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Leitores: IC 31: A estrada da ilusão (Parte III)

Luís Santos* - 23/02/2023 - 9:55

Na última saga desta trilogia, iniciada em dezembro, temos a venda das ilusões e promessas.

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Na última saga desta trilogia, iniciada em dezembro, temos a venda das ilusões e promessas. Daquelas com dezenas de anos, mas repetidas e anunciadas com tanta pompa, que só o anúncio nos faz pensar que as obras já estão feitas. Anúncios com foguetes e Ministros, Secretários de Estado e a sua turba de assessores, qual festa popular. Mas, já nos tempos romanos assim era. A turba adora, só fazendo falta um cantor popular. Quiçá venha nos próximos anúncios. 
Como aqueles proporcionados pela realização do Conselho de Ministros na cidade de Castelo Branco. Durante uma semana, a caravana de propaganda socialista instalou-se no Distrito de Castelo Branco. Para os mais incautos e distraídos, as etapas da Volta a Portugal em Bicicleta tinham chegado mais cedo à capital. Faltavam os típicos adereços dos patrocinadores do evento, mas o aparato estava estacionado no centro da cidade. Compreensível, num primeiro momento, dada a segurança necessária para a receção aos nossos governantes, incompreensível depois das declarações da senhora Ministra da Coesão Territorial e cabeça de lista do PS no círculo eleitoral de Castelo Branco, Ana Abrunhosa onde afirmou, no fim deste Conselho de Ministros que as portagens na A23 tinham de ser avaliadas, porque a sua redução era “ (…)em si, contraditória com uma política pública que deve criar incentivos para o uso dos transportes coletivos (…)”. Política de transportes que já deveria ter sido acordada com as respetivas Comunidades Intermunicipais e agilizada para ser implementada, mas deixemos isso para outro artigo. Empurrou com a barriga um tema sempre presente em Eleições Legislativas, essencial para o desenvolvimento económico do Distrito, mas esquecido num Governo tão interessado no Interior. Isto a propósito do anúncio da construção do IC 31 em perfil de autoestrada. Uma reivindicação com barbas, anunciada tantas vezes, de forma tão distinta que, após este anúncio realizado pelo novo Ministro das Infraestruturas, João Galamba, já ninguém fica surpreendido. Apenas entediado a aguardar o próximo anúncio, previsivelmente antes de um ato eleitoral.
Mas, avancemos para a cronologia deste empreendimento, pelo menos, desde agosto de 2010, data onde o então Presidente do Município de Castelo Branco, Joaquim Morão afirmava com convicção, “o IC31 é irreversível” na inauguração do troço da autoestrada entre Plasencia e Galisteo (a autoestrada sem portagem que permitiria uma ligação em autoestrada para Madrid). Após seis anos de governação de José Sócrates (quatro das quais com maioria absoluta), o primeiro-ministro do governo que considerou esta via estratégica no Plano Regional de Ordenamento do Território para o desenvolvimento da região Centro do país. Na prática, nada se passou. Em 2018, após três anos de governação de António Costa, o proencense João Paulo Catarino, na altura Secretário de Estado da Valorização do Interior, dizia que e passo a citar “o IC31 é uma via muito importante para o país, não só para a região [Castelo Branco], mas para aproximar Lisboa de Madrid por via rodoviária. Mas serão o estudo e o Programa Nacional de Infraestruturas que vão dizer se é ou não”. Como sabemos, nem o estudo, nem o Programa Nacional de Infraestruturas o consideraram, pelo menos no terreno, pois durante estes cinco anos nada se viu. Até que veio o PRR, o programa anunciado para salvar o pais, a chuva de milhões da mudança de paradigma, capaz de desenvolver Portugal. Surpresa, o IC 31 não constava das obras rodoviárias propostas. Para uma via prioritária no tempo de Sócrates, desaparecer no tempo de Costa era estranho. 
No passado dia 3 de fevereiro de 2023, surge a surpresa. O IC31 vai avançar com perfil de autoestrada com início das obras do primeiro troço em 2025. O anúncio foi feito com pompa e circunstância, os sinos tocaram, os presidentes de Câmara do PS falaram a uma só voz, o PS de Castelo Branco elogiou a decisão fruto do Conselho de Ministros. Bem quase todos…A Federação Distrital do PS continua calada sem defender nada, nem ninguém, mas adiante. Treze (13) anos depois do “irreversível” de Joaquim Morão, quinze (15) anos depois de José Sócrates ter considerado esta via estratégica, onze (11) anos de governação socialista, nada se passou no IC31. Dezenas de anúncios depois, a ilusão continua. O problema é que os ilusionistas são sempre os mesmos.
Tal como os enganados.

*Presidente do PSD Distrital de Castelo Branco
luis.santos@psdcastelobranco.pt 

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