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Leitores: Gastronomia. A emoção é falta de alimento. Fome

Maria Caldeira de Sousa* - 21/09/2023 - 10:15

Cérebros nutridos de alimento são melhores humanos. Os pais tentavam decidir onde ir almoçar, enquanto os pequenos reclamavam e choravam de fome.

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Cérebros nutridos de alimento são melhores humanos. Os pais tentavam decidir onde ir almoçar, enquanto os pequenos reclamavam e choravam d e fome. A mãe sugeriu ir a o restaurante do hotel, mas o pai queria explorar a cidade e tentar encontrar um local mais autêntico. A discussão continuou por alguns minutos, enquanto o sol brilhava e a piscina convidava para um mergulho refrescante. Eventualmente, eles resolveram ir ao restaurante do descansado hotel para saciar a fome urgente, com a promessa de explorar a cidade mais tarde. Enquanto observava a cena, tomei consciência de quanto a fome pode afetar a capacidade das pessoas na tomada de decisões e até de se comunicarem adequadamente. É um lembrete de como é importante cuidar d o nosso corpo e alimentá-lo adequadamente, para garantir que possamos desfrutar das coisas boas da vida sem sermos limitados pelas emoções. A fome é emocional. Considero que a relação entre emoções e alimentação é bastante complexa e influencia os nossos hábitos alimentares de forma singular. Algumas emoções, como a fome, são uma resposta fisiológica natural do corpo que sinaliza a necessidade de obter nutrientes para manter as funções vitais. No entanto, vivemos numa sociedade de abundância onde a disponibilidade de alimentos é muito maior do que a necessidade do corpo. Como resultado, muitas vezes comemos não apenas quando estamos fisicamente com fome, mas também quando queremos reavivar o s nossos sentidos com algo novo, aliviar o stress ou simplesmente desfrutar de um momento prazeroso . Foco-me muito sobre a má alimentação, uma questão importante que afeta a humanidade como um todo, e não apenas e m países desenvolvidos. A má alimentação pode levar a uma série de problemas de saúde, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e outras doenças crónicas. Além disso, também têm um impacto emocional significativo. Como exemplo, algumas pessoas podem se sentir envergonhadas ou culpadas pelas suas escolhas alimentares, enquanto outras podem desenvolver transtornos alimentares, como a bulimia ou a anorexia. 
É importante entender que as escolhas alimentares não são apenas uma questão física, mas também emocional e psicológica. Numa abordagem holística na alimentação, tenho em consideração não apenas os aspectos nutricionais, mas também emoções e hábitos alimentares, que podem ajudar a desenvolver um relacionamento mais saudável e equilibrado com a comida. A emoção refletida na abundância pode dividir a gnose familiar, pois em alguns casos, há uma excessiva oferta de alimentos, o que pode levar ao desperdício e à não valorização da comida. Por outro lado, em famílias carenciadas economicamente ou até estudantes universitários a falta de alimentos de qualidade e variedade nutricional pode levar a uma privação emocional e física, o que gera fome sentimental. A hiperconectividade causada pelo excesso de alimentação também pode contribuir para sentimentos de solidão e desconexão emocional, já que a comida pode ser usada como uma forma de aliviar o stress e a ansiedade, muitas vezes de forma inconsciente. A abundância de alimentos pode levar a escolhas alimentares menos saudáveis, o que pode afetar negativamente a saúde física e emocional. A alimentação é um fator importante na formação de nossa identidade cultural e pode influenciar padrões de consumo e hábitos alimentares. É importante refletir sobre nossas escolhas alimentares e a forma como nos relacionamos com a comida, buscando um equilíbrio entre a abundância e a moderação, valorizando a comida e evitando o desperdício, além de ter consciência dos impactos emocionais e físicos que nossas escolhas alimentares podem ter. Infelizmente, a história do mundo confirma que a fome pode ser um factor importante no desencadear de guerras e conflitos entre povos. A escassez de alimentos pode levar ao desespero e à agressividade da humanidade, sendo a alavanca propulsora de medidas extremas para obter alimentos e recursos para sobrevivência. Relembro os registos durante a Segunda Guerra Mundial, muitos países passaram pela escassez de alimentos devido à interrupção do comércio internacional, o que levou a uma competição feroz por recursos e territórios. Muitos conflitos contemporâneos, como a guerra civil Síria e a que nos atropela diariamente na Ucrânia , também nos têm mostrado escassez de alimentos e recursos naturais. A fome e a ausência de alimentos são usadas como arma política, na decisão dos governos de restringir o acesso a alimentos para controlar as populações ou enfraquecer as forças oponentes. No entanto, é importante lembrar que a fome e a míngua de alimentos são frequentemente resultado de desigualdades estruturais e políticas injustas que afetam sem proporção as comunidades marginalizadas e vulneráveis. Continuemos a promover a justiça social e o acesso recto a alimentos, água e recursos é uma parte crucial para prevenir conflitos e promover a paz global. 

Chefe de Cozinha Histórica - EST.M. História da alimentação, cultura, sociedade e fontes
Proprietária da Casa da Velha Fonte

COMENTÁRIOS

Samouco
No ano passado
Esta chefe é uma surpresa a todos os níveis. Obrigado
F.G
No ano passado
Revi-me na irritabilidade. Chefe Maria, faz todo o sentido escrever. Parabéns
F.N.
No ano passado
Cheio de conteúdo. Parabéns chefe. Um orgulho.
Maria João
No ano passado
Um canhão de informação, fácil leitura. Obrigado.
Conheço a chefe e este texto é a cara dela.
Salvado
No ano passado
Bom artigo. Parabéns
Silva
No ano passado
A Maria escreve da alma para o coração. Bem haja.
Francisco V.
No ano passado
Consigo ouvir a Maria falar!
T.
No ano passado
Gosto de ler esta mulher.
F.
No ano passado
Um cozinheiro que escreve e é mulher. Orgulho nesta minha amiga de infancia. Se a adimirava agora muito mais. Obrigado Zezinha.
Costa,
No ano passado
Muito obrigado.
Henrique
No ano passado
Estou a ficar curioso com o proximo. Força chefe.
R. Jorge
No ano passado
A resiliência deste Casal é inspiradira.
Vão em frente, lá estrei nas vossas mesas. Continue a escreve chefe, ouve-se bem!