Fernando Jorge
O que se passa no Hospital Amato Lusitano é uma vergonha.
A Unidade Local de Saúde de Castelo Branco está a ser gerida de uma forma que considero sórdida e perversa o que é uma vergonha.
Vergonha é também o silêncio ensurdecedor que alguns responsáveis políticos têm mantido perante a forma obscena e imoral como esta importantíssima instituição pública está sendo gerida.
Durante anos, forças políticas da cidade, independentemente do partido que militassem ou apoiassem, sempre os vi em defesa da cidade e da região.
Foi assim por exemplo quando se falou no fecho da maternidade do nosso hospital.
Da Extrema Esquerda à Direita Política Portuguesa, todas as vozes se manifestaram a favor da manutenção da maternidade em Castelo Branco.
E conseguiu-se.
O argumento de fundo era que havia poucos partos em Castelo Branco, e havendo poucos nascimentos não se justificava ter aqui este serviço médico.
Pois, pasme-se, o hospital de Castelo Branco agora envia grávidas em trabalho de parto para irem ter o seu filho à Covilhã.
Põe em risco a grávida e o bebé, e dá trunfos aos que querem fechar a maternidade.
Há poucas grávidas e mesmo assim enviam-nas para outro hospital. Isto é uma vergonha.
Uma vergonha para os Albicastrenses, para o hospital e seus profissionais e para políticos que não agem nem reagem às provocações sucessivas da Administração que está a destruir o que tanto custou a erguer.
E digo DESTRUIR com todas as letras.
A Maternidade esteve a semana passada à beira do abismo, isto é, para fechar.
Tal não aconteceu, apenas pelo grande sentido de responsabilidade e espírito de sacrifício dos Médicos Obstetras do Hospital Amato Lusitano.
A escala de urgência para o mês de Junho estava cheia de buracos e a incapacidade da Administração do Hospital em contratar médicos, mas não só, levava o serviço de Obstetrícia para uma situação muito difícil se os médicos não se tivessem disponibilizado a fazer mais urgências do que aquelas a que são obrigados.
De referir que o Hospital de Castelo Branco tem apenas três médicos Obstetras no quadro hospitalar, enquanto outro hospital do nosso distrito tem doze.
Uns preocupam-se com as pessoas e outros preocupam-se com outras coisas.
Há poucos meses, Castelo Branco sofreu um rude golpe, quando o Sr. Ministro da Saúde anunciou para o Hospital da Covilhã a Unidade de Intervenção Cardiológica, quando a qualidade e quantidade de médicos cardiologistas do HAL fazia prever que essa Unidade de Saúde ficasse aqui localizada. Mas não ficou...
E a Unidade de Cuidados Intensivos, que tantas vidas tem salvo, vai manter-se? Sabemos que os doentes com enfarte do miocárdio, agora vão ser referenciados para a Covilhã, e se não estivermos atentos pode ser o princípio do fim doutro serviço médico.
Também sobre os exames complementares de diagnóstico há novidades e infelizmente não são boas.
Depois da Administração concentrar e obrigar todos os doentes a irem ao Hospital fazer os exames de diagnóstico, exames esses que eram feitos em regímen convencionado (dentro do Serviço Nacional de Saúde) em vários locais de Castelo Branco, aconteceu que alguns desses exames que eram feitos em regime convencionado, as empresas que os realizavam, transferiram-nos para outras cidades de Portugal.
Agora o Hospital não tem capacidade de resposta para os mesmos.
E o que faz? Agora o Hospital paga o transporte para Coimbra ou disponibiliza transporte e paga a uma Clínica Privada em Coimbra os exames dos doentes de Castelo Branco.
O Hospital tem custos acrescidos, os doentes correm riscos desnecessários, perdem o dia e têm custos adicionais nomeadamente com a alimentação.
O Presidente do Conselho de Administração tal como diz o povo: “duma cajadada mata vários coelhos ”, prejudica os doentes, destrói o tecido empresarial da saúde em Castelo Branco, sub-valoriza a nossa cidade e abona a Covilhã e Coimbra.
Sempre ouvi dizer que “não há crime sem motivo”. E para mim o que o Presidente da ULS estava a fazer, sendo surrealista e vergonhoso, eu não entendia porquê, até porque a sua conduta tinha sido em toda a vida oposta áquela que agora defende.
Porque razão não se preocupa com o atraso de consultas com mais de um ano em Oftalmologia, Dermatologia e outras?
Porque não se preocupa em criar novos serviços e novas valências?
Porque não se preocupa em trazer mais médicos para Castelo Branco (no último concurso foram 24 para a Covilhã e apenas 15 para Castelo Branco)?
Porque não se preocupa que a consulta de Estomatologia fosse só para doentes internados?
Porque não se preocupa em fazer concursos de material médico?
Porque não se preocupa em responder à Ordem dos Médicos sobre a concentração de exames complementares de diagnóstico?
Porque não se preocupa com os médicos internos do hospital? Porque não se preocupa com a Inspecção que teve da Ordem dos Médicos ?
Porque não se preocupa com a queixa apresentada no Ministério Público sobre alegadas irregularidades praticadas na aquisição de material hospitalar?
Porquê mudar o que funciona bem e deixar estar o que não funciona?
Porquê? Deram-me uma razão. Terá sido por isso?
O Senhor Presidente da ULS é sócio gerente da empresa Médicos Paula de Campos Lda.
O outro gerente é a esposa, a senhora Drª Jacinta PAULA DE CAMPOS Vieira Pires.
Esta empresa prestava serviços de Medicina do Trabalho para uma empresa de Castelo Branco que por sua vez prestava serviços de saúde na área dos complementares de diagnóstico.
Empresa essa que rescindiu o contrato de prestação de serviços com a empresa privada do Sr. Dr. Vieira Pires. Deram-me esta razão para justificar determinadas condutas. A mim custa-me a crer.
Como médico e autarca entendo que é uma vergonha a forma como o hospital está a ser administrado, a saúde não se compra ao metro nem ao litro, nem se pode gerir um hospital para apresentar números, mas para resolver os problemas de saúde dos doentes.
E quem não entender isso devia dedicar-se a outra actividade.
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