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Gastronomia q.b. O futuro da tradição: a gastronomia

Ricardo Fradique-Nunes - 18/05/2023 - 9:08

Tendo plena consciência de que o presente é o fugaz momento entre o passado e o futuro das nossas vidas, irremediavelmente, limitadas e finitas, urge usar esses escassos segundos com a necessária parcimónia e o discernimento de que é nesse etéreo momento que se determina o quão respeitosos somos pela memória do passado...

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Tendo plena consciência de que o presente é o fugaz momento entre o passado e o futuro das nossas vidas, irremediavelmente, limitadas e finitas, urge usar esses escassos segundos com a necessária parcimónia e o discernimento de que é nesse etéreo momento que se determina o quão respeitosos somos pela memória do passado, que nos guiaram até este preciso momento, o quão somos diligentes na construção do futuro que deve beber nesse passado, na ansia de transformação e de inovação natural desse fugaz presente e, assim construir um futuro (que rapidamente será passado) do qual nos possamos todos orgulhar.
Nesse sentido poderemos integrar diversas dimensões, entre as quais as tradições, as memórias ancestrais e os rituais que nos definem enquanto comunidade, um deles, dos mais complexo e estruturantes que conheço, é a gastronomia, sendo na minha opinião uma matéria que deve merecer particular atenção, pois a sua valorização é pedra basilar para a coesão das comunidades, da região e do país, bem como, móbil para o estímulo económico das regiões, quer pela valorização dos produtos gastronómicos e das atividade produtivas  a eles associadas, quer pelo estimulo ao turismo de qualidade, aspetos tão necessários, em particular nos territórios do interior, um interior que afinal em Portugal e bem mais um “interior assumido” do que um “interior geográfico”, paradigma que urge mudar.
Sendo a gastronomia parte do nosso património cultural imaterial e, atendendo aos termos do disposto conjuntamente pelo DL n.º 139/2009, de 15 de junho (atualizado pelo DL n.º 149/2015, de 4 de agosto) e pelo DL 115/2012, de 25 de maio (atualizado pela Portaria n.º 201/2022, de 3 de agosto), compete à Direção Geral do Património a coordenação, a nível nacional, das iniciativas de salvaguarda na área do Património Cultural Imaterial, contudo, cientes da dificuldade em desenvolver um programa pleno e centralizado, que desenvolva ações em todos os lugares do nosso país, mas ainda mais cientes que é urgente desenvolver localmente projetos de promoção e salvaguarda do Património Cultural Imaterial, em particular no domínio da gastronomia, deverá a sociedade civil continuar e intensificar os esforços desenvolvidos nesse sentido, com o apoio do associativismo local, da Juntas de Freguesia e dos Municípios, este últimos como um papel fundamental na definição de estratégias e na dotação de ferramentas adequadas aos agentes da comunidade que procurem assumir esse desígnio junto das suas comunidades.
Nesse sentido, lanço o desafio à sociedade civil e às autoridades locais para a constituição de um “Fórum de Gastronomia Local” que estimule e promova o estudo, a salvaguarda, a valorização e a divulgação do património cultural imaterial, nomeadamente, no âmbito da gastronomia e das tradições associadas, mas também, igualmente relevante, permita fomentar a criação de uma base sólida que contribua para uma inovação séria e de qualidade, que nos orgulhe no presente e no futuro, construindo um passado rico e diversificado, afinal a matriz indelével da nossa cultura, da essência de ser português.

Ricardo Fradique-Nunes 
gastro.qb@gmail.com

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