadramento se assegura, está o molde ou modelo para se configurar a vida no sentido pleno que lhe é próprio e que não a dissocia do que é real, logo ideal. A realidade não é simplesmente o tangível – se é que o é, no domínio da percepção criacionista da origem dos seres – mas esse algo que está apenas à distância de se o querer assumir como parte integrante da identidade própria e indivisa (embora universal): uma identidade que não repele a Natureza no seu todo (o que não se confunde com o simples meio-ambiente), que sabe que é no outro que se conhece e reconhece o que verdadeiramente se é, que o domínio dos sentidos é bastamente superado pela prevalência da alteridade espiritual (de que a emoção artística é singelo reflexo). Nisso se enxerta a Luz, esse leitmotiv recorrente (enfatiza Maria de Lurdes Gouveia Barata) na extensa e intensa obra de António Salvado, a que também já nos referimos noutro local. Por isso, “o poeta, sempre em vigília da vida” (p. 67) sabe que o obscuro domínio é derrogado pela palavra poética “guardiã dum saber”, que continuamente “reinventa e constrói” um real. “A estruturação dos dias – salienta a estudiosa e crítica – que são dias do passado continuados no presente e serão ainda dias do futuro pertinazes na procura da luz, do momento sonhado inalcançável, configura-se pelo poder da memória e pelas importantes funções que desempenha na construção duma identidade” (p. 87). Desenvolvendo esta vertente de perscrutação, a conhecida autora escreve que “a escrita deixa fios de vida e de história, retém a cultura, pretende ser um testemunho do mundo, de um mundo que se partilha pelo sentido possível oferecido pela linguagem conotativa e pelo espaço aberto da construção de sentidos”. Consuma ainda a procura duma repleção para um sujeito poético predestinado «a mitigar em verso   a fome e a sede».” (p. 111). Cura, portanto, pois cultivar e cultuar procedem da mesma raiz e, como reiterou o raiano filósofo Pinharanda Gomes, subsiste a teoria tornada tese do pão e da palavra, que se abraçam na mesma finalidade – salvar o Homem de ambas as fomes: a natural e a do Absoluto. Aqui se enraíza a poética de António Salvado. Nesse plano a veio de novo lembrar Maria de Lurdes Gouveia Barata, reiterando que “guindar a vida à emoção da arte, usufruir da arte a verdade da vida é relação dialéctica que passa pela preservação do tempo e pelo desejo de prolongar esse mesmo tempo e torná-lo eterno” (p. 69). 

Estamos face a um “contributo” que é sobretudo tributo: à poética de António Salvado, ao esplendor da Vida, na certeza de que o Real não é o virtual com que nos querem amordaçar…

 

 

PAULO SAMUEL

(Ensaísta e Investigador)

COMENTÁRIOS

Moacir Reis
à muito tempo atrás
Sugestão de pauta:
Senhor(a), com todo respeito aos editores, eu precisei usar uma LUPA para conseguir LER o texto da matéria.

Espero ter contribuído com a sugestão técnica.

https://www.linkedin.com/pulse/i-festival-luso-brasileiro-da-poesia-menestrel-moacir-reis

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Moacir Reis
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