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Urge dar a volta ao texto

Florentino Beirão - 13/07/2017 - 9:59

Até maio, tudo parecia correr bem ao primeiro - ministro, António Costa. O Governo só apresentava boas notícias. O futebol, Fátima e o Festival marcavam a agenda política do país, de uma forma auspiciosa. A este exaltante ambiente se juntava o turismo em alta, o défice e o desemprego a descerem e o PIB revelando resultados positivos. O diabo parecia que não chegava, como a oposição desejaria. Até os empresários se mostravam confiantes no rumo da geringonça a revelar um propício ambiente, para os negócios e os investimentos.
Eis senão quando, chegados a meados de junho, no fatídico dia 17, com o dramático incêndio de Pedrógão que varreu três concelhos, o país tremeu e o governo, face à tragédia, assustou-se. Os 64 mortos e os 250 feridos, para não falar dos desempregados e das centenas de casas destruídas, acabou por criar um novo ciclo no Governo. Agora, de cores escuras.
Ainda fumegavam as serras e os montes e já outra desgraça pairava nos noticiários. A zona militar de Tancos foi assaltada, esvaziando-se dois paióis de material de guerra. A sua quantidade viria a ser noticiada através da imprensa espanhola. Este crime só poderia ter acontecido, dizem alguns, com uma provável cumplicidade interna. A falta de vigilância e a deficiente proteção dos paióis terão também criado as condições para que o inconcebível furto tenha sido tão rápido e eficaz. Mais de uma tonelada de armamento a voar para outras paragens, onde a guerra campeia.
Com este nefasto acontecimento, não só o Governo foi gravemente atingido politicamente, como os militares e o próprio Exército, no seu “orgulho e prestígio”.
Quanto aos cidadãos, uma angustiada interrogação esvoaça nos céus do país. Como poderemos confiar, face aos incêndios e ao furto das armas, nos nossos governantes, relativamente à nossa segurança e proteção?
A reação dos ministros em causa, Constança de Sousa e Azeredo Lopes, já a conhecemos. A ministra da Administração Interna diz vir a assumir as consequências políticas, após os resultados das comissões de inquérito aos incêndios. De igual modo, o ministro da Defesa já garantiu também que não irá fugir às suas responsabilidades. Entretanto, já cinco Comandantes de Unidade foram exonerados pelo Chefe do Estado-Maior do Exército, Rovisco Duarte. A reação corporativa de alguns seus colegas não se fez esperar. Em Belém, simbolicamente, pretenderam depositar armas numa manifestação ilegal. À última hora, o bom senso fê-los arrepiar caminho. Sobra o mal-estar entre militares.
Face a esta situação política tão agitada e escaldante, a oposição não poderia ficar calada. Da parte do PSD, Passos Coelho queixa-se do Governo, por este ter desaparecido perante estes factos. Da parte do CDS, Assunção Cristas mais contundente, assumindo o seu já habitual protagonismo, não só pediu a cabeça dos ministros, como chegou a exigir a demissão de António Costa. No calor eleitoral autárquico, as vozes dos candidatos como é suposto, sempre sobem de tom. O populismo à solta, tentando mais alguns votos dos indecisos.
Mas não são só estes dois ministros – Administração Interna e Defesa - que têm a sua cabeça a prémio. Na realidade, outros há que se encontram também chamuscados nesta conjuntura política. Nomeadamente o ministro da Educação, Tiago Brandão, devido à fuga de uma prova de exame. Por sua vez, a ministra da Justiça, Francisca Van Dunen, encontra-se também com os juízes à perna, lutando por melhores salários. Na pasta da Saúde, Adalberto Santos, a sentir-se pressionado com alguns enfermeiros em greve. Como se pressente, vem aí um verão quente, a prometer agitação política escaldante. Acresce a tudo isto, que as legítimas e merecidas férias do primeiro-ministro, a serem gozadas num momento tão agitado, também já se encontram a ser aproveitada pela oposição para elevar o clima de contestação a esta opção de Costa. Foi necessário que o Presidente da Republica viesse a terreiro para acalmar estes gritos e a garantir que o Governo e a Presidência, presentemente, se mantêm unidos na solução dos problemas do país. Seja como for, estes infelizes acontecimentos têm que ser esclarecidos e apuradas as responsabilidades políticas, como estruturantes da nossa democracia. O silêncio, por vezes, torna-se ensurdecedor. Urge dar a volta ao texto. O mais rápido possível.

florentinobeirao@otmail.com
 

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