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Idanha-a-Nova: Um padre feliz no meio do seu povo

José Furtado - 14/10/2022 - 11:54

VÍDEO Adelino Américo Lourenço recebeu a primeira chave de ouro do município como reconhecimento da dedicação à população e à identidade cultural do concelho.

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População juntou-se no santuário para homenagem ao sacerdote. Foto Reconquista

Quando naquele início de outono de 1972 chegou a Idanha-a-Nova para assumir a condução da paróquia, Adelino Américo Lourenço foi levado pelo povo até à capela de Nossa Senhora do Almortão. O que lá ouviu iria ficar para sempre na sua memória.

“Aqui disseram-me que estava o tesouro maior do povo da Idanha e aquilo ficou-me cá dentro”.

Cinquenta anos depois, foi à porta daquela capela e debaixo daquele alpendre que festejou meio século de comunhão com a comunidade que o acolheu e que o fez idanhense, mesmo que tenha nascido em Escalos de Baixo.

O reconhecimento oficial chegou pelas mãos do presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, que lhe atribuiu a chave de ouro da vila, a primeira de sempre.

O símbolo, onde estão o brasão do município e as 13 estrelas que representam as freguesias, é uma homenagem a “um digníssimo guardião dos nossos valores e da nossa identidade cultural” e que embora não tendo nascido no concelho “é de Idanha quem gosta da Idanha e tem o coração em Idanha”, afirmou o presidente Armindo Jacinto.

Este foi um dos pontos altos da homenagem pública ao sacerdote, preparada ao longo dos últimos meses por uma comissão presidida por João Dionísio, que curiosamente tinha sido seu sacristão nesses primeiros anos na vila.

Ao pároco “devemos-lhe esta paixão, esta entrega, este amor a Idanha e ao povo do concelho de Idanha”, afirmou.

E o amor de Idanha pelo seu padre ficou expresso numa placa com o seu perfil, agora colocada à porta da capela. Lá está escrito o reconhecimento “ao sacerdote dotado de uma contagiante devoção a Nossa Senhora do Almurtão”.

É neste alpendre que residem as memórias mais queridas destes últimos 50 anos, durante a romaria e embaladas pelo som do adufe que marca o ritmo da “Senhora do Almortão”, que não deixou de ser cantada em dia de festa. Depois, houve abraços do povo, que desde a primeira hora não quis olhar de cima para baixo.

“Nós saíamos do seminário a pensar que tínhamos de pôr o povo na ordem, era assim. Vir um padre, que ao contrário, começa a calar-se, a encolher-se, que não percebe e vai dizer que não percebe e as pessoas vão ensinando, isto para esta gente foi uma revelação. E por isso a estima está aí”.

O tesouro que lhe foi apresentado há 50 anos continua humilde na quantidade de talha dourada mas ficou mais rico com a vivência das pessoas. A imagem da Senhora do Almortão convive com fitas de curso, diplomas, adufes e até um cachecol do Clube União Idanhense, todos testemunhos da devoção.

“Por aqui, num descampado, passa a vida das pessoas e das instituições. E o que é curioso é que até a malta nova que tem vindo para a escola aqui estudar percebeu o significado disto”. Ao Reconquista, Adelino Américo Lourenço diz que passados estes 50 anos não deixou obras “mas acho que deixei alguém que respeitou as pessoas e que lhes quis bem”.

BIOGRAFIA O percurso do pároco de Idanha está agora contado num livro escrito por José António Santos. Mas nem é preciso passar da capa para encontrar a síntese de uma vida. A fotografia de “Padre Adelino Américo Lourenço- Uma biografia” mostra o biografado à porta de casa, com a porta entreaberta. Uma escolha que não foi inocente e que significa simultaneamente alguém que está de porta aberta para a comunidade mas também em permanente saída para se encontrar com ela.

“A foto, a meu ver, simboliza de uma forma muito impressiva o que tem sido a vida pastoral do padre Adelino”, diz o autor da biografia, que recebeu a missão há cerca de um ano. No início do seu pontificado, o Papa Francisco pediu aos religiosos que fossem ao encontro das pessoas e fossem pastores com cheiro de ovelha. Mas para José António Santos “já há 50 anos o padre Adelino experimentou essa atividade pastoral e experimentou esse testemunho, compreendendo que a missão dele era estar com o povo, viver com o povo e viver para o povo”.

A vocação começou aos cinco anos em Escalos de Baixo, a sua terra natal, ganhando alicerces na passagem pelos seminários de Gavião, Alcains e Portalegre. Foi muito marcada pela ordenação, que teve a mão do bispo D. Agostinho de Moura, que interiorizou e pôs em prática as lições do Concílio Vaticano II (1962-1965). Sessenta anos depois, diz o autor, “é preciso voltar aos ensinamentos do Concílio Vaticano II e perceber que ainda está longe de ser rececionado pela Igreja, que ainda falta muito caminho a fazer”. E a vida do padre Adelino “resulta, muito a meu ver, da forma como ele interiorizou o Vaticano II e da forma como ele o pôs em prática na pastoral da sua vida”.

 

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