Futebol: Formar para a treta

Artur Jorge - 31/10/2019 - 8:30

João Alves é treinador do Belmonte. Questiona o alcance do investimento na formação, quando os jovens “cada vez têm menos espaço no futebol distrital e, até, nas equipas da terra”.

João Alves manifesta a sua opinião sobre o rumo que o futebol distrital está a levar

O aumento considerável de jogadores estrangeiros ou recrutados em outras paragens do território nacional, traz uma nova base de interpretação ao campeonato distrital de futebol. O amadorismo puro e duro já é de outros tempos e poderá até encontrar-se aqui uma das razões do escasso número de equipas.

De Belmonte chega um grito de preocupação. João Alves, treinador da equipa local, entende que “se se quer pensar numa perspetiva de potenciar a qualidade da prova em si e aproximá-la da exigência do Campeonato de Portugal, com esses jogadores é possível que aconteça”. Mas não assina por baixo. Longe disso, até. “Pessoalmente, abomino essa ideia. Não faz sentido os clubes andarem a reclamar que não há condições para a formação, que não há isto e aquilo, que andem a formar miúdos desde as escolinhas até aos juniores, e depois não tenham espaço nos seniores e nas equipas da terra”.

Questionado pelo nosso jornal no final da partida do último domingo em Alcains, João Alves prosseguiu a argumentação:

“Se formos buscar quatro ou cinco estrangeiros e recrutar a outros pontos do país, poucos ou nenhuns da região vão ter espaço no seu Distrital. Utilizando uma expressão de JJ, estamos a formar para a treta. Só para entreter os miúdos. Em Belmonte não vamos por aí. Não temos condições para o fazer, mas se tivéssemos e fosse eu que estivesse à frente do clube, não o faríamos na mesma!”

E não o fariam por uma questão de dar alcance ao investimento feito no futebol juvenil. “Está a inverter-se a lógica toda do processo. Como é que podem aparecer valores no futebol do distrito de Castelo Branco, se não têm espaço nas suas equipas? Faz-me muita confusão esse movimento da certificação de entidades formadoras, que agora todos vão com pompa e circunstância receber… É uma treta! Vi clubes receberem essa certificação que nem uma bola de Berlim formam! E há clubes como a UD Belmonte, que ainda não conseguiu a certificação mas está a trabalhar para isso, que já formou imensos jogadores, tanto para clubes do distrito como para equipas do Campeonato de Portugal. Quem passa um diploma e alude aos benefícios da certificação, que venha ao terreno ver se fazem ou não!”