Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Leitores: Gastronomia q.b. Gastronomia é Património

Ricardo Fradique Nunes - 26/01/2023 - 9:52

Já poucos recordam ou sequer sabem que a gastronomia foi consagrada património cultural imaterial de Portugal, após Resolução de Conselho de Ministros, N.º 96/2000, de 7 de julho e subsequente publicação em Diário da República, a 26 de julho de 2000, onde a gastronomia portuguesa é elevada a “bem imaterial do património cultural português”, era então Primeiro-ministro o ilustre beirão, Eng.º António Guterres.

Partilhar:

Já poucos recordam ou sequer sabem que a gastronomia foi consagrada património cultural imaterial de Portugal, após Resolução de Conselho de Ministros, N.º 96/2000, de 7 de julho e subsequente publicação em Diário da República, a 26 de julho de 2000, onde a gastronomia portuguesa é elevada a “bem imaterial do património cultural português”, era então Primeiro-ministro o ilustre beirão, Eng.º António Guterres.
Tal distinção, note-se, foi cuidadosamente justificada e documentada, e é quiçá um dos melhores documentos que conheço sobre a importância e a necessidade de salvaguarda, valorização e de promoção da gastronomia portuguesa, mas que infelizmente falta cumprir o seu desígnio e o seu propósito.
Pode ler-se no documento que “entendida como fruto dos saberes tradicionais que atestam a própria evolução histórica e social do povo português, a gastronomia nacional integra, pois, o património imaterial que cumpre salvaguardar e promover”, nesse sentido é um património vivo, que distingue territórios, comunidades e indivíduos, e que vai muito para além do simples “ato de comer” enquanto necessidade fisiológica, constituindo-se enquanto a “arte de bem comer”, assente no respeito pelo produto e pela tradição, bem como, na criatividade, traduzindo-se no deleite e no “prazer da mesa”.
A gastronomia, devidamente valorizada e promovida poderá, em qualquer lugar do mundo, ser a alavanca fundamental para a promoção turística de uma região, quer pela inevitável necessidade do turista em se alimentar, quer pela crescente procura por um turismo gastronómico qualificado, que potencie experiências únicas, que imerjam o turista numa experiência sensorial que o marque profundamente e o faça regressar e recomendar o destino.
A nossa região, tendo em conta a sua situação geográfica, a boa acessibilidade quer por via rodoviária, quer ferroviária poderia assumir um papel estratégico implementando um projeto ambicioso de valorização e promoção gastronómica, com particular enfoque na gastronomia da Beira Baixa e os seus produtos endógenos, por exemplo com a criação de um espaço, à imagem de projetos de sucesso em França e Espanha, que promovesse a recuperação e adaptação de um património arquitetónico icónico e central, como por exemplo, o Solar dos Viscondes de Portalegre (antigo Governo Civil), numa “Cidade da Gastronomia”, que aliasse um conjunto de valências, como por exemplo: o “Solar do Queijo da Beira Baixa” (valorização e promoção) + Oficina do Queijo (experimentação e formação), um “Hub Gastronómico” que agregue um conjunto de stakeholders nas áreas da alimentação, produção, restauração e turismo da região, que contribuam ativamente para a missão e objetivos do projeto, e uma “Academia de Gastronomia”, com  missão de investigar, registar e formar profissionais e entusiastas da gastronomia, podendo ainda aliar-se uma componente de restauração e bar (em regime de concessão) que possa apoiar a missão e objetivos da estrutura e seja capaz de gerar receita que contribua para a sustentabilidade do projeto
Em suma, a gastronomia deverá assumir o seu lugar de efetivo agente de desenvolvimento territorial, sendo premente a assunção de compromissos estratégicos que possam dotar a região e a cidade de Castelo Branco, de uma estrutura capaz de projetar a região da Beira Baixa no país e no mundo, pois a gastronomia (e os vinhos), é, indubitavelmente, motor de promoção da identidade cultural da região, da competitividade e de experiências criativas, capazes de gerar valor acrescentado e de promover o turismo e a economia local.

Ricardo Fradique Nunes

COMENTÁRIOS